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Covid-19

Em rotina intensa, Covid-19 sobrecarrega trabalhadores de cemitérios da região

Equipes reduzidas e o aumento súbito de sepultamentos fez com que os trabalhadores ficassem sobrecarregados

Por Heitor Carvalho

18 de abril de 2021, às 08h20 • Última atualização em 18 de abril de 2021, às 08h21

O agravamento da pandemia da Covid-19 tem motivado uma rotina de trabalho intensa de trabalho para coveiros e funcionários dos cemitérios da RPT (Região do Polo Têxtil). Na última semana, o LIBERAL ouviu relatos de como tem sido trabalhar em meio ao aumento das mortes pela doença.

Covas são abertas no Cemitério da Saudade, em Sumaré – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Além do risco de contrair a Covid-19, equipes reduzidas e o aumento súbito de sepultamentos fez com que os trabalhadores ficassem sobrecarregados. Até esta sexta-feira, 2.062 pessoas haviam morrido vítimas do coronavírus na RPT.

Em Americana, funcionários do Cemitério Parque Gramado disseram que a demanda por enterros dobrou nas últimas semanas por conta do aumento do número de mortes.

“Nós chegamos a fazer dez, doze sepultamentos por dia nos últimos dias, sendo que a maioria é vítima de Covid-19. É muito triste”, afirmou um funcionário do cemitério que não quis se identificar.

A prefeitura confirmou o aumento. Neste mês, até o dia 16, ao menos 160 pessoas foram enterradas em Americana. No ano passado, foram 137 enterros nos 30 dias do mês. Houve uma média de dez enterros por dia neste ano. Desses, entre três e quatro estão relacionados ao coronavírus.

Em março desse ano, houve um aumento de 63% no número total de enterros realizados no município em relação ao mesmo mês do ano passado, quando havia uma média de cinco sepultamentos diários.

Nos cemitérios da região, os funcionários receberam máscaras faciais e têm álcool em gel disponível para uso. Além disso, os servidores que atuam nos funerais seguem os protocolos de biossegurança, além dos equipamentos usuais.

Aumento de mortes pelo coronavírus eleva sobrecarga no trabalho em cemitérios da região – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Segundo a Prefeitura de Americana, as equipes dos cemitérios municipais foram vacinadas e foi realizada uma desinfecção dos espaços dos cemitérios e velórios pelo Exército, além da aplicação de hipoclorito pelo DAE (Departamento de Água e Esgoto).

No entanto, nem todas essas medidas de prevenção evitaram o contágio. Dois funcionários do setor estão em isolamento na cidade, enquanto aguardam resultado de exame, sendo que cinco outros já foram infectados desde o início da pandemia.

Em Santa Bárbara d’Oeste, segundo dados da prefeitura, de janeiro a 15 de abril deste ano, foram sepultadas 244 pessoas na cidade, uma média de cerca de três enterros por dia.

No Cemitério Campo da Ressureição, ocorreram 98 dos mais de 200 funerais feitos na cidade esse ano. No local, funcionários relataram que um colega de trabalho que atua como coveiro está internado no Hospital de Campanha montado no antigo campus da Unimep.

Já no Cemitério da Paz (Cabreúva), foram sepultadas 146 pessoas esse ano, sendo que 37 delas foram enterradas apenas em abril. Segundo funcionários, a equipe, que já foi composta por 18 pessoas em anos anteriores, hoje está reduzida a três funcionários, o que tem sobrecarregado os trabalhadores restantes.

O ajudante geral Valdenir Teodoro da Silva, de 60 anos, trabalha, geralmente, na portaria do Cemitério Cabreúva, mas relatou que também atua como coveiro quando a “situação aperta”. “Aumentou bastante a rotina de trabalho. Está muito difícil”, contou.

Valdenir já foi infectado pelo novo coronavírus, mas teve sintomas leves e se recuperou. Segundo ele, o contágio ocorreu fora do cemitério.

“Apesar disso, sempre há o risco de eu pegar de novo. A minha esposa pegou duas vezes e ficou com sequelas no pulmão, além disso ela tem diabetes. Ela ficou nove dias internada, mas ainda bem que ela não precisou ser intubada”, contou aliviado.

Em Sumaré, segundo um levantamento da prefeitura, a média diária de sepultamentos em abril relacionados com a Covid-19 no município girou em torno de quatro por dia, com uma média de cerca de dez enterros por dia se consideradas todas as causas de mortes.

De acordo com funcionários do Cemitério da Saudade, dos 42 trabalhadores que atuam no local, seis deles foram infectados pelo novo coronavírus, mas não apresentaram sintomas graves.

Segundo um coveiro que não quis se identificar, no início do mês ele e sua equipe chegaram a fazer 18 enterros em apenas um dia. No dia em que o LIBERAL esteve no local, novas covas estavam sendo abertas.

A reportagem também solicitou para as prefeituras de Santa Bárbara e Sumaré os números de enterros do ano passado, mas não houve resposta até o fechamento da reportagem.

Nos cemitérios particulares, o cenário não é diferente do encontrado nos municipais. Segundo Margarete Frezzarin, administradora do Cemitério Parque Jardim dos Lírios, em Santa Bárbara, na primeira quinzena de abril foram feitos 21 sepultamentos no local.

Segunda ela, do total de enterros desse mês, cerca de 90% foram relacionados com a Covid-19. O cemitério passou de uma média diária de dois a três enterros por dia, para mais de cinco sepultamentos diários nas últimas semanas.

No Cemitério Parque das Primaveras, no Jardim Monte Santo, em Sumaré, a administração informou que foram feitos 119 sepultamentos em todo o ano de 2020, enquanto 69 foram feitos até 16 de abril desse ano.

Do total de enterros realizados no local em 2021, doze deles eram relacionados com o novo coronavírus. Além disso, dos sete funcionários do local, uma vendedora pegou Covid-19, mas o caso foi leve.

No Cemitério Parque Hortolândia, que tem administração privada e é a única necrópole do município de Hortolândia, nenhum funcionário ou responsável quis falar com a equipe de reportagem sobre a rotina de trabalho durante a pandemia.

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