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Caso Invest Motors

Alvo de 222 inquéritos e condenações, empresário de Sumaré segue foragido

Delegado estima mais de 300 vítimas no que chama de "maior estelionato" do município

Por Leonardo de Oliveira

28 de fevereiro de 2021, às 08h30

Em meados de 2017, o 4° DP (Distrito Policial) de Sumaré era “invadido” diariamente por dezenas de pessoas denunciando aquele que se tornaria, para o delegado Marcelo Moreschi Ribeiro, o maior caso de estelionato em 26 anos na profissão, envolvendo a loja Invest Motors.

Quatro anos depois, a conta chega a 222 inquéritos policiais e cerca de 90 processos na Justiça contra o empresário José Adalberto de Carvalho, conhecido como ‘Beto’, que teve prisão preventiva decretada em outubro de 2018 – ele segue foragido desde então, enquanto as vítimas esperam pelo ressarcimento.

Beto oferecia veículos a preços mais baixos do que os de tabela, com a justificativa de que se tratavam de automóveis recuperados de financiamentos não pagos, ofertando um prazo de até 90 dias para a entrega, o que, na maioria dos casos, não se concretizava.

O delegado do 4º DP de Sumaré, Marcelo Moreschi, responsável pela investigação dos golpes do caso Invest Motors – Foto: Leonardo Oliveira / Liberal

Testemunhas ouvidas no processo falam em um prejuízo gerado na casa dos R$ 4 milhões, mas não há uma conta precisa sobre o tamanho do desfalque.

“Teve uma pessoa, por exemplo, que investiu R$ 300 mil. Teve outra que investiu quase R$ 1 milhão. Eles compravam de quatro, cinco carros. Ele [Beto] conseguiu enganar até pessoas que trabalham com o comércio de veículos”, disse o delegado em entrevista ao LIBERAL.

A abordagem feita pelo empresário era atraente. Uma lista com vários modelos de veículos chegava pelo WhatsApp dos possíveis clientes. A compradora Luana da Silva, de Jundiaí, acordou em 2017 a aquisição de um veículo Fiesta Sedan 1.6, modelo 2004, por R$ 17 mil, abaixo dos R$ 25 mil de valor em tabela da época.

Ela confiou no negócio porque conhecia o dono de um estacionamento que havia comprado de Adalberto e tinha realmente recebido veículos em mãos outras vezes. De fato, no começo, o empresário fez negócios com revendedoras e entregou os automóveis, o que trouxe credibilidade.

O empresário acusado de lesar centenas, José Adalberto de Carvalho – Foto: Reprodução

Luana foi informada de que teria acesso ao carro em cerca de dez dias. Ela juntou economias para comprar o produto na expectativa de vendê-lo pelo preço de tabela e dar entrada em um apartamento com o namorado, mas o carro nunca foi entregue, disse ela ao LIBERAL.

“E com isso meu namoro acabou devido as inúmeras brigas, meu ex não me reembolsou o dinheiro do apartamento pois me disse quando recebesse da Invest teria minha parte de volta. Vieram os inúmeros boletos de taxas para pagamento, honorários advocatícios e a enorme esperança de receber esse dinheiro de volta”, disse a compradora.

O delegado Marcelo Moreschi Ribeiro avalia que o golpe foi bem arquitetado e conseguiu enganar pessoas dos mais diversos níveis de escolaridade e profissões, como advogados, comerciantes e donos de revendedoras da região.

“Em todo o meu período de trabalho junto à Polícia Civil eu jamais vi um caso de tamanha proporção, inclusive, até os dias atuais, o montante do golpe é indeterminado, porque além das ocorrências, foram mais de 300 vítimas na delegacia, muitas delas não registraram ocorrência policial”, afirma o delegado.

Até grupos no Facebook foram criados para reunir as vítimas da Invest Motors. O advogado Daniel Neubauer foi o escolhido para representar 103 clientes – desde então conseguiu 30 sentenças que condenaram o empresário a ressarcir os valores dos veículos vendidos.

Segundo ele, na execução dos valores, não foram encontrados bens e recursos nas contas da empresa, por isso há uma busca pela penhora de bens ligados a Adalberto e seus familiares.

“Já vi golpes mais milionários, mas, em número de clientes, do lucro indevido, é com certeza o maior, dificilmente vai encontrar alguém que tenha atingido tantas vítimas com um volume tão grande”, declarou.

Empresário diz temer ser alvo de violência

Outros familiares próximos a Adalberto figuram como réus nos processos que investigam o caso Invest, mas a Justiça entendeu, em outubro de 2018, que só havia motivos para decretar a prisão preventiva dele na ocasião.

Desde então, ele não se apresentou à delegacia, nem foi encontrado pela polícia. Ao LIBERAL, o advogado Ricieri André Salvador, um dos responsáveis pela defesa de Adalberto, disse que o cliente decidiu por não se entregar temendo por sua integridade física.

“Ele começou a receber diversas ameaças, teve o patrimônio depredado, aí ele precisou, para preservar a integridade física dele, sair do local, mas a gente está se defendendo no processo, as provas serão apresentadas em momento oportuno”, contou.

A tese da defesa é de que não se tratou de um golpe e que os clientes sabiam dos riscos. “Nós entendemos que não houve um estelionato, até porque muitas pessoas receberam o bem do jeito que acordaram, mas era feito um investimento de risco compartilhado, e aí acontece que ele [Adalberto] quebrou”, concluiu.

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