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Posse de arma

Na contramão do País, registros de arma de fogo caem 25% na região

Baixos índices criminais na região e alto custo podem ajudar a explicar os dados obtidos pelo LIBERAL junto à Polícia Federal

Por Leonardo Oliveira

10 de janeiro de 2021, às 08h24 • Última atualização em 10 de janeiro de 2021, às 09h15

Enquanto que a nível nacional tem crescido o número de armas nas mãos dos brasileiros, na RPT (Região do Polo Têxtil) o movimento é inverso. Entre janeiro e novembro de 2020, foram concedidos 274 novos registros, menor número para o mesmo período nos últimos quatro anos e 25% mais baixo do que no ano passado.

Os dados foram fornecidos pela Polícia Federal e obtidos pelo LIBERAL por meio da Lei de Acesso à Informação.

Registro de arma, popularmente conhecido como “posse de arma”, tem validade de 10 anos – Foto: Imagem de gmsjs90 por Pixabay

Especialistas em segurança pública dizem acreditar que o perfil da região e os baixos índices criminais contribuam para que as cidades não vivam o aumento de armas registrado no País.

Com o registro, que tem validade de dez anos, o proprietário pode manter uma arma de fogo em sua casa ou no local de trabalho. É popularmente conhecido como “posse de arma”. É diferente do “porte”, que permite andar armado.

O número de registros expedidos vinha crescendo desde 2016 na RPT. Ao todo, foram 342 concessões naquele ano. Em 2017, a PF liberou 355, número que subiu para 357 no ano seguinte e para 369 em 2019.

A queda é puxada principalmente por Hortolândia, que viu diminuir de 95 para 44 os registros entre 2019 e 2020, assim como Santa Bárbara d’Oeste, onde as concessões de arma de fogo sofreram queda de 84 para 46 neste ano, segundo dados da PF.

Nos últimos dois anos, Americana é a cidade da RPT com mais registros. Em 2020 foram 110, aumento em relação aos 104 contabilizados em 2019.

Para o coronel da reserva da Polícia Militar, Rogério Nascimento Takiuchi, que atuou por mais de 25 anos em Americana, a queda dos registros na região tem a ver com a sensação de segurança sentida pela população.

“A RPT é uma área onde tem muita segurança dentro do Estado de São Paulo, o que amplia essa sensação de segurança e faz com que ter uma arma em casa seja algo custoso e que se torne um pouco desnecessário”, disse ao LIBERAL.

Ele lembra que existe um custo para pleitear uma arma junto à PF. Depois disso, há também a necessidade de se investir na própria compra do armamento, em munições, e outros equipamentos. Com a pandemia, as pessoas pensam mais antes de comprar, também argumentou Takiuchi.

“As pessoas passaram a ficar mais tempo em casa, tiveram uma redução no seu orçamento e passam a priorizar aquilo que é importante. Nós podemos deixar de comprar e ter uma arma em casa nesse ano porque nós estamos em um estado seguro, uma região segura”, acrescenta o ex-PM.

Secretário nacional de segurança pública no governo FHC, o consultor José Vicente da Silva Filho encarou como surpresa, entretanto, a queda na posse de armas na região.

“De fato é estranha essa queda de 25%. A hipótese mais provável, não há como ter certeza, é que locais de baixa incidência de crimes violentos geram menos medo e motivação para a compra de armas. Também não há uma cultura da arma como acontece no Rio Grande do Sul e Nordeste”, citou ele.

Nacionalmente, medidas adotadas pelo presidente Jair Bolsonaro facilitaram a obtenção de arma de fogo e munição. Civis com direito ao porte ou posse podem comprar mais munições por mês e o rastreamento se tornou mais complicado após uma portaria revogada.

Houve também uma portaria que permitiu que atiradores, colecionadores e caçadores ainda podem comprar fuzil semiautomático e circular com a arma municiada.

“Muito embora o governo federal tenha flexibilizado o acesso, ainda o custo é alto e burocrático. Por outro lado, há também questão cultural, que pode influenciar nesses números. Na região Sul, a prática do tiro esportivo ou até a posse da arma passam de pai para filho o costume de ter armas em residência”, argumentou o ex-comandante da Gama (Guarda Municipal de Americana), Marcos Guilherme, que também citou os baixos índices criminais como motivação para a queda.

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