Pelas Páginas da Literatura
A doença como personagem na literatura
Doenças reais ou imaginárias foram usadas por diversos autores como metáforas; veja uma lista com 5 livros
Por Marina Zanaki
18 de novembro de 2020, às 09h08
Link da matéria: https://liberal.com.br/colunas-e-blogs/a-doenca-como-personagem-na-literatura/
Uma doença atinge a humanidade, deixando um rastro de desastre atrás de si. Parece uma sinopse do ano de 2020, mas esse argumento já foi usado muitas vezes na literatura.
As doenças foram exploradas de diversas formas e por diferentes autores, revelando os efeitos menos óbvios desse fenômeno dentro de uma comunidade, seja a nível mundial ou em microcosmos.
Esses livros que listei abaixo trazem, cada um à sua maneira, a doença como personagem. Mais do que um agente de efeitos sociais, essas doenças (reais ou imaginárias) também podem ser entendidas como metáforas dentro das obras.
Do amor e outros demônios, Gabriel Garcia Márquez: Ninguém nunca soube o que fazer com a pequena Sierva Maria Todos los Ángeles. A partir do momento em que a criança é mordida por um cachorro e corre o risco de ter contraído raiva, essa rejeição fica evidenciada, e ela é jogada de um lado para o outro, nunca compreendida. Nessa incrível obra do colombiano, a raiva pode ser entendida como uma metáfora para o amor e a carência.
Caixa de pássaros, Josh Malerman: Esse best-seller acompanha o mundo entrando em colapso diante de uma estranha doença que provoca suicídios em massa. Esse comportamento é desencadeado pela visão de algumas criaturas misteriosas que nunca são descritas no livro. Com final bastante sombrio, esse livro deixa no ar a dúvida: o que essas criaturas invisíveis simbolizam?
Ensaio sobre a cegueira, José Saramago: Uma cegueira branca cai sobre os olhos das pessoas, e o leitor acompanha a degradação da humanidade pela visão de uma personagem que permanece enxergando. Perturbador, esse livro dispensa apresentações e é talvez uma das mais complexas reflexões na literatura usando a doença como personagem.
Desesperados, Paula Fox: Sophie leva uma mordida de um gato de rua que tentava ajudar, e esse pequeno incidente desencadeia uma torrente de situações que vão expor as fissuras de seu casamento com Otto. Durante todo o livro, paira a ameaça de que a personagem possa ter contraído raiva. Os comportamentos do casal em relação a isso acabam revelando, na verdade, como eles lidam com seus problemas em comum.
A vegetariana, Han Kang: O livro coreano acompanha a história de Yeonghye, uma mulher que decide nunca mais comer carne. Depois dessa decisão, que não é bem aceita pela família, ela começa a adotar comportamentos cada vez mais estranhos. Por fim, suas transformações fazem com que ela seja classificada como uma pessoa com doença mental e Yeonghye é internada. Essa “doença” da protagonista pode ser lida de forma metafórica como uma grande recusa – à violência, à submissão e aos abusos que sofreu ao longo da vida.
Repórter do LIBERAL, a jornalista Marina Zanaki é aficionada pela literatura e discutirá, neste blog, temas relacionados ao universo literário.