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Covid-19

Pandemia do novo coronavírus leva milhares a ‘divã online’

Falta de controle e sensação de perda da rotina são relatadas a psicólogos que atendem por telefone ou aplicativos na região

Por George Aravanis

03 de maio de 2020, às 08h41

A ansiedade por causa da falta de controle sobre a própria vida, a sensação de perda pela quebra da rotina e a preocupação financeira têm sido problemas constantemente relatados a psicólogos que atendem por telefone e WhatsApp desde o início da quarentena causada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

Pais que se sentem culpados por não dar conta das tarefas diárias, como manter a casa em ordem, trabalhar e ajudar os filhos em aulas online, também têm procurado os profissionais.

Orientações sobre prevenção da Covid-19 – Foto: Ministério da Saúde

“As pessoas têm necessidade de controle, querem se sentir no controle das coisas, situações, dinheiro. A quarentena não deixa a gente se sentir no controle de nada, e isso gera muita angústia”, afirma Sandra Bulhões, psicóloga da Prefeitura de Hortolândia, cidade que tem oferecido o atendimento psicológico remoto e recebe de 20 a 30 ligações semanais.

Os profissionais contam que o isolamento social aflorou ou intensificou problemas anteriores, como depressão ou ansiedade. Mas muita gente que tem procurado apoio jamais tinha estado frente a frente com um psicólogo.

Segundo Sandra, em alguns casos o desespero é tão grande que a pessoa, com medo de pegar a doença, associa sintoma que pode ser de uma crise de ansiedade, como falta de ar, com um sinal da Covid-19. Uma queixa comum de quase todas as pessoas que procuram o serviço é o medo em relação à própria situação financeira, afirma a psicóloga.

Fabiana Nascimento, uma das coordenadoras do grupo de psicólogos voluntários Conexão Afetiva, afirma que um relato frequente tem sido a dificuldade de manter a concentração, principalmente por parte de alunos que precisam estudar à distância – sistema adotado por praticamente todas as escolas e faculdades.

”Como eu faço para poder me dedicar ao estudo num momento em que tantas coisas importantes estão me chamando atenção, inclusive a questão de risco de perder alguém, ou risco da própria morte?”, exemplifica Fabiana.

A sensação de culpa também tem sido relatada por pessoas que têm filhos, precisam trabalhar de casa, mantê-la em ordem sem auxílio de uma diarista, por exemplo, e ajudar as crianças em aulas pela internet. E essa situação tem sido um grande fator de estresse, afirma a psicóloga.

“Muito por questão da culpa, se achar culpado por não estar dando conta, quando ninguém está dando conta de fato disso”, diz.

Para a psicóloga, que mora em Sumaré, é importante ter em mente que o mundo mudou por causa da pandemia. Achar que deve agir e lidar com as situações como se fazia antes pode gerar um desgaste grande, afirma.

Cerca de 3 mil pessoas se inscreveram para procurar ajuda no Conexão Afetiva em cerca de quatro semanas, e ao menos metade disso já foi atendida – dessas, 33 são da Região do Polo Têxtil.

Por enquanto, as inscrições para o público em geral estão suspensas por causa da alta procura, e serão mantidas apenas para profissionais e colaboradores da área de saúde, policiais, bombeiros e para pessoas com Covid-19 e seus familiares. Os atendimentos dos 80 psicólogos voluntários de todo o Brasil são feitos por ligações de áudio ou vídeo.

Para Gabriel Rocha, um dos psicólogos que atendem por meio do Conexão Afetiva, a quebra da rotina produz uma sensação de perda por causa das privações.

“E acaba sendo muito comum a gente ter essa ansiedade”, comenta.
Os profissionais recomendam que as pessoas mantenham rotinas, façam atividades físicas dentro de casa e coisas que gostem, como ler ou assistir a filmes.

Para Sandra Bulhões, o cérebro funciona bem quando se estabelecem horários para as tarefas.

Outra dica é evitar ler ou assistir notícias sobre a Covid-19 o tempo todo. Para Gabriel Rocha, o ideal é se atualizar no máximo duas vezes ao dia, para evitar o “bombardeio” de informações sobre a doença.

ATENDIMENTO PSICOLÓGICO
Quem oferece o serviço na região:

A Prefeitura de Hortolândia oferece o serviço de atendimento psicológico por telefone ou WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, pelos seguintes números: 99684-9605 e 99782-4306.

A Prefeitura de Sumaré inicia o serviço na segunda-feira, pelo WhatsApp. O atendimento será de segunda a sexta, das 9h às 16h. Os interessados devem contatar Roseli Melo pelo telefone (19) 99348-0545.

*As demais prefeituras da região foram procuradas, mas ou não oferecem o serviço ou não responderam.

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