Sumaré
Após seis anos, haitiano consegue reunir família em Sumaré
Dois anos após o terremoto que assolou país, haitiano se mudou para o Brasil e só agora conseguiu trazer os filhos, mas foi preciso assumir uma dívida
Por Valéria Barreira
04 de agosto de 2019, às 11h45 • Última atualização em 05 de agosto de 2019, às 08h57
Link da matéria: https://liberal.com.br/cidades/sumare/apos-seis-anos-haitiano-consegue-reunir-familia-em-sumare-1053628/
Após seis anos, a família de Leclerc Naitaire está reunida novamente. O imigrante haitiano residente em Sumaré finalmente conseguiu realizar o sonho de trazer os quatro filhos que ficaram no Haiti quando ele veio embora para o Brasil, em 2013, buscando uma vida melhor. As crianças chegaram no último dia 17, mas ele e a esposa Dieulila ainda não puderam viver plenamente o sonho de estarem todos juntos.
Para viabilizar a vinda dos filhos – com idade entre 6 e 15 anos – e de um sobrinho de 8, o casal assumiu um financiamento de quase R$ 30 mil. São dez parcelas de R$ 2.822, valor acima da renda mensal familiar. O salário somado do casal é de R$ 2.600. “Está pesada demais”, resume o haitiano natural da comunidade de Saint Michel de I’Attalaye.
Ele trabalha como operador de produção em uma empresa de Jaguariúna e a esposa como auxiliar de limpeza, em Americana.
O homem conta que assumiu a dívida porque não dava mais para adiar. “Não estava bom para a gente e nem para eles”. No Haiti, elas eram cuidadas por uma tia e pela avó. Mas não foi a saudade o ponto determinante para trazê-las ao Brasil neste momento. Segundo Leclerc, o casal não pode mais esperar porque o visto autorizando a entrada dos filhos no Brasil perderia a validade no dia 17 de agosto e renová-lo seria muito difícil.
Ele conta que para conseguir o visto precisou percorrer um caminho difícil e demorado. Além da burocracia, a família precisou gastar com a documentação e só teve sucesso na empreitada porque teve ajuda de um conhecido que mora na República Dominicana, para onde foi enviada a documentação. “Se o visto vencesse, a gente não sabe quando poderia conseguir outro”.
Leclerc vivia como costureiro e jardineiro no Haiti, mas o terremoto que assolou o país, em 2010, lhe tirou o emprego e tornou a vida, que já não era fácil, ainda mais difícil. “Eu não consegui mais emprego e então decidi ir embora”. A esposa veio dois anos depois com o sonho de um dia poder trazer também as crianças.
O pai voltou para buscá-las no dia 7 de julho. A família está morando numa casa alugada, de fundos, no Jardim Dall’Orto. Ao todo são oito pessoas no imóvel. O casal com os quatro filhos, o sobrinho que veio com as crianças e o irmão dele, que já morava com no Brasil. Além da dívida, o desafio é manter as despesas básicas.
Dieulila está com um problema de saúde e a família vem gastando também com medicamentos. Ela foi diagnosticada com um tumor na cabeça. A haitiana fez duas tomografias e no intervalo entre os exames, ele cresceu. Talvez ela tenha que fazer cirurgia, mas os médicos ainda não informaram a família como será o tratamento. A próxima consulta será dia 9 de agosto.
Amigos organizam vaquinha para ajudar
Sensibilizados pela situação da família, os amigos e pessoas próximas ao casal decidiram se unir para ajudá-los a quitar a dívida e superar as dificuldades. A agente administrativa Rosimeire dos Santos Campos Mariano trabalha com Dieulila e criou uma vaquinha no site www.vakinha.com.br com o título “Ajuda para família do Leclerc”. Ela foi aberta no dia 19 de julho e será encerrada em 10 de dezembro.
O objetivo é arrecadar R$ 40 mil, valor suficiente para quitar a dívida e amparar a família. “Eles são trabalhadores, mas sem ajuda não conseguirão pagar a dívida”. Segundo Meire, a primeira parcela foi paga com a ajuda de pessoas próximas, mas como o valor é alto será difícil continuar honrando o compromisso. “Precisamos de mais gente para completar o valor”, disse.
Além da vaquinha, os colegas de trabalho de Dieulila também se organizam para arrecadar mantimentos para a família. “Agora, são oito pessoas para alimentar”, comenta Rosimeire. Outra ajuda que conseguiram foram os móveis. “A gente vem ajudando como pode. O que a gente quer é que eles tenham tranquilidade para desfrutar do sonho de estarem todos juntos novamente”, disse.