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Alessandra Olivato

A maior arte

Feita de ritmo, harmonia e melodia, pode-se dizer que a música faz parte da narrativa de vida de todo ser humano

Por Alessandra Olivato

09 de fevereiro de 2022, às 08h35 • Última atualização em 09 de fevereiro de 2022, às 08h36

A arte já foi definida por um famoso autor contemporâneo como uma das cinco “curas” ao desejo de status do ser humano, sentimento responsável por ansiedades indisfarçáveis e, em alguns até, causa de grande incômodo psicológico. Dentre todas as artes, entretanto, podemos dizer que há certo consenso de que a música é a mais popular de todas, provavelmente por ser a mais impactante, capaz de nos fazer superar um dia difícil, de nos arrancar sorrisos inesperados ou ascender a um estado de espírito elevado. Feita de ritmo, harmonia e melodia, pode-se dizer que a música faz parte da narrativa de vida de todo ser humano. Quer dizer, se todos pudéssemos contar a história toda de nossa vida, dificilmente não haveria ao menos uma citação musical que tenha marcado uma fase ou ao menos um momento.

Quem já não teve um dia que começou meio torto ou que não se desenrolou muito favoravelmente e que não foi supreendentemente aliviado porque ouviu uma das músicas preferidas ao ligar o rádio do carro? Quantos corações partidos não tiveram a chance de chorar para aliviar um pouco a dor com as mais clássicas baladas românticas? Algumas chegam a ser tão lindas que consegue fazer esquecer da dor por alguns momentos. Quem já não retomou a resiliência ou teve sua determinação reforçada ao ouvir alguma vez “Apesar de você amanhã há de ser outro dia!” Quantas músicas unem laços de casais e sentimentos de ex-namorados em todo o mundo? Quantas amizades não se iniciaram porque as pessoas descobrem o mesmo gosto musical?  Afinal, a música reflete muito da cultura de uma pessoa, de uma sociedade, de uma época. Ao descobrirmos o mesmo gosto musical do outro de imediato antevemos outras coisas em comum ou se nem tanto, só o gosto musical já é importante. Embora não impossível, é difícil um roqueiro ir de bom gosto a um forró ou a um show de sertanejo universitário, improvável para apreciadores do sertanejo frequentarem show de rock, bem como para um admirador da música clássica ir a uma festa funk. Bom, mas aí também, é difícil pra muita gente.

A música provoca vários estados de espírito que simplesmente nos deixa melhor. A cada cultura, sua preferência, a cada momento e contexto a mais adequada. O que pode ser melhor para filosofar com um amigo no bar e rir dos próprios dissabores ao som de um bom jazz ou blues? Só quem já foi a um grande show de rock sabe explicar a alegria e a energia de todo mundo pulando e cantando junto aquela barulheira. Uma deliciosa e única descarga de dopamina e endofirna no corpo. E a alegria contagiante de um bom samba?

Quando ouço uma balada romântica de Stevie Wonder ou a voz profunda de Etta James, as versões de Ella Fitzgerald e Janis Joplin para “Summertime” ou o trecho “E basta contar compasso, e basta contar consigo, que a chama não tem pavio” na voz de Lô Borges, sinto-me mais perto de Deus. Ou sei lá, confundo a própria perfeição das canções com a minha ideia de Deus. Eu já passei boas horas da minha vida pensando em uma pergunta sem resposta: como pode existir e ter existido milhares, talvez bilhões de canções com apenas sete notas musicais? Só esse enigma já me faz achar a música algo incomparável.

Que me perdoem os pintores, escultores, artesãos e outros ofícios artísticos igualmente admiráveis, mas a música não apenas muda nosso estado de espírito, ela une, nos aproxima, nos define. Como bem disse Paul McCartney “Eu acredito que a música pode curar.” Mas para mim a melhor definição de música foi dada por Sting há muitos anos atrás, quando lhe perguntaram “E o que é a música?” E a resposta: “A música é um mistério, porque ela não tem fim.”

Alessandra Olivato

Mestre em Sociologia, Alessandra Olivato aborda filosofias do cotidiano a partir de temas como política, gênero, espiritualidade, eventos da cidade e do País.