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Alô?

Linhas fixas de telefone caem 25% em 4 anos na região

O que já foi investimento, hoje está relegado a segundo plano diante do crescimento da Internet e dos celulares

Por Marina Zanaki

27 de outubro de 2019, às 08h25

Houve quem precisasse financiar para conseguir comprar. Teve quem usasse o dinheiro de rescisão trabalhista para pagar à vista. E quem possuía acabava emprestando – ou alugando.

Comprar uma linha de telefone fixo no Brasil já foi sinônimo de um investimento. Contudo, desde a privatização do Sistema Telebrás, em 1998, a chegada dos celulares e da Internet, esse meio de comunicação teve seu papel na sociedade transformado completamente.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Comprar uma linha de telefone fixo no Brasil já foi sinônimo de um investimento

Na RPT (Região do Polo Têxtil), o número de acessos individuais de telefonia fixa caiu 25% nos últimos quatro anos. Em agosto de 2015 eram 297 mil acessos nas cinco cidades da região; no mesmo mês deste ano, 221 mil. Nesse mesmo período, os acessos de banda larga na região passaram de 198 mil para 272 mil, um aumento de 37%. Os números foram levantados pelo LIBERAL junto à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).

A autônoma Marcia Tomiyama, de 40 anos, lembra que a família vendeu um carro modelo Brasília para comprar a primeira linha telefônica nos anos 1990.

“Era um valor alto mesmo, não era todo mundo que tinha telefone. A família da minha mãe é de Minas, para conseguir conversar com o pai ou a mãe dela uma vez no mês ia na vizinha, que cobrava até um valor pra emprestar o telefone”, recorda Marcia.

Morando há cinco anos em Americana, Marcia abriu mão do telefone fixo e usa apenas o celular. Ela conversa com os pais, que moram em Caçapava, no Vale do Paraíba, quase diariamente pelo aplicativo WhatApp.

“No fixo eu tinha muito problema com trotes e empresas tentando vender algo, pelo celular você tem opção de bloquear, ver se o número que está ligando você tem o contato ou é desconhecido”, avalia a autônoma.

A maquiadora Thays de Oliveira Macedo, de 25 anos, cancelou há algumas semanas o telefone fixo da oficina mecânica de seu pai, em Nova Odessa. Ela contou que o plano que possuíam era bem completo e permitia ligações para fornecedores em outros Estados. Por isso mesmo, era caro. Essa demanda foi resolvida pelo contato via WhatsApp.

“Todo mundo tem celular e passou a ser inviável ter fixo na oficina, meu pai passa o dia todo fora. A gente tem plano muito bom de celular e que cobre todas nossas necessidades, inclusive Internet. Não tinha porque a gente pagar uma linha fixa da qual nem ia utilizar”, contou.

A opção foi pagar pela instalação de um novo acesso de Internet, desvinculado ao telefone, e cancelar a linha fixa. Contudo, o telefone na residência permanece para atender, principalmente, às necessidades da avó de Thays, que não usa celular.

Foto: João Carlos Nascimento / O Liberal
Depois que tiraram orelhão da rua, barbeiro comprou uma linha fixa

Na esquina entre as ruas Dom Barreto e Uruguai, na Vila Cechino, em Americana, existe um “fiel” do telefone fixo. O barbeiro Dailton José Fogaça, de 73 anos, está nesse mesmo endereço há duas décadas. Contudo, sua linha telefônica é relativamente recente.

Há dez anos, ele utilizava o orelhão que ficava em frente ao salão para receber as ligações dos clientes. “Comprei esse daí depois que tiraram o da rua. Eu usava direto, ligavam no orelhão e eu saía correndo para atender”, conta o barbeiro, que não gosta de celular.

Marco legal

O novo marco das telecomunicações foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) no início deste mês. De acordo com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), a mudança vai permitir que as empresas que atualmente possuem regime de concessão (no caso do Estado de São Paulo, a Telefônica Vivo) passem para regime de autorização.

Na prática, essas empresas vão poder deixar de lado obrigações assumidas na hora da concessão e que, em muitos casos, não fazem mais sentido. Um exemplo é a manutenção de orelhões nas quantidades estabelecidas no contrato.

Com isso, o dinheiro que seria utilizado nessas obrigações poderá ser aplicado em outras áreas com maior demanda atualmente. Um exemplo é infraestrutura em banda larga. A Anatel esclareceu que ainda devem ocorrer consultas públicas para elaborar as regulamentações, que vão indicar a modelo dessa transição. A previsão é que esse processo leve um ano para ser concluído.

A RPT (Região do Polo Têxtil) possui 838 orelhões. Desses, 785 estão em funcionamento e 53 passam por alguma manutenção. Americana é a cidade com mais aparelhos desse tipo – são 257 pelas ruas do município. Em 2016, a região contava com mais do que o triplo deste número, 2.823, segundo a Anatel.

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