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Missão

Empresa de Sumaré levou oxigênio ao Amazonas durante a crise no mês passado

Como foi levada até Manaus uma carga para salvar vidas em meio ao colapso do sistema de saúde

Por Marina Zanaki

14 de fevereiro de 2021, às 09h04 • Última atualização em 14 de fevereiro de 2021, às 09h05

No mês passado, o caminhoneiro Roberto Otaviano entregou a carga mais preciosa de sua vida profissional, de 33 anos: oxigênio para hospitais em Manaus. O transporte se deu diante de uma emergência de repercussão mundial, o colapso do sistema de saúde na capital do Amazonas por conta da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

A carga de 160 mil metros cúbicos de oxigênio, retirada em Mauá, na Grande São Paulo, foi levada para a cidade amazonense por uma transportadora de Sumaré, a IC Transportes, no mês passado.

Carga de oxigênio líquido chega a porto em Manaus, após dias de viagem pelo País – Foto: Edmar Barros / Futura Press / Estadão Conteúdo

Em janeiro, a empresa foi acionada por um cliente, a Air Liquide, para realizar a entrega de uma compra feita pelo governo federal. Experiente no transporte de líquidos e gases, a IC Transportes montou uma logística especial para conseguir entregar a carga no menor tempo possível diante da urgência. A falta de oxigênio em hospitais na capital do estado
levou à morte de vários pacientes em janeiro.

A carga foi entregue no dia 24 do mês passado, após quase 4 mil quilômetros percorridos, oito carretas rodando praticamente 24 horas por dia e 52 motoristas envolvidos na ação.

Trajeto da esperança – Foto: Editoria de Arte / O Liberal

Para agilizar o transporte e fazer os caminhões rodarem sem descanso, a transportadora colocou motoristas ao longo de todo o trajeto para assumir a direção. Assim, cada um trabalhava o tempo máximo permitido pela legislação e entregava o caminhão ao próximo profissional, que seguia a viagem.

O esquema estava previsto até a cidade de Porto Velho, capital do estado de Rondônia. De lá, o oxigênio líquido seguiria por balsas para Manaus. Contudo, com o objetivo de agilizar a entrega, ficou decidido que o percurso final seria feito por terra. Os caminhoneiros pegaram então a BR-319, considerada a pior estrada federal do País. Roberto Otaviano foi um deles.

A pista da BR-319 tem a parte central sem asfalto, somando mais de 400 quilômetros de incontáveis atoleiros. A época da viagem ainda coincidiu com o período crítico de chuvas. No primeiro dia da travessia eles conseguiram cumprir 30 quilômetros em 16 horas.

O trajeto completo, estimado em 36 horas de viagem, levou quatro dias diante das dificuldades.

“Com todos os anos de profissão, hoje coordenador de motorista, nunca tive uma experiência dessa, nunca sonhei passar por isso. Transportar uma carga de açúcar, adubo, óleo diesel, gasolina, se não tem, espera chegar. Mas um oxigênio, que sabe que as pessoas estão esperando para respirar e sobreviver, a responsabilidade é muito grande”, contou Roberto ao LIBERAL.

Na BR-319, caminhões chegaram a atolar pela má qualidade da estrada – Foto: Divulgação

Vice-presidente da IC Transportes, Ivan Luis Camargo relatou à reportagem que a urgência da situação foi determinante na decisão pelo
caminho mais difícil.

“A gente entendia que cada dia podia significar salvamento de vidas. Foi uma decisão difícil porque sabia da condição adversa que iam enfrentar, tenho muito a agradecer ao time que topou esse sacrifício. Sabíamos o que um dia poderia significar para muitas famílias”, explicou.

As carretas foram escoltadas pela Polícia Federal e pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes), que deram apoio aos motoristas nos trechos críticos do caminho. O Dnit chegou a utilizar duas retroescavadeiras, para desatolar os caminhões, e máquinas acompanhando o trajeto, para tornar a via trafegável.

A Polícia Federal fez a escolta e cuidou para que não viesse nenhum veículo no caminho oposto durante o trajeto. Sem esses trabalhos, Roberto não acredita que fosse possível vencer a estrada.

Roberto disse que só teve a dimensão da responsabilidade do serviço quando percebeu a escolta policial pela BR-319.

“Aí caiu a ficha que Manaus estava precisando mesmo. Dali para frente a gente não mediu esforços, tudo que podia fazer para chegar logo, cada hora que perdia, eram vidas que estavam morrendo. Isso vinha muito na cabeça”, revelou o caminhoneiro.

Nesse período, a equipe dormia em acampamentos, comia marmitas e corria contra o tempo. “Para falar a verdade, a gente comia quando o caminhão atolava e esperava a máquina puxar”, lembrou Roberto.

O oxigênio chegou em Manaus ao meio-dia de 24 de janeiro, onde era aguardado ansiosamente. “Quando chegamos, vimos que a necessidade era grande, foi até uma emoção, pessoas agradecendo na rua a mim e aos outros motoristas”, lembra Roberto.

MISSÃO
O oxigênio foi levado nos tanques dos caminhões da IC Transportes em forma líquida, para abastecer os hospitais em Manaus. Dessa forma, o produto tem um maior rendimento em relação ao formato gasoso, nos cilindros de oxigênio.

O vice-presidente da IC definiu o transporte da carga, com todas as dificuldades e urgência, como uma verdadeira missão.

“Em um momento desse a gente vem buscando atender hospitais da melhor forma possível, minimizar os impactos do consumo de oxigênio, colocando caminhões adequados, motoristas. Esse trabalho foi de encontro com nossos valores, uma missão dessa. Por isso, não medimos esforços para cumprir da melhor forma. Agradecemos de forma especial o apoio do nosso cliente, do Dnit e da Polícia Federal. Sem eles, não teríamos conseguido atingir o objetivo”, agradeceu Ivan.

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