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Histórias do Coração

Até breve, Buenos Aires

Se há amor, toda partida é triste; mesmo que a gente escolha ir embora, algum pedaço sempre dói

Por Carla Moro

30 de janeiro de 2022, às 10h01 • Última atualização em 31 de janeiro de 2022, às 10h44

Rosedal em Palermo, com mais de 18 mil rosas - Foto: Carla Moro

Quando vocês estiverem lendo esta coluna no domingo, eu já terei voltado para o Brasil. Esta é a quarta e última história do coração escrita na Argentina, e me despedir de Buenos Aires é como me despedir de um grande amor. Enquanto pensava sobre o que escreveria, a despedida foi o primeiro tema que apareceu. Se há amor, toda partida é triste; mesmo que a gente escolha ir embora, algum pedaço sempre dói. Mas os meus dias aqui foram felizes e é com esse sentimento que quero escrever a última coluna.

No fim de semana passado, eu viajei até Mendoza, uma cidade na região de Cuyo, conhecida pela produção de vinhos, principalmente o Malbec. Mendoza, além das mais de 1200 bodegas, têm ruas largas e repletas de plátanos, muitas praças e construções antigas. Está cercada pelas montanhas da pré-cordilheira e é quase um deserto: toda água de Mendoza é água de degelo das montanhas. Em um dos passeios, o guia turístico ia dizendo que os bons vinhos, como o Malbec produzido ali, devem ser desfrutados de três maneiras: com uma boa comida, com um bom amigo ou com um grande amor. Eu tive a sorte de, todos os dias, poder desfrutar o Malbec com, pelo menos, duas dessas opções.

Em Mendoza, como em Buenos Aires, os argentinos andam pelas ruas e pelos parques e sentam-se nos restaurantes aos pares ou em grupos animados. O vinho com certeza deixa as pessoas mais felizes e dispostas, mas não é só isso. O Malbec pode ser um incentivador, mas são as pessoas que fazem os encontros e as viagens serem mais divertidas. Para além dos corações alcoolizados, em Mendoza, como em Buenos Aires, é fácil se apaixonar.

Se as despedidas são sempre difíceis, o que nos faz querer voltar? Poderia elencar uma infinidade de motivos, vocês também enquanto me leem, mas desconfio que as lembranças boas são o motivo maior.

Em um sábado, enquanto passeava pelo Rosedal, um jardim em Palermo com mais de 18.000 rosas e um lago enorme, um casal me pediu que eu tirasse uma foto deles. Nas mãos, seguravam uma espécie de cordão com letras e números de madeira, onde era possível ler: Juan e Clara, 09/01/2018.

Descobri que eles haviam se conhecido naquele jardim naquela data. Desde então, voltavam todos os anos e tiravam uma foto no mesmo lugar. Mais do que as 18.000 rosas, mais do que o lago e a ponte e as árvores que formavam um belo cenário para as fotos, para aquele casal, o Rosedal era também lembrança boa.

Da Argentina, vou carregar o coração cheio de lembranças boas. Pude andar pelas ruas de paralelepípedos de San Telmo; comer medialunas, empanadas, carnes e alfajores de maisena; beber vinho; correr nos parques e na reserva da costanera sul, em Puerto Madero; visitar os museus, o Rosedal e os jardins.

Em uma parede de uma casa colonial de San Telmo, alguém escreveu uma mensagem, que eu traduzo livremente aqui: “Voltarei a te ver por amor, Luli”. Espero que Luli e a pessoa que escreveu a mensagem tenham se encontrado novamente naquela rua de San Telmo. Eu, como apaixonada que sou, espero te ver novamente também, Buenos Aires. Até breve.

Carla Moro

Formada em Letras pela Unesp, Carla Moro faz neste blog um registro da trajetória dos casais! Quer sugerir sua história para a coluna? Envie um e-mail para colunahistoriasdocoracao@gmail.com