Região
Homem, branco, casado e com ensino superior: perfil de eleitos na região se mantém
Características de vereadores, vice-prefeitos e prefeitos escolhidos se repetem nas eleições deste ano nas cidades da região
Por Heitor Carvalho
22 de novembro de 2020, às 08h42 • Última atualização em 22 de novembro de 2020, às 08h44
Link da matéria: https://liberal.com.br/cidades/regiao/homem-branco-casado-e-com-ensino-superior-perfil-de-eleitos-na-regiao-se-mantem-1368687/
Aspectos como idade, escolaridade, gênero e grupo étnico seguem praticamente sem mudanças significativas na média do perfil dos candidatos eleitos para os cargos de vereador, prefeito e vice-prefeito nas cidades da RPT (Região do Polo Têxtil) durante as eleições municipais desse ano.
O LIBERAL compilou os dados e características que constam dos registros de candidatura na Justiça Eleitoral, na plataforma DivulgaCand. Na região, o perfil predominante de eleitos é homem, de 40 a 60 anos, branco, casado e com ensino superior completo.
Entre os vencedores do pleito desse ano na RPT para um cargo no legislativo ou no executivo, apenas oito são mulheres, entre 89 homens.
Os brancos também prevalecem sobre os demais grupos étnicos. De acordo com o critério de autodeclaração, 70 se consideram assim. Outros 19 se dizem pardos e oito se dizem pretos. Os casados também são predominantes, assim como aqueles com ensino superior completo.
O padrão observado na região é o mesmo visto no resto do País. Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o perfil médio dos mais de 58 mil vereadores e 5,4 mil prefeitos eleitos no Brasil também é homem, branco, casado e na faixa dos 40 anos.
A diferença é que o grau de escolaridade prevalente entre os vereadores é o ensino médio completo, enquanto que, entre os prefeitos, é o ensino superior completo.
Para Lígia Molina, especialista em gestão de pessoas da FGV (Fundação Getúlio Vargas), os eleitores ainda são, no geral, submissos e pensam de forma retrógrada.
“O que acontece na região é o que aconteceu no Brasil como um todo. Ainda existe a discriminação, a velha política. Ainda estamos aprendendo a exercer a democracia. Ainda estamos muito presos ao coronelismo, o que é muito ruim. Continuamos elegendo as mesmas pessoas. Nós brigamos por política, mas da esquerda à direita, é tudo a mesma coisa”, afirma.
Molina faz uma comparação com a obra A Revolução dos Bichos, do britânico George Orwell, uma fábula sobre como as revoluções acabam reproduzindo a mesma dominação social que tentavam eliminar originalmente, mantendo a estrutura do poder.
“Os animais acabam assumindo a fazenda e os porcos lideram o grupo, dizendo que os quadrúpedes são superiores aos bípedes. Essa metáfora se aplica à nossa realidade”, explica.
O advogado especialista em direito público e eleitoral, Angelo Pessini, diz que, independentemente da qualificação profissional e do nível social do candidato eleito, ele deve atender os anseios da sociedade como um todo.
Quanto à quebra de barreiras de gênero e raça, por exemplo, Pessini destaca os avanços que já foram alcançados na área nos últimos anos, como medidas do próprio TSE para maior inclusão no jogo político e o julgamento do STF que considerou constitucional a lei relacionada às cotas para negros.
“A cota de gênero também vem sendo aplicada há várias eleições, o que já trouxe impacto. Ainda estamos engatinhando, mas já começamos a desenvolver políticas afirmativas e inclusivas. Só assim podemos alterar no médio, e talvez no longo prazo, esse infeliz panorama que ainda nos deparamos no campo das eleições ”, afirma.