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Alessandra Olivato

Desejo de status

No livro que leva o nome deste artigo, Alain de Botton utiliza-se de conhecimentos como filosofia e história da arte para escrever sobre temas comuns à maioria de nós

Por Alessandra Olivato

22 de setembro de 2021, às 07h21 • Última atualização em 22 de setembro de 2021, às 07h22

O nome do artigo de hoje é o título de um livro do escritor suíço Alain de Botton, que completará apenas 52 anos esse ano. Um de meus autores favoritos, Botton utiliza-se de conhecimentos como filosofia e história da arte para escrever sobre temas comuns à maioria de nós com uma abordagem original e cativante.

Nesse livro incrível, Alain fala sobre um sentimento muito comum hoje em dia e causador de uma ansiedade generalizada: o desejo inconfesso por status que aflige boa parte da sociedade contemporânea; um temor constante de não sermos reconhecidos como pessoas bem-sucedidas, sendo portanto identificados como pessoas comuns ou, ainda pior, “perdedores”. Certamente o desejo de status não é exclusividade das sociedades modernas, mas podemos dizer que a ansiedade quase dramática que ele alimenta é digna de nota.

Na raiz do desejo de status e na busca frenética por ele encontrar-se-ia, segundo Botton, algo além do simples anseio por reconhecimento de sucesso, riqueza e prestígio: seria o desejo em ter de volta aquele amor e complacência gratuitos que recebíamos quando bebês ou crianças simplesmente por termos um par de bochechas rosadas e pés gordinhos. Afinal, e aqui são minhas especulações, que mudanças podem ser tão impactantes quanto a de sermos amados na primeira parte de nossas vidas justamente por sermos sinceros e falarmos tudo o que pensamos para, com o passar do tempo, sermos quase banidos socialmente se agirmos da mesma forma? Por que uma criança sincera é engraçada e fofa e um adulto sincero é um horror? Devaneios.

 O livro é dividido em duas partes e é falando da busca pelo amor que o autor inicia a primeira, explicando o que poderiam ser tomadas como as cinco principais causas do desejo de status: a falta de amor, o esnobismo social, as elevadas expectativas que temos, a meritocracia e a dependência de fatores externos – não poucas vezes alheios à nossa vontade e, principalmente, controle – para a conquista do sucesso profissional.

A opção por si só em tratar dessa forma o tema já me parece fantástica, pois que original. Uma escolha não à toa, haja vista que a grande maioria de nós ficará sem nenhuma medalha na corrida por ostentação de uma sociedade que luta com afinco para manter as aparências, importando menos até ser bem-sucedido ou ter prestígio do que parecê-lo; uma busca que  pode custar bem caro nas palavras do autor: “Movidos por ela, arriscamo-nos a nos conformar aos ideais de sucesso estabelecidos pela sociedade. Como resultado, podemos perder o respeito próprio e a dignidade.” Tenho certeza que a maioria de nós identifica facilmente essa experiência social considerando-se a força que descuidadamente atribuímos, com o passar do tempo, ao direito de sermos cobrados por aquilo que não somos. O que é uma pena já que as referências de status mudam a cada estação e a cada novo modismo.

Na segunda parte do livro, depois da crítica aguçada e ao mesmo tempo simpática às causas e consequências nefastas do desejo por status, Alain de Botton enumera o que podem ser cinco remédios para “curar” esse desejo: a filosofia, a arte, a política, a boêmia e o cristianismo, hábitos e ideologias que, se bem usados, podem ser armas poderosas para se livrar do inútil sentimento por status e por agradar a todos. Afinal de contas e como muito bem sabemos ninguém é amado por todo mundo e há muita gente solitária por ter procurado o amor em lugares errados.

O humilde resumo e a propaganda gratuita não fazem juz ao livro, embora eu seja suspeita quando se trata do autor. Recomendo todos os seus livros e esse certamente vale muito a pena.

Alessandra Olivato

Mestre em Sociologia, Alessandra Olivato aborda filosofias do cotidiano a partir de temas como política, gênero, espiritualidade, eventos da cidade e do País.