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Igreja Católica

Nove sacerdotes relatam que Vilson pediu dinheiro para uso pessoal

Valores, dizem os padres, eram solicitados para cuidar de túmulo de pai e cuidar de casa de praia do então bispo de Diocese de Limeira

Por George Aravanis

07 de março de 2020, às 08h55 • Última atualização em 07 de março de 2020, às 19h27

Nove padres disseram à Polícia Civil de Limeira que Vilson Dias de Oliveira, bispo emérito da Diocese daquela cidade, pediu dinheiro a eles para finalidades pessoais, como cuidar do túmulo do pai e fazer reparos em uma casa de praia. Cinco pagaram os valores.

O resumo dos depoimentos consta de documento do MP (Ministério Público) ao qual o LIBERAL teve acesso. O bispo não quis se pronunciar e pediu para a reportagem procurar seu advogado, que disse que não poderia falar nesta sexta-feira.

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Foto: João Carlos Nascimento - O Liberal
Vilson é bispo emérito da Diocese de Limeira e vem sendo investigado pela Polícia Civil

A Polícia Civil de Limeira recebeu no ano passado a tarefa de investigar se Vilson, quando comandava a Diocese, extorquia outros padres subordinados a ele, exigindo recursos das paróquias que eles chefiavam para resolver assuntos particulares – em depoimento à polícia em abril de 2019, Vilson negou extorsão, mas admitiu ter recebido uma “doação” de R$ 4 mil de uma paróquia de Artur Nogueira para uso pessoal.

O religioso era o líder da Igreja Católica em 16 cidades, incluindo Americana. Em maio de 2019, renunciou ao cargo, mas manteve o título de bispo emérito, o salário e escapou de uma eventual punição por parte da igreja. Porém, ainda é alvo do processo na Justiça comum.

Alguns padres relataram à polícia que entregavam o dinheiro por medo de represálias. Um dos párocos disse que se sentiu pressionado e outro que entendeu a solicitação como “exigência”, já que o bispo era seu superior.

O documento do MP ao qual a reportagem teve acesso, datado de 4 de fevereiro deste ano, traz um resumo dos depoimentos e um pedido da promotora Paula Jodas para que a polícia escute novamente alguns padres para obter mais detalhes. No último dia 28, o inquérito da polícia foi anexado novamente ao processo – mas o LIBERAL não teve acesso a este último relatório.

Um dos padres, de Leme, disse que o bispo lhe pediu dinheiro quatro ou cinco vezes, para auxílio pessoal e necessidades em sua casa de praia.

Ele contou à polícia que atendeu às solicitações porque “gostaria” de continuar em sua paróquia. O conselho econômico da paróquia aprovava os pedidos e o dinheiro era depositado na conta de Vilson ou entregue em cheque.

Um sacerdote conta que Vilson solicitou R$ 3,5 mil para consertar o corrimão da casa da mãe. Diante da “pressão” (termo usado pelo MP), ele deu o dinheiro em cheque da paróquia.

Um dos padres, de Araras, contou à polícia que o então bispo pediu dinheiro duas vezes, uma para uma festa de aniversário e outra para reforma em sua casa de praia, em Itanhaém. O padre levou o pedido ao conselho econômico, que negou.

Um pároco de Conchal narrou que Vilson queria recursos para cuidar do túmulo do pai. Após consultar outros sacerdotes, resolveu dar o dinheiro. Oito padres disseram à polícia que Vilson nunca lhes pediu nada (três deles, porém, ouviram de outros padres que o bispo solicitava a eles).

Outro padre de Araras disse que transferiu R$ 100 mil ao bispo, mas, neste caso, não era para fins pessoais, e sim para ajudar outra paróquia, segundo o que Vilson lhe disse na ocasião.

A investigação faz parte das apurações da polícia que tiveram origem em um dossiê que denunciou casos de abuso sexual envolvendo o padre Pedro Leandro Ricardo, reitor afastado da Basílica de Americana, e Vilson. O dossiê aponta que o então bispo acobertaria crimes sexuais de Leandro e também extorquia os padres. Leandro nega crimes.

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