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Apaniguados

Investigação que prendeu ex-presidente da câmara aponta oito mil lesados em concursos

Preso na operação, Dimas Starnini é o superintendente do consórcio que direcionava licitações e ajudava a fraudar certames, diz Ministério Público

Por Leonardo Oliveira

08 de outubro de 2019, às 07h58 • Última atualização em 08 de outubro de 2019, às 08h30

O ex-presidente da Câmara Municipal de Nova Odessa Dimas Starnini foi preso nesta segunda-feira em uma operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do MP (Ministério Público) de Campinas, que apura fraudes em licitações e concursos públicos que lesaram, pelo menos, oito mil pessoas nos últimos cinco anos. O resultado das provas era modificado para que fossem aprovados aqueles indicados previamente.

Dimas ocupa o cargo operacional mais importante no Consab, um consórcio intermunicipal com sede em Cosmópolis que presta serviços de saneamento ambiental para nove cidades. Os funcionários do consórcio eram contratados por meio de concurso, realizado por empresa especializada na aplicação de provas.

Segundo a promotoria, há indícios de que a empresa contratada para organizar os certames tenha sido beneficiada por meio do direcionamento de licitações. “Essa licitação era direcionada. Quando vencia, [a empresa] promovia o concurso, que era fraudado com indicações políticas para aprovação no certame”, afirma o promotor Daniel Zulian.

Foto: João Carlos Nascimento / O Liberal
Dimas durante convenção política em 2012

Após ser detido pelo Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) de Campinas, o ex-vereador foi levado até o prédio do Consab, onde foi ouvido pelos promotores do MP. Depois, teve prisão temporária de cinco dias decretada e foi encaminhado até a 2ª Delegacia Seccional de Campinas – as autoridades não divulgaram para qual prisão ele foi.

Ao LIBERAL, o advogado do Consab, Rafael Lotierzo disse que haverá uma reunião do conselho do consórcio para definir o novo superintendente, que substituirá Dimas durante o curso das investigações. “Por enquanto não temos maiores informações do que efetivamente aconteceu”, disse.

De acordo com o promotor Daniel Zulian, vários consórcios são investigados por fraudarem os processos seletivos. No caso do Consab, foram 14 concursos realizados desde 2014 – a Orhion Consultoria venceu as licitações e ganhou o direito de aplicar a prova.

Os candidatos que deveriam ser aprovados eram indicados previamente por agentes públicos. Depois da prova, funcionários da empresa emitiam um novo cartão de resposta e procuravam os beneficiados, que o assinavam. O cartão depois era preenchido com quantas respostas corretas fossem necessárias para sua aprovação.

“O Gaeco vê com extrema gravidade a questão de diversas pessoas que se prepararam para um concurso público acreditando que se tratava de um concurso sério foram prejudicadas em razão do esquema criminoso para fraude desses concursos”, acrescenta Zulian.

Outras quatro pessoas, acusadas de integrar o esquema foram presas nesta segunda-feira. Além de Nova Odessa, cidade onde Dimas mora, a operação cumpriu mandados em Campinas, Jaguariúna, Cosmópolis, Santo Antônio de Posse, Cordeirópolis, Holambra, Macatuba e Votuporanga.

Os mandados de prisão emitidos na operação, batizada de Apaniguados, ainda tiveram como alvos uma ex-sócio da Orhion, o secretário de Serviços Públicos de Cordeirópolis, um diretor da Secretaria de Serviços Públicos de Santo Antônio de Posse e um ex-secretário de Serviços Públicos de Jaguariúna. Procurada, a Orhion não se manifestou sobre o caso até o fechamento desta edição.

Os aprovados naqueles concursos que foram fraudados serão investigados – as consequências, segundo o MP, vão desde a perda do cargo até o cancelamento destes certames. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Dimas.

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