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Economia no dia a dia

A desigualdade e o vírus

Por Marcos Dias

21 de abril de 2020, às 11h58 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h59

A desigualdade econômica e social é um fator presente em diversos países, e que mostra as falhas de um sistema econômico que, em essência, busca a igualdade de condições de vida para as pessoas. Mas é em situações extremas como nas guerras ou pandemias, que essa desigualdade mostra sua face mais cruel.  

Um relatório da OMS (Organização das Nações Unidas), divulgado na última semana com o título de “Impacto Social da Covid-19” discute, entre outros pontos, as consequências da desigualdade social diante da pandemia atual, em diversos países.

Esse relatório mostra que as consequências da pandemia são diferentes para os mais pobres e os mais ricos, e que a taxa de mortalidade também é diferente.

No caso brasileiro, onde a desigualdade social e econômica é, como se sabe, extremamente elevada, as consequências podem ser devastadoras! Dados da Prefeitura de São Paulo têm mostrado que as mortes pelo vírus têm crescido e se concentrado nos bairros mais pobres da cidade. Nos bairros das Zonas Leste e Norte paulistanas se concentram o maior número de mortes, apesar de não concentrar o maior número de casos. Ao contrário, os casos de contaminação se concentram nas regiões dos bairros mais ricos, como Morumbi, Vila Mariana e Jardim Paulista, por exemplo, onde o número de mortos é menor.  Isso é explicado pela facilidade de acesso, pelos mais ricos, aos serviços de saúde (geralmente privados). A prefeitura aponta que a concentração de UTIs está no centro da cidade. Além disso, quem usa a saúde privada tem 5,8 mais leitos de hospitais por habitante do que aqueles que dependem do SUS.

Mas a situação poderá ser pior! Com a retomada das atividades comerciais, dos serviços e consequente redução do isolamento, os pobres podem ficar ainda mais expostos e vulneráveis. São eles os vendedores das lojas, atendentes de consultórios, enfermeiros, balconistas dos bares e lanchonetes, vendedores ambulantes, entre outros, que passarão a atender diretamente a população e se contaminarão com maior facilidade. Soma-se a isso o fato dessas pessoas morarem em regiões distantes do local de trabalho, e serem obrigadas a se locomoverem em ônibus e trens lotados. Portanto, poderemos ter uma situação catastrófica!

Marcos Dias

Conteúdo desenvolvido pelo economista e professor de economia da Fatec (Faculdade de Tecnologia) de Americana, Marcos Dias.