Pelas Páginas da Literatura
100 anos de Clarice Lispector
Se estivesse viva, a escritora completaria 100 anos nesta quinta-feira; veja a indicação do conto “Amor”
Por Marina Zanaki
10 de dezembro de 2020, às 09h45
Link da matéria: https://liberal.com.br/colunas-e-blogs/100-anos-de-clarice-lispector/
Clarice Lispector me intimidava. Para além das frases de efeito atribuídas a ela nas redes sociais, a autora é conhecida por sua escrita original e profunda. As sinopses dos livros vendiam uma escritora difícil, com tramas herméticas, e eu tinha medo de não entender nada.
O que as sinopses não contavam era que Clarice fala sobre os sentimentos e pensamentos mais pessoais, coisas que todo mundo conhece no seu mundo interior.
Acho que ler Clarice é semelhante a olhar para uma instalação artística. Só passar os olhos não é suficiente, é preciso se envolver, questionar o que os elementos significam e estar atento ao diálogo pessoal que a a arte estabelece com a nossa própria história de vida.
No centenário do nascimento de Clarice Lispector, comemorado nesta quinta-feira, deixo uma sugestão de um conto para quem ainda não leu a autora. História curta, “Amor” é uma boa porta de entrada para o universo da escritora.
O conto acompanha um dia na vida de uma mulher, dona de casa de classe média, que sente o equilíbrio de sua vida oscilar ao ver um cego mascando um chiclete, “como se olha o que não nos vê”.
Esse momento desencadeia uma crise na personagem, que passa a questionar suas escolhas de vida e sua “função” de mulher. Mesmo partindo de um acontecimento tão trivial, o leitor acompanha toda a trajetória emocional percorrida pela personagem.
O conto é aberto a interpretações sobre seu significado, e acredito que estabelece um diálogo particular com cada leitor. Contudo, é impossível ler e não sentir o desconforto da personagem ao se dar conta que escolheu abrir mão do mundo, com todas suas belezas e feiuras, para se trancar em um papel pré-determinado.
A história faz parte do livro Laços de Família, coletânea com 13 contos da escritora lançado em 1960.
Repórter do LIBERAL, a jornalista Marina Zanaki é aficionada pela literatura e discutirá, neste blog, temas relacionados ao universo literário.