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Covid-19

‘Seremos fortemente impactados’, diz economista sobre a RMC

Em entrevista ao LIBERAL, economista Eliane Rosandiski, da PUC Campinas, comenta os efeitos do coronavírus na economia regional

Por Leonardo Oliveira

24 de março de 2020, às 08h49 • Última atualização em 24 de março de 2020, às 09h48

O mercado de trabalho da região deve sofrer alterações profundas com a crise na demanda causada pelo novo coronavírus (Covid-19). Essa é a avaliação da economista Eliane Rosandiski, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas. O tamanho da crise vai depender de como o Governo lidará com o problema, segundo a profissional.

Foto: Arquivo Pessoal
Economista projeta cenário pós coronavírus 

Eliane diz, com base em estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que o número de trabalhadores informais na RMC (Região Metropolitana de Campinas) em 2019 era de 450 mil – e é justamente esse o grupo que mais deve ser afetado.

Essa afirmação é baseada na dependência da economia regional no setor de serviços, onde se concentra parte da informalidade. A maior parcela dos empregos gerados no ano passado foi justamente neste segmento. Como a quarentena obriga o isolamento, o movimento é diretamente afetado nesses estabelecimentos.

Confira os principais trechos da entrevista da economista ao LIBERAL.

Quais as consequências o coronavírus trará para a economia?

Sofreremos com a queda de demanda mundial, pois temos uma grande presença de indústrias que mantêm fluxos de comércio internacional, mas com certeza seremos fortemente impactados pela queda de demanda interna (imposta pela quarentena), pois somos uma região com forte presença do setor de serviços.

Existe uma projeção do número de empregos que podem ser perdidos?

Realmente fica muito difícil falar em números, pois nunca vivenciamos uma situação similar. Uma economia ainda frágil, numa trajetória errática de medidas econômicas que não estavam trazendo a confiança necessária recuperar da crise, uma economia com 11,5 milhões de pessoas desempregadas.

Na RMC, estima-se 209 mil desempregados e 61 mil desalentados.

Alguns analistas estão projetando que a taxa de desemprego irá quadruplicar. Estão inferindo isto a partir dos impactos da paralisação dos caminhoneiros, mas ainda assim é um palpite, muito arriscado projetar. Certamente o PIB nacional será negativo e o mercado de trabalho será um reflexo.

Qual sua avaliação sobre as medidas adotadas pelo Governo até o momento?

O governo está atuando em duas frentes. Do ponto de vista sanitário, medidas de contenção da propagação aparentemente estão indo na direção certa, segundo as orientações internacionais OMS (Organização Mundial da Saúde).

Do ponto de vista econômico, as medidas estão indo em sentido contrário ao que a maioria dos países está adotando. Numa situação de crise o Estado deve assumir uma ação firme e bem direcionada para proteger a renda dos indivíduos.

Seja transferindo diretamente renda para os informais que subitamente perderam sua fonte de renda diária ou dando estímulos fiscais para os empresários não demitirem sua força de trabalho.

Temos visto que, nesta onda de solidariedade, o trabalhador doméstico só poderá fazer quarentena se o assalariado continuar empregado, ou seja, um efeito dominó. Tem que evitar que essa crise atinja também o trabalho formal.
Ou seja, proteger as empresas não é dar garantias para ela demitir empregados. Medidas como suspender o contato formal por quatro meses ou de reduzir em 50% os salários só aprofundarão a crise e tirarão qualquer possibilidade de recuperação

Importante destacar que as medidas sanitárias devem ser respeitadas para evitar o colapso no sistema de saúde. Muitos técnicos da saúde afirmam que o colapso será inevitável, nossa oferta de serviços (público e privado) é insuficiente, daí fica um comportamento errático do Governo Federal, na pessoa do presidente, minimizando o risco da epidemia.

Isto se relaciona com o econômico na medida em que temos um governo que ainda trabalha na lógica fiscalista: quanto mais for gastar na saúde (daí a necessidade de conter a disseminação) menos sobrará para as demais áreas de suporte as empresas e informais que estão perecendo com a queda da demanda. Neste cenário o desemprego aumentará, empresas quebrarão e a crise social será mais disruptiva que a pandemia.

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