Editorial
Borracha no papel
Por Redação
19 de julho de 2020, às 10h02
Link da matéria: https://liberal.com.br/colunas-e-blogs/borracha-no-papel/
Gerir a coisa pública demanda tomar decisões capazes de afetar um sem-número de pessoas a cada dia, ora mais, ora menos. E nem sempre o responsável pela tomada de tais decisões está plenamente ciente disso, já que os efeitos de seus atos podem ser assimilados e desenvolvidos de maneira subjetiva.
Há, por outro lado, os dias que correm o risco de serem lembrados com precisão e detalhamento amargos, já que não é possível alegar que não fora avisado dos danos que uma assinatura em uma folha de papel poderia representar.
No segundo caso, encaixa-se como uma roupa feita sob medida o fim da desoneração da folha de pagamento no País. É certo que o governo de Jair Bolsonaro não poderia prever a ocorrência de uma pandemia, como a do novo coronavírus (Covid-19), quando a equipe do ministro Paulo Guedes na Economia entendeu que o melhor caminho era não seguir com esse modelo a partir de 2021.
Entretanto, manter tal decisão e acabar com a desoneração, justamente no projetado momento de “ressaca” da economia pós-pandemia, causará danos sabidos desde já: desemprego, perda de competitividade e precarização das relações do trabalho.
Como o LIBERAL explica na edição deste domingo, desde 2011 a desoneração criou a possibilidade de substituição da forma como empresários de vários ramos pagam sua alíquota patronal para a Previdência. Em vez de desembolsar 20% sobre a folha de pagamento, essas empresas passaram a ter a opção de pagar de 1% a 4,5% sobre sua receita bruta como contribuição patronal ao INSS. Em suma, uma forma de estimular a geração de empregos.
A pressão de custos sobre a produção dos setores abrangidos pela desoneração a partir do eventual fim desse recurso será um ingrediente extra no já desenhado, com letras garrafais, cenário de crise econômica. O Congresso tem agora em suas mãos a borracha capaz de assinar uma correção de rota antes entrar na correnteza.
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