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Pandemia

Bolha de pessoas suscetíveis vai ser afetada pelo novo coronavírus

Crescimento de casos mostra reversão na tendência de queda; médica reforça a importância de utilizar máscaras

Por Marina Zanaki

28 de novembro de 2020, às 07h26

A segunda onda do novo coronavírus (Covid-19) vai afetar principalmente os bolsões de suscetíveis ao vírus. Trata-se da população que se manteve em isolamento e tem começado a retomar a circulação, passando a ficar em contato direto com a doença.

O apontamento foi feito pela professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Maria Rita Donalisio Cordeiro. A médica avalia que o aumento de casos observado nas últimas semanas na região já é suficiente para acender o alerta na população e no serviço público. Mesmo que não seja uma segunda onda, ele já indica uma inversão na tendência que vinha sendo observada.

Maria Rita: Médica faz alerta sobre os cuidados a serem tomados no final do ano – Foto: Arquivo Pessoal

A médica conversou com o LIBERAL e reforçou a importância do uso de máscaras. Ela também defende extremo cuidado no final de ano, evitando aglomerações.

LIBERAL – Temos observado aumento nos casos em Americana, assim como em Campinas e no próprio Estado de São Paulo. O quanto isso já é preocupante em relação a uma segunda onda da pandemia?

Maria Rita Donalisio Cordeiro
Estamos preocupados mesmo. Temos visto em várias regiões do Brasil, capitais, na nossa região de Campinas, aumento de casos leves, com sintomas gripais, nas internações. Ainda não temos impacto nos óbitos, mas já é preocupante.

Independente de ser a chamada segunda onda, é uma inversão da tendência de queda na incidência. Se será um repique, uma leve subida, uma segunda onda, as proporções, não sabemos. Ainda temos um percentual muito grande de suscetíveis, que não entraram em contato com o vírus, pessoas que foram expostas e agora estão adoecendo.

Isso nos preocupa muito, porque mesmo que sejam os mais jovens e adultos se expondo mais, essa população traz o vírus para os idosos, familiares, pessoas mais vulneráveis.

Essa subida da curva preocupa porque tem muita gente que não teve contato com o vírus, muitos que tiveram privilégio de certo afastamento social e que mais recentemente viu certo relaxamento. Essa subida é um reflexo do relaxamento de medidas de prevenção.

Usar máscaras é forma de evitar o vírus – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

LIBERAL – O que seriam essas bolhas de suscetíveis? Os novos casos devem ocorrer basicamente nesses grupos?

Maria Rita
É mais ou menos natural. Teve um grupo que se protegeu e agora está exposto, uma população “virgem”, que não teve nenhum contato com o vírus e está se expondo. Isso explica parte da subida, mas têm pessoas que já transitaram e eventualmente não se infectaram no começo.

Sabemos por um estudo recente europeu que existem mutações do vírus. Foi identificado na Espanha um vírus um pouco mais transmissível, com capacidade de circulação maior que o início da pandemia, quadros mais leves, mas existe uma maior facilidade de circulação.

Ainda não há estudos se essa variante viral circula no Brasil, mas pode acontecer. Fim de ano, festas, sentimento que a pandemia não é mais um problema, podemos potencializar a circulação.

LIBERAL – O que o poder público pode fazer para evitar isso? E a população de modo geral?

Maria Rita
Acho que a mensagem do poder público tem que ser muito clara. Não resolvemos ainda, e vivemos uma situação de risco.

O que podemos fazer individualmente é manter a máscara, o impacto é muito alto na prevenção. É uma barreira física. Isso interfere na gravidade dos casos, na transmissão. Evitar lugares fechados e aglomerados, principalmente no final do ano. A instituições de saúde precisam ter recursos para planejar essa assistência, não só dos casos leves.

A rede básica tem que estar preparada para o atendimento precoce. Temos visto que a mortalidade dos pacientes internados diminuiu muito. As equipes assistenciais dos hospitais aprenderam muito com esses primeiros meses da pandemia.

O poder público deve investir nisso, não só no hospital, mas na rede básica. Treinar as equipes para identificar precocemente pacientes que podem agravar. E aumentar a testagem para identificar onde o vírus circula.

LIBERAL – Apesar da redução na mortalidade pelo maior conhecimento da doença, e das perspectivas de vacinas, o cenário ainda está sombrio?

Maria Rita
Sim, porque está todo mundo muito cansado. Cansado do afastamento social, da crise econômica. As equipes de saúde se encontram exaustas. É uma situação de insegurança para os envolvidos, e não temos certeza quanto a vacina na prática, na população em geral, vai ser efetiva.

Mas acho que a confiança nas instituições públicas, na mensagem dos gestores de saúde, é muito importante neste momento. Na minha opinião, não temos isso no Brasil pelo Ministério da Saúde. Temos alguns municípios que se empenham mais, e algumas secretarias estaduais que têm uma coesão maior.

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