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Saúde

Pacientes morrem no aguardo por transferências

Familiares de pacientes de Sumaré entram na Justiça para tentar obrigar administração e o Estado a realizarem as ações adequadas

Por Marina Zanaki

02 de fevereiro de 2021, às 08h27 • Última atualização em 02 de fevereiro de 2021, às 13h05

Com queimaduras no corpo, vítimas foram encaminhadas para o Pronto Atendimento Macarenko - Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Com os hospitais de referência lotados e sem conseguir transferência por meio da Cross (Central de Regulação de Ofertas e Serviços), famílias têm apelado ao Ministério Público para tentar conseguir o tratamento de pacientes em Sumaré.

Somente em janeiro, familiares de seis pacientes que deram entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Macarenko ingressaram na Justiça para tentar obrigar o Estado de São Paulo e a Prefeitura de Sumaré a fornecerem o tratamento adequado.

Cinco eram suspeitos do novo coronavírus (Covid-19) e uma paciente estava em tratamento de câncer. Quatro desses pacientes não resistiram e morreram, três deles na UPA e um transferido após a família pagar por um hospital particular.

Um dos pacientes que morreu à espera de uma vaga foi Dernival da Silva, de 66 anos. Ele deu entrada em 8 de janeiro, e a decisão obrigando o fornecimento de uma vaga foi obtida no dia 14, mesmo dia em que ele morreu. Dernival havia testado positivo para o novo coronavírus.

A cuidadora de idosos Rita de Cássia Ferrari da Silva, 39 anos, disse o pai foi intubado na UPA e precisava realizar hemodiálise, tratamento que o local não possui estrutura para oferecer.

“Lutei, lutei, e lutei para tirar meu pai dali e não consegui. Não é falando mal do lugar, cada um fez o que pôde, chegou a hora dele e Deus recolheu. Mas é uma vergonha não poder transferir seu pai para um hospital melhor”, lamentou Rita.

Mesmo com decisão judicial obrigando a transferência, o paciente Sérgio Baptista de Alcântara, de 53 anos, não conseguiu a vaga de UTI. Após mais de 10 dias de a decisão judicial não ser cumprida, a família fez uma rifa e pagou pela transferência do paciente a um hospital privado de Campinas. Sérgio aguentou por 24 horas na unidade e faleceu no dia 17 de janeiro. A internação custou à família R$ 20 mil.

Viúva do paciente, a consultora Neiva de Carvalho de Alcântara, 48 anos, pretende mover uma ação para cobrar os responsáveis pela perda do marido. “Isso não pode ficar impune, isso tem que ser visto, enxergado. São vidas que estão sendo ceifadas”, disse ela.

Sérgio era tratado como um caso suspeito de Covid-19, mas segundo Neiva testou negativo para a doença.

RESPOSTAS. A Secretaria de Estado da Saúde justificou que a Cross auxiliou na busca de vaga para todos os casos citados. A pasta indicou que duas pacientes conseguiram ser transferidas – em um dos casos, o LIBERAL mostrou a briga da família por uma vaga, conseguida somente após a reportagem questionar o Estado sobre o caso.

No caso de dois pacientes, incluindo Dernival da Silva, a Secretaria de Saúde justificou que as vagas surgiram, mas que eles não puderam ser transferidos devido à “gravidade e a instabilidade clínica”. A filha de Dernival rebateu e disse que não foi informada.

Em relação ao paciente Sérgio Baptista, a Secretaria de Saúde disse que o serviço de origem não atualizou devidamente o quadro clínico. “Essas informações são cruciais para garantir que a transferência ocorra para hospital apropriado e, sobretudo, para a segurança do paciente em regulação”, finalizou a pasta.

A Prefeitura de Sumaré disse apenas que possui 30 leitos na UPA Macarenko para pacientes com dificuldades respiratórias e que os casos graves são inseridos na Cross.

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