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Alessandra Olivato

Dois pesos, duas medidas

Por Alessandra Olivato

27 de outubro de 2021, às 07h21

Muitos debates já alcançaram a idade de nossos avós mas nem por isso saem de pauta. Parafraseando uma frase do Exterminador do Futuro, são “velhos mas não obsoletos”. É o caso da igualdade entre homens e mulheres. Até porque há sim diferenças entre homens e mulheres e antes de achá-las boas ou ruins, certas ou erradas, elas existem. Ser feminista então não é defender a mulher a qualquer custo, mesmo quando está errada, só por ser mulher. Ou defender sempre o negro por ser negro, ou o manco por ser manco e por aí vai. Entender que comportamentos e ações justos ou errados independem dessas características é um passo à frente que precisa ser dado, não obstante toda a história no meio disso tudo.

Para ajudar a entender um conceito tão antigo como o da igualdade, sobre o qual muitos ainda não têm uma compreensão mais clara, a igualdade entre homens e mulheres pode ser analisada sob dois aspectos, o objetivo e o subjetivo.  Objetivamente, pode-se recorrer a fatos concretos como números, estatísticas, índices. Por exemplo, o índice de empregabilidade e o percentual de ocupação de cargos de liderança. Mas mesmo em relação a dados objetivos como esses a subjetividade pode influenciar, a depender da ética de cada um. Para boa parte das mulheres ocupar cargos de liderança é um valor em si, e isso é subjetivo, enquanto que é fato que uma maior igualdade social entre os sexos se alcança em sociedades em que há mais mulheres ocupando cargos de liderança em instituições importantes. Entender a diferença entre aquilo que é um dado objetivo porque oriundo de estudos e correlações concretas e aquilo que é parcial é fundamental para falar de igualdade com maior propriedade. Aliás, na verdade, é fundamental para poder argumentar mais assertivamente sobre tudo. Fecha parênteses.

Logo, podemos analisar essa igualdade subjetivamente observando tanto como uma sociedade valoriza atividades desenvolvidos por eles e por elas, quanto principalmente as sanções sociais que são dirigidas a ambos. Um comportamento do homem é visto pela sociedade de uma forma enquanto que o mesmo comportamento por parte da mulher é visto de outra forma. Vêm diversas situações à cabeça. Uma das mais corriqueiras e nítidas é a do solteiro conquistador e da solteira conquistadora (não entrarei no mérito desses tipos comprometidos). É difícil que alguém discorde que não apenas o conquistador é mais aceito socialmente como não raras vezes é positivamente valorizado – em especial por homens mas também por muitas mulheres, como admitir que a mulher com o mesmo comportamento é no geral estigmatizada.

Por outro lado, eu costumo pensar que há diferenças as quais não caberia valorizar ou desvalorizar, como a diferença de força e uma aptidão maior para fazer algo ou não fazer, embora o leque de exceções tenha aumentado a um ponto de deixarem de ser exceções: alguns homens cozinham melhor que muitas mulheres, enquanto muitas mulheres dirigem melhor que muitos homens – e não por serem mais cuidadosas, mas sim por terem maior competência técnica mesmo. Ou seja, o velho e nesse caso obsoleto argumento de que um nasceu pra isso e outro pra aquilo, mostra-se fraco nesse caso uma vez que as mudanças sociais e de costumes mostram-se mais determinantes do que uma suposta diferença de força física ou capacidade cerebral.

Apontamos então para um caminho do feminismo que ressalta que onde as diferenças físicas ou fisiológicas entre homens e mulheres não forem evidentes nem relevantes – como na capacidade de cozinhar ou dirigir, não deveria haver uma desigualdade no tratamento dado a ambos em razão do sexo físico ou do gênero, ainda que o hábito arraigado tenha estimulado um e outro a desenvolverem maiores aptidões para isso ou aquilo. Isto é, dirigir ou cozinhar bem deveria ter o mesmo valor social e serem desatrelados de sexo porque independem dele.  Porém, mesmo quando o fator diferença for mais evidente e tiver maior correlação com o sexo físico ou o gênero, como no caso da força física, não deveria ser alvo de maior ou menor valor.

Por isso não entendo mulheres que querem ser totalmente iguais a homens e que pregam uma igualdade quase irrestrita, ainda que já seja a minoria. É o tiro que sai pela culatra: seria corroborar justamente que os ofícios desenvolvidos em geral pelos homens ou até mesmo os hobbies preferidos por eles sejam mais interessantes. Quantas mulheres nas últimas décadas começaram a se interessar por futebol e a beber cerveja não porque puderam fazê-lo – o que, como conquista, é ótima e irreversível, mas sim para se adequar a um imaginário coletivo de que mulheres que gostam de futebol e tomam cerveja são mais interessantes? Pode parecer uma pergunta sem sentido para muitos, mas eu tenho certeza absoluta de que a maioria das mulheres que me lê entendeu a relativização. Indo ao ponto: que se tome cerveja e assista futebol se é isso que gosta e também para agradar, mas não se for apenas para se adequar.

Deixando um pouco de lado a questão da moral e dos bons costumes que varia muito para cada um, o que está em discussão é a existência de um juízo desigual para homens e mulheres. Pois, em tese, uma pessoa com uma moral conservadora mas de cultura igualitária desmereceria tanto o conquistador quanto a conquistadora, sem diferença. E uma pessoa libertária e igualitária aceitaria o conquistador e conquistadora igualmente.  Simples assim. O resto é bom senso e as escolhas de cada um.

A igualdade entre homens e mulheres é um tema antigo e por vezes já até entediante mas não por ser desinteressante, e sim porque a legitimação do seu oposto, a desigualdade, é teimosa e persistente.     

Alessandra Olivato

Mestre em Sociologia, Alessandra Olivato aborda filosofias do cotidiano a partir de temas como política, gênero, espiritualidade, eventos da cidade e do País.