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Covid-19

Cinquenta dias, incontáveis mudanças em tempos de quarentena

Isolamento, home office e deliveries passaram a fazer parte da vida de moradores da região em meio à pandemia da Covid-19

Por André Rossi

10 de maio de 2020, às 08h36 • Última atualização em 10 de maio de 2020, às 12h11

A quarentena decretada no Estado para combater a proliferação da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) completa 50 dias nesta semana.
Com as restrições impostas pelo governo, muitos tiveram a rotina, os hábitos e até o convívio familiar alterado.

O LIBERAL ouviu moradores da região para entender como a pandemia mudou a dinâmica de suas vidas.

Infectada com coronavírus, a auxiliar de enfermagem Welen (acima) passou a falar com a família só pelo celular – Foto: Arquivo Pessoal

Na linha de frente no combate ao vírus, a auxiliar de enfermagem Welen da Silva Riello, de 33 anos, que trabalha no HES (Hospital Estadual Sumaré), decidiu se isolar da família desde o dia 20 de março.

O filho Gabriel, de 8 anos, que tem asma, e a filha Nátaly, de 4 anos, foram para a casa da mãe dela, Adenilda Santos Silva, de 56, que faz tratamento de câncer.

A decisão se mostrou acertada, já que Welen foi diagnosticada com Covid-19. Atuando na UTI adulta do HES, ela apresentou sintomas leves.
O resultado do teste surpreendeu e fez com que o esposo Alessandro Soares Velozo se isolasse na casa da sogra, já que testou negativo para o o novo coronavírus.

“Só coletei mesmo o exame porque tive esse pigarro na garganta e minhas colegas comentaram que iam coletar o exame. Eu falei ‘vou também porque vai dar negativo’ e levo o exame pra minha mãe ver que eu estou bem e poder ver meus filhos. Descobri que estava infectada e não tive maiores complicações. Tive sorte, não são todos que têm. Tenho colega da enfermagem internada em estado grave na UTI”, contou Welen.

A quarentena da profissional termina hoje e o retorno ao trabalho ocorre na terça-feira. Além da ansiedade para ajudar os colegas, já que o volume de trabalho está elevado, Welen conta as horas para rever a família.
O aniversário da filha, que completou 4 anos na última quarta-feira, teve de ser comemorado por videoconferência.

Motociclista passa por blitz em Santa Bárbara; máscara se tornou acessório comum na quarentena – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

“É difícil ficar sem ver ela [filha]. A gente fica emocionada com tudo que estamos passando. Ela mesma, tadinha, chorou bastante. É criança, né. Não entende por que a mãe está longe”, disse Welen.

Há mais de 50 dias sem ver a filha, Adenilda conta que o período tem sido difícil para os netos. “As crianças sofrem muito porque pedem a mãe, querem ir pra casa”, diz.

Aprender a lidar com as obrigações do dia a dia dentro de casa não foi uma novidade apenas para crianças. Muitos trabalhadores tiveram de adotar o home office.

Shaine Vaz Martins – Foto: Arquivo Pessoal

É o caso da gerente de marketing digital Shaine Vaz Martins, de 30 anos. A estratégia de montar um “escritório” e tentar concentrar o trabalho apenas em um local não funcionou por muito tempo.

“Já trabalhei em todos os lugares da casa. Já trabalhei em pé na cozinha porque estava cansada de ficar sentada. Vou no balcão e coloco o notebook. Aí vou no sofá. Tenho o escritório certinho com mesa, cadeira, mas tem dia que eu nem entro lá. Coloquei uma rede no quintalzinho do apartamento, deito e vou fazer as coisas de lá”, comentou Shaine.

Uma lousa na bancada do escritório virou contador dos dias em isolamento. No tempo livre, ela começou a ajudar amigos que estão com dificuldades. Desde criar páginas nas redes sociais para divulgar serviços até montar apresentação de portfólio.

Para algumas pessoas, a mudança foi benéfica. A artista visual americanense Nicole Ramos de Souza, de 22 anos, que assina suas obras como Nicolice, estava acostumada a produzir no sketchbook e com materiais que fossem fáceis de carregar, porque a maior parte do seu dia se passava fora de casa.

Com a quarentena, ela começou a produzir com materiais diversos. Apesar do desafio de estar em isolamento, ela afirma que nunca produziu tanto.

“Eu não posso reclamar de como está me afetando no meu lado artístico porque é aqui no meu quarto que tem o meu mundo, e é onde eu consigo colocar as coisas que me inspiram. Estou pintando outras superfícies, brincando com texturas, tintas, coisas que eu nunca tive a oportunidade de fazer antes”, apontou Nicole.

Elisson Figueiredo Filho – Foto: Arquivo Pessoal

A quarentena fez com que proprietários de casas noturnas buscassem outras formas de continuarem atuando. Sem poder abrir as portas e ciente de que a retomada será lenta, o proprietário do pub John Gow, em Americana, Elisson Figueiredo Filho, de 41 anos, adotou o sistema de delivery e conseguiu adaptar 40% dos pratos para o modelo, o que trouxe um novo público.

“Muita gente via o John Gow como uma balada, casa de show. Algumas pessoas ligam e falam ‘não sabia que vocês tinham uma cozinha’. A gente acabou levando nossa cozinha para pessoas que não iam lá por achar um lugar mais de jovem”, afirmou Elisson.

Hellder e Carolina – Foto: Divulgação

Entretanto, a quarentena também agravou a crise econômica e provocou demissões em alguns casos. Hellder Augusto Mateucci, de 33 anos, era auxiliar de cozinha em uma hamburgueria de Americana e acabou perdendo o emprego.

A opção foi unir forças com a namorada Carolina Zério, de 25, que vendia semijoias de forma autônoma e também teve rendimentos afetados.

O casal começa nesta semana a servir poke, um prato típico do Havaí, feito com peixe cru. Com o nome de Monoke Poke, eles vão trabalhar com delivery em Americana e Santa Bárbara.

“Estamos apreensivos. A ideia é conseguir pagar as contas. A gente não acha que vai deslanchar, aumentar ou simplesmente voltar a ter o faturamento que nós tínhamos com os trabalhos normais”, explicou Hellder.

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