Boas Histórias
Por amor ao tatame, autônoma divide rotina e conquista faixa preta no jiu-jitsu
Elaine Fonseca Alves Vercesi bate de frente com a rotina de trabalho, dona de casa e mãe para alcançar a faixa preta na Gracie Barra Americana
Por Marina Zanaki
22 de janeiro de 2020, às 10h01 • Última atualização em 22 de janeiro de 2020, às 10h03
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A autônoma Elaine Fonseca Alves Vercesi, de 42 anos, se divide entre as demandas de dona de casa, mãe de dois adolescentes, esposa e prestadora de serviços. Com rotina apertada, a moradora de Nova Odessa tem as mesmas atribuições de boa parte das mulheres.
Em um aspecto, porém, Elaine é um ponto fora da curva: sua paixão pelo jiu-jitsu, com a qual conseguiu alcançar o posto de primeira mulher faixa preta na escola Gracie Barra Americana, em dezembro.
Elaine precisa do apoio do marido e dos filhos na divisão de tarefas e compreensão de seus horários para que possa abraçar a prática com a dedicação necessária. “É preciso uma equipe dentro de casa para te ajudar a conseguir participar de outras equipes”, reconhece a autônoma.
Seu professor, Daniel Cruz, foi quem trouxe o jiu-jitsu para a região, há 21 anos. Ele contabiliza a graduação de 15 faixas preta nesse período, todos homens. Daniel acredita que Elaine é a primeira mulher a alcançar essa graduação não só na Gracie Barra Americana, mas também na cidade.
Atingir a última etapa no sistema de graduação do jiu-jitsu demanda conhecimentos e técnicas acumulados ao longo do tempo – geralmente de 7 a 10 anos de prática. Para mulheres, é ainda mais difícil. Não por conta da avaliação, que não faz distinção de gêneros, e sim por fatores externos ao tatame.
Por tratar-se de uma atividade que demanda contato direto com homens durante os “rolas” (como são chamadas as lutas), muitas lutadoras acabam abandonando a prática por conta de ciúmes de companheiros.
“Quando você está ali não passa nada além de proteger seu pescoço, de finalizar e não ser finalizado. É muito triste, porque com tantos casos de feminicídio, tem muitas coisas que dariam para evitar se as mulheres tivessem a mínima noção de defesa pessoal”, avalia.
Graduada como faixa preta, ela entende que assume mais responsabilidades. “Dentro da academia a gente consegue ter aquele respeito dentro do tatame, é um lugar sagrado, meu mestre é meu espelho, e você sempre é o espelho de alguém ali dentro. Mas agora [com a faixa preta] você é o foco, todo mundo vai te acompanhar. Se você vacilar vai ser cobrado, e eles cobram mesmo”, diz Elaine.
Quando chegou à Gracie Barra Americana, em 2016, Elaine era faixa marrom, a última antes da faixa preta. Daniel Cruz conta que ela tinha deficiências e foi preciso “lapidar” a aluna para extrair dela todo o potencial.
“O jiu-jitsu é para todos, no entanto chegar na faixa preta é para aqueles que conseguem se dedicar, se comprometer”, explica o professor.
Elaine lembra que um dos maiores desafios para conseguir alcançar a faixa preta foi praticar o rolamento pelo pescoço. Após romper um ligamento abaixo da escápula, há alguns anos, ela ficou traumatizada.
Contudo, sem essa técnica ela não conseguiria a graduação. Apenas depois de muito esforço e ajuda dos companheiros de tatame ela conseguiu superar esse trauma.
Mesmo com a rotina de roxos e calos, além de alguns ferimentos excepcionais, como o rompimento, Elaine não pensa em desistir. “É por amor”, garante ela.
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