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Notícias que inspiram

Voluntariado: herança passada de pai para filha, benesse para todos!

Casa de Apoio da Instituição Antonio Garcia já acolheu mais de duas mil pessoas

Por Jucimara Lima

15 de agosto de 2022, às 07h56 • Última atualização em 15 de agosto de 2022, às 07h57

Maria Irene e Fregatti mostram dois artesanatos que eles produzem para o projeto - Foto: Junior Guarnieri - Liberal.JPG

A fundadora da Casa de Apoio da Instituição Antonio Garcia, Maria Irene Garcia De Nadai, 74 anos, nem se lembra ao certo quando fez o seu primeiro trabalho voluntário, contudo, tem certeza que a inspiração veio dos pais, os saudosos, Isabel Álvares Garcia e Antonio Garcia, que desde sempre mostraram através do exemplo a importância de se doar a quem precisa. “Minha mãe ajudava a costurar os véus e travesseiros do hospital da minha terra, meu pai doou as portas desse mesmo hospital. Ele fazia parte dos Vicentinos e, mesmo após nos mudarmos para Sumaré, além de contribuir com as instituições da cidade, ele continuou ajudando as entidades de nossa região de Presidente Bernardes, onde nossa família, junto com mais três famílias, são fundadoras da cidade.”

A vinda para Sumaré, em janeiro de 1975, acabou trazendo praticamente toda a família para cá, com exceção do irmão caçula, que na ocasião era delegado no Paraná. “Meu marido, José Roberto De Nadai (em memória), foi transferido e nós viemos juntos. Ele sempre foi um grande companheiro de vida e de missão, que abraçou as minhas causas, foi meu amigo, meu irmão. Cuidou dos meus pais e me ajudou a fundar a Casa de Apoio”, emociona-se.

Maria Irene e Fregatti mostram dois artesanatos que eles produzem para o projeto – Foto: Junior Guarnieri – Liberal.JPG

Muito independente, inicialmente Maria Irene, que chegou a ingressar no curso de direito, mas por ser mulher, foi “aconselhada” a parar, por conta da era militar, também cursou letras e pedagogia e, quando veio para região, foi transferida para Monte Mor. Para a Prefeitura de Sumaré, ela atuou por 11 anos e ajudou a fundar as antigas Emeis. Em 1995, ela se aposentou na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e foi trabalhar na primeira faculdade da cidade. Sempre muito atuante na sociedade, também exerceu um mandado de conselheira tutelar. “Acho que trabalhar com a educação foi um dos meus maiores voluntariados”, brinca.

Quando a mãe foi diagnosticada com Alzheimer e a idade do pai estava bem avançada, encerrou as atividades para se dedicar a eles. “Fui cuidar de meus pais e, em um intervalo de poucos meses, meu mundo desmoronou. Perdi meus pais e meu querido e único irmão.”

Morte e Vida. Seu Antonio Garcia faleceu em 27 de julho de 2001, no Hospital Estadual de Sumaré. Na noite que antecedeu sua partida, Maria Irene estava com ele na unidade de saúde, quando viu uma ambulância estacionando. Na sequência, ela avistou uma pessoa descendo e atravessando a rua. “Naquela época, julho era marcado por temperaturas muito baixas e aquela seria a noite mais fria do ano. Fiquei preocupada, liguei para o meu marido e pedi para ele trazer um cobertor e uma garrafa de café. Notamos que só aquilo não seria suficiente para esquentar a pessoa. Aqui, nessa região não tinha nada, era quase tudo mato. Acabei pedindo para o diretor do hospital permitir que ele ficasse no espaço. Na manhã seguinte decidi que iria montar a Casa de Apoio e, após sete dias, conversei com a Maria Jacobucci, que era ouvidora e ela disse que a ideia vinha de encontro com o que ela já pensava. Era o que me restava para continuar a vida. Então, no dia que meu pai morreu, nasceu a Casa. Em 13 de setembro de 2001, alugamos uma casinha duas ruas para baixo e pouco depois locamos outra, dividindo entre homens e mulheres. Naquelas casas germinadas ficamos durante mais de 10 anos”, recorda.

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Nova Sede. As casinhas ficaram pequenas para acomodar o tamanho do projeto. Em uma de suas gestões, o ex-prefeito José Antonio Bacchim fez uma concessão do terreno onde hoje está localizada a nova sede, exatamente na lateral do hospital. “A concessão permite o uso do terreno por 50 anos, inclusive, podendo ser renovada por mais 50. Claro, nós tínhamos o prazo para começar a obra. Curiosamente, quando assinamos, havia apenas R$ 370 em caixa e a obra estava orçada em cerca de R$ 700 mil. Hoje, não faríamos uma estrutura dessas com menos de R$ 1 milhão”, afirma o atual presidente, Laércio Fregatti, 59 anos.

A fundadora recorda que, no começo, eles faziam de tudo e até vendiam copos de requeijão para arrecadar fundos. Além disso, ela pintava tubinhos de filme fotográfico e distribuía com recadinhos para que as pessoas colaborassem, uma maneira que ela encontrou de fazer propaganda da casa.

Além disso, durante muito tempo, todos os eventos promovidos pelo Lions de Sumaré eram revertidos para a construção. Segundo Fregatti, a Acias (Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Sumaré) também foi de grande ajuda. Já Maria Irene faz questão de ressaltar dois grandes apoiadores. “Devemos muito ao Pró-Vida, que assumiu praticamente toda a construção, assim como a Honda, que sempre doou muito”, reconhece.

Atualmente, a sede da instituição conta com 24 leitos, sala, brinquedoteca, copa, cozinha, além de cinco banheiros e uma suíte para casais. “Como o hospital é uma referência em UTI Neonatal, muitas vezes recebemos casais que esperam pela alta de seus bebês”, explica Fregatti.

Mesmo sendo difícil de contabilizar, estima-se que ao longo dessas duas décadas mais de 2 mil pessoas, vindas de vários lugares do Brasil (já receberam até índios), tenham recebido acolhimento na casa, que oferece teto, alimentação e acalento. Atualmente, além de Maria Irene e Fregatti, mais de 45 pessoas atuam como voluntários no projeto, que não conta com nenhuma verba pública.

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