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Entrevista

‘Não somos melhor, nem pior. O Baep é diferente’

Comandante Fernando Aparecido de Souza, do batalhão especial da PM em Piracicaba diz que presença de corporação ajuda em elevar percepção e segurança

Por João Colosalle

15 de março de 2020, às 08h27 • Última atualização em 17 de março de 2020, às 08h47

Há quase 30 anos na Polícia Militar, o tenente-coronel Fernando Aparecido de Souza, 47, de Altinópolis, na região de Ribeirão Preto, é hoje o responsável pela tropa de 200 policiais aquartelada às margens da Rodovia do Açúcar, em Piracicaba. De lá, a corporação atende e apoia ocorrências mais planejadas ou delicadas em 52 cidades. Destas, Americana e Sumaré estão entre as principais.

Na última quinta-feira, o tenente-coronel recebeu o LIBERAL na sede do 10º Baep (Batalhão de Ações Especiais da Polícia). Em 1h de entrevista, ele se disse contrário à liberação das drogas, favorável a que cidadãos tenham armas e situou o batalhão como uma força intermediária entre a Força Tática e a Rota, a tropa de choque da polícia paulista. “Muitas vezes, a presença do Baep se basta”. Leia os principais trechos da entrevista.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
O tenente-coronel Souza, policial há quase 30 anos, na sede do novo Baep

Como foi o processo de instalação do batalhão, do qual o senhor participou ativamente?

A criação dos Baeps segue uma lógica do Governo do Estado e prevê que esses batalhões, para uma ação um pouco mais contundente, uma pronta-resposta para ocorrências mais graves, sejam espalhados por todo o interior. Aqui na região, a promessa seria que este batalhão seria criado em março de 2020. Diante de tratativas, ficou decidido que a inauguração seria no ano passado. A PM já esperava por isso.

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Foi feito todo o processo, mais acelerado, e quando foi anunciado que seria inaugurado em dezembro, fizemos os acertos. Hoje, temos quase três meses de atividade e já temos resultados. Muitas vezes, a presença do Baep se basta. Não precisamos de indicadores, de números. Se não acontece nada de ruim, participamos dos processos junto aos batalhões policiais.

O Baep não é melhor, não é pior. O Baep é diferente. Coincidência ou não, com o advento dos Baeps se popularizando, um grande problema que enfrentávamos tem diminuído: assaltos a carro-forte, agências bancárias, roubo de carga.

O senhor acredita que a presença do Baep intimida criminosos?

Sim. A própria presença do Baep leva à sensação, à percepção de segurança, que seria o objetivo maior da polícia.

Sob seu comando, o Batalhão prioriza o combate a algum crime específico?

O Baep trabalha com ações especiais de polícia. Uma grave perturbação da ordem pública, uma revolta de presos. Esse seria o foco número um. Enquanto estamos na paz, podemos fazer o foco número dois: apoiar o policiamento. Quais crimes? Os delitos que envolvam violência: roubo com arma de fogo, latrocínio, algo que traga uma insegurança muito grande.

Os principais índices criminais têm caído no Estado. O senhor atribui essa queda a algum trabalho específico?

A PM tem investido muito em inteligência, em análise de estatísticas e crimes. Não fazemos a investigação, mas a PM tem todo um estudo sobre criminalidade. Atuamos para prevenir o que vai acontecer. O Estado hoje é o que tem o menor indicador de crimes de homicídios por grupos de 100 mil habitantes. Um índice europeu.

A região tem ocorrências frequentes de tráfico de drogas e chega a ser conhecida como a rota caipira. Qual é o papel da PM no combate a este crime?

A sociedade tem que se debruçar sobre a questão de tráfico e uso de drogas. Só com polícia não se resolve isso. Hoje, o usuário de drogas tem mais um enfoque de saúde do que policial. Temos algumas leis que são fracas. Temos muita brandura no trato de alguns problemas sociais.

Qual a posição do senhor sobre a liberação das drogas?

Penso eu que naqueles locais em que a droga foi liberada a coisa não progrediu para o bem, não melhorou, inclusive locais mais desenvolvidos que nós e sistemas públicos mais bem resolvidos que o nosso. E vamos nós, querermos implementar isso por aqui, com uma série de deficiências que temos. Não vejo onde isso pode melhorar. Falo com experiência policial. Penso que o caminho não é esse.

Apesar da queda de diversos índices criminais as mortes decorrentes de intervenção policial cresceram entre 2018 e 2019. Como o senhor analisa esse crescimento?

Quando acontece um fato desse, é feito um estudo de caso. É verificado se não haveria possibilidade de evitar o confronto. A missão da PM é fazer o policiamento preventivo, levar a sensação de segurança, preservação da vida e da dignidade humana. Agora, há casos em que o evento morte ocorre. Não é o desejado. Pelo estudo que a polícia faz, e a Corregedoria da PM é um órgão muito atuante, verificamos que esses casos, via de regra, são de confronto. É o cidadão que resiste. Faz parte da atividade. Não é o desejado.

Permitir que o cidadão tenha uma arma em casa é o caminho para aumentar a sensação de segurança e diminuir crimes?

Sou favorável. Acredito que seja um direito do cidadão ter sua arma, para sua segurança, de sua residência. O Estatuto de Desarmamento é muito bonito no papel. Mas enquanto você desarma o cidadão de bem, e os bandidos? Para deixar a população de bem sem ter nem o direito de se defender, democraticamente, isso está errado. Claro que países onde a compra de armas é facilitada têm seus problemas também. Outros tipos de problema. Aqui, percebo que nos últimos anos virou quase que uma covardia. Só o bandido tem arma.

A aproximação com a comunidade é importante para polícia?

Muito. Sou um defensor ferrenho dos processos de polícia comunitária. O policial não saiu da comunidade. Ele é comunidade. Só assim que chegam informações sobre a marginalidade. A polícia, na sua essência, é civil. Poderíamos estar melhor? Poderíamos. Mas a integração é muito grande.

Nas ruas, policiais do Baep e da Rota tendem a ser mais respeitados ou temidos pela população. Como o policial lida com esse sentimento?

Antes de o policial ir para a rua, ele está constantemente preparado. A postura deste policial tende a ser diferenciada. E ele é respeitado por isso. Então, não se bate, não se dá tiro à toa. É assim que se tem o respeito da comunidade, do cidadão de bem e, inclusive, da criminalidade. Isso ajuda no envolvimento com a comunidade.

Além da Capa, o podcast do LIBERAL

A edição desta semana do podcast “Além da Capa” fala sobre a pandemia do Covid-19, o novo coronavírus, e seus impactos nas cidades que fazem parte da RPT (Região do Polo Têxtil). Ouça:

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