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Covid-19

Um terço das vítimas do coronavírus na RPT morreu em hospitais de fora

Levantamento do LIBERAL revela número de moradores que faleceram pela doença em unidades que não ficam nas cidades da região

Por Marina Zanaki

18 de outubro de 2020, às 07h45 • Última atualização em 18 de outubro de 2020, às 07h50

Um terço dos moradores da RPT (Região do Polo Têxtil) que morreram pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19) estava internado em hospitais fora da região. A estatística não inclui Santa Bárbara d’Oeste, que não divulga detalhes sobre as mortes.

O levantamento foi realizado pelo LIBERAL com base nos dados divulgados pelas prefeituras ao longo dos sete meses da pandemia. Há informações sobre os hospitais onde 518 moradores morreram – até agora, são 800 mortes confirmadas. Das pouco mais de quinhentas vítimas, 175 estavam em hospitais fora da RPT e 343 em hospitais da região.

Ao menos 52 moradores da região morreram de Covid-19 em hospitais da Grande São Paulo – Foto: Mister Shadow / ASI / Estadão Conteúdo

A cidade com mais óbitos de moradores da região é Campinas. Houve menção a, pelo menos, 15 unidades de saúde que acolheram moradores da RPT. Alguns dos locais com mais óbitos foram o AME (Ambulatório Médico de Especialidades), o Hospital Renascença, o Hospital Samaritano, o Ouro Verde e o Hospital das Clínicas da Unicamp.

A Grande São Paulo foi mencionada em 52 mortes por coronavírus da região. Houve ainda mortes em Paulínia (12), Espírito Santo do Pinhal (2), Itapira (2), Indaiatuba, Piracicaba, Pouso Alegre e Sorocaba (uma morte em cada uma dessas cidades).

Professora de Infectologia da Faculdade de Medicina da Unicamp, a médica Raquel Silveira Bello Stucchi avalia que a busca por hospitais em outras cidades sobrecarrega o sistema de saúde, e desatacou a importância de investimentos na rede de saúde municipal.

“Existe um planejamento da estrutura de atendimento levando em conta a população que você tem para atender. Quando começa a receber muita gente, ainda mais na pandemia, a demanda fica muito grande e seu sistema fica insuficiente. Deixa sem atendimento as pessoas da própria cidade”, analisou a médica, que já foi vice-diretora clínica do HC.

Ela indicou que o HC da Unicamp sofreu sobrecarga mas, como mobilizou praticamente todos os recursos para a pandemia, deixando inclusive pacientes de outras doenças para um segundo momento, foi possível evitar o colapso.

“O HC tem uma missão de atendimentos mais complexos. 70% não são daqui de Campinas, são de fora. Mas o grande problema é que acaba tendo muitos municípios que não têm como atender a população. Uma estrutura mesmo como a Unicamp, que é de referência, é limitada”, comenta a médica.

“Chega um momento que você não tem onde colocar mais pacientes, nem espaço físico, cama, respirador, e nem profissional para atender a demanda de todos os municípios que não investem em saúde”, diz Raquel.

BUMERANGUE
A pandemia acabou provocando o chamado efeito bumerangue, fenômeno observado pelo pesquisador Miguel Nicolelis, co-diretor do Centro de Neuroengenharia da Universidade de Duke, nos Estados Unidos.

Inicialmente, a disseminação da doença partiu das capitais e grandes centros urbanos para as cidades do interior. Quando a população desses municípios ficou doente, procurou hospitais mais bem equipados, instalados justamente nas capitais e grandes centros urbanos, fazendo assim o caminho inverso.

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