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Vivendo nas nuvens: a história de uma americanense que se tornou piloto de avião
Isabella Cardoso, de 34 anos, conta sobre as mudanças na carreira que a fizeram chegar aonde está hoje
Por Jucimara Lima
02 de setembro de 2024, às 09h25 • Última atualização em 02 de setembro de 2024, às 09h26
Link da matéria: https://liberal.com.br/cidades/sumare/vivendo-nas-nuvens-a-historia-de-uma-americanense-que-se-tornou-piloto-de-aviao-2245396/
O primeiro voo que a americanense radicada em Sumaré Isabella Moura Cardoso, de 34 anos, fez foi ainda na infância, quando costumava viajar para disputar campeonatos de judô pelo Brasil.
Naquela época, nem em seus sonhos mais inusitados poderia imaginar que viveria profissionalmente com a cabeça nas nuvens, ao se tornar uma copiloto, com um longo currículo que vai desde pilotar pequenos aviões particulares até aeronaves cargueiras que transportam mais de 50 toneladas a vários destinos da América Latina.
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Atleta de destaque no início dos anos 2000, Isabella chegou a disputar campeonatos internacionais.
A ex-atleta começou no esporte aos 6 anos, na escolinha do Centro Cívico, em Americana. “Aos 15 anos meu treinador falou que não tinha mais condições de continuar me mantendo em evolução.”
Partida
A partir dali, ela se mudou para São Paulo, onde foi uma das integrantes do Projeto Futuro, uma iniciativa do governo federal que mantinha jovens promessas em alojamentos, vivendo uma rotina focada em treinos e estudos. “Só voltava para casa aos finais de semana e precisei abrir mão de muitas coisas”, pontua.
Sempre evoluindo, a faixa preta em judô chegou a alimentar o sonho olímpico. Contudo, três cirurgias nos joelhos a fizeram se distanciar do objetivo. “Não posso dizer que só isso me tirou do esporte, porque quando você tem um sonho, você passa por cima. Eu, na verdade, já estava cansada”, reflete.
Ainda assim, o envolvimento com o esporte a conduziu para a faculdade de fisioterapia. “O judô me trouxe muitas oportunidades, e sou muito grata. Ele me abriu as portas da faculdade, porque tinha bolsa esporte. Além disso, sempre me deu disciplina, foco, entre outros incontáveis benefícios.”
Depois de formada, Isabella emendou uma pós-graduação, época em que percebeu que não era o caminho que desejava seguir.
“Eu tinha só 23 anos e, até então, sempre tinha seguido dentro do esporte. Precisava tomar duas decisões que me distanciariam do que sempre foi um porto seguro para mim: deixar o esporte e desistir da fisioterapia, que de certa maneira me manteria ligada à área, porque, até então, a ideia era tratar atletas.”
Novos voos
Em março de 2012, Isabella pousou em Americana, com o objetivo de traçar uma nova rota para sua vida. “Eu ficava pedindo a Deus que me mostrasse o caminho. Eu tinha em mente que, mesmo precisando ganhar dinheiro, queria ter satisfação e a certeza de estar no lugar certo.”
Um dia, conversando com uma amiga de infância, Isabella foi convidada a fazer um curso de piloto na Escola de Aviação Sierra Bravo, que fica dentro do Aeroporto Municipal de Americana.
“Ela estava fazendo e disse que era a minha cara. Na hora, achei uma loucura, mas como não tinha a menor ideia do que fazer, decidi tentar.”
A americanense se recorda que a primeira sensação foi um misto de êxtase e preocupação. “Foi assustador, porque sempre fui muito metódica com estudos e treinamentos, e como era muita informação, muitos itens para checar, achei que talvez não fosse conseguir acompanhar.”
Ainda assim, ela se lançou nos estudos e aos poucos se apaixonou pela aviação. Tanto que, apenas seis meses depois, já estava formada como piloto privado. “Esse primeiro curso permitia pilotar avião particular, mas não profissionalmente. Depois, fiz o curso de piloto comercial e instrutor de voo.”
Outros destinos
Segundo a jovem, como os cursos possuem alto custo, especialmente a hora de voo – item obrigatório para conquistar as formações – ela dava aulas de judô para pagar os estudos. “Minha família não tinha condições, então, mais uma vez o judô me ajudou.”
Após passar por um período no administrativo da escola e até como instrutora de voo para jovens aspirantes, Isabella aplicou para uma vaga na Azul Linhas Aéreas. Em 2019, começou na companhia, onde ficou até 2023. “Viajava o Brasil, fazendo as capitais, mas também fazia algumas viagens internacionais.”
Em 2023, voltou a participar de um processo seletivo e foi selecionada. “Atualmente, digo que tenho o melhor emprego do Brasil. Sempre sonhei em trabalhar na LATAM e todo mundo da nossa área admira a companhia.”
“Ninguém é obrigado a passar a vida fazendo o que não gosta. Não importa o tempo que leve. Não importa quem você seja, ou que posição ocupe. Se precisar descer um pouco do pedestal para depois subir degrau a degrau, faça. Vá e vá na fé. Com certeza, não irá se arrepender”
Isabella Moura Cardoso, copiloto de avião
Atualmente, Isabella é copiloto em uma das três aeronaves cargueiras da companhia e sonha um dia se tornar comandante. “Ambos são pilotos e passam pelo mesmo processo. A diferença é que o piloto, impreterivelmente tem mais experiência e, mesmo sendo tudo discutido com o copiloto, a responsabilidade final sobre tudo que acontece é do comandante.”
Quase uma veterana na aviação, a americanense conta que, quando começou, em 2012, o número de mulheres pilotando aeronaves era bem menor, mas que hoje está em uma ascendente.
“Existia uma mística de que mulher não podia. Lembro que, quando era piloto comercial, ao final, quando ia me despedir dos passageiros, alguns se surpreendiam com o fato de eu ser mulher, contudo, nunca foi algo pejorativo”, comenta. “A verdade é que o processo é o mesmo e o salário também”, diverte-se.
Para a Isabella, ter tido a coragem de mudar de vida, mesmo com uma rota tão bem traçada, foi o que garantiu sua satisfação profissional. “Sou realizada, graças a Deus e a minha coragem. Caso contrário, estaria até hoje trabalhando numa profissão que eu não tinha o menor desejo de estar”, finaliza.