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Supermaconha

Apreensões de K4 em presídios da RPT aumentam 50% em 2021

Maconha mais "potente", droga sintética pode ser aplicada em folha de papel, facilitando a entrada nas unidades prisionais da região

Por Heitor Carvalho

06 de junho de 2021, às 08h16

As apreensões da droga K4, um tipo de maconha sintética, dispararam nos presídios da RPT (Região do Polo Têxtil) nos primeiros meses de 2021 em relação ao ano passado, de acordo com dados da SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária).

Perita criminal faz análise de drogas em laboratório do Instituto de Criminalística, em Americana; presença da K4 teve aumento – Foto: Marcelo Rocha – O Liberal.JPG

Enquanto em 2020 houve um total de 20 apreensões na região, sendo todas por meio de correspondências, até o início de maio desse ano, 30 apreensões da droga já foram registradas em presídios da região, seja através dos Correios ou trazidas por visitas, um aumento de 50% em relação ao ano passado.

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Os dados são referentes às unidades prisionais que integram o Complexo Penitenciário Campinas–Hortolândia, localizado no limite entre os dois municípios. No CDP (Centro de Detenção Provisória) de Americana e no CR (Centro de Ressocialização) de Sumaré não houve registros de apreensões de droga K4 no período.

A K4 é formada por substâncias que têm uma reação semelhante, porém, mais potente que o THC, principal substância psicoativa encontrada na maconha comum.

As moléculas da K4 são criadas em laboratórios clandestinos e projetadas para serem semelhantes ao THC, só que com maior potência.

Geralmente, esse tipo de canabinoide sintético é pulverizado sobre matéria vegetal, como papel, e fumado. Após ser impregnado com a droga, o papel é cortado e vendido.

De acordo com Fábio César Ferreira, presidente do Sifuspesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo), a K4 tem ganhado popularidade há mais de um ano nas penitenciárias do Estado justamente por ser fácil de transportar e burlar a vigilância.

“Como a K4 pode ser borrifada em papel ela tem uma facilidade muito grande para entrar nas prisões. Na minha unidade hoje em dia, por exemplo, nós não deixamos mais entrar papel higiênico ou sulfite com as visitas ou pela correspondência”, disse Fábio.

“Quem costuma enviar esse tipo de droga são os familiares, seja em visitas, através do Sedex ou mesmo em alimentos. Isso é um fato. A maioria das apreensões são feitas através do nosso escâner corporal”, explicou.

Segundo a SAP, todas as unidades têm escâner corporal, aparelhos de raio-X e detectores de metais que ajudam a coibir a entrada de ilícitos. Quando uma droga é apreendida, é aberta uma investigação que pode punir o preso, internamente, além de quem tenta enviar os entorpecentes.

Diferente da forma orgânica da maconha, versão sintética pode ser borrifada em folhas de papel – Foto: Divulgação

Depois de apreendidas, as drogas são enviadas para análise pericial no IC (Instituto de Criminalística) da Polícia Científica, que em Americana está localizado no Loteamento Industrial Nossa Senhora de Fátima.

Essa análise, conforme explicou ao LIBERAL a perita criminal Ingrid Barbosa, é feita por meio de um equipamento denominado cromatógrafo gasoso acoplado a um espectrômetro de massas, onde as substâncias são separadas e identificadas.

Segundo a perita, a cromatografia gasosa é a técnica usada na separação dos compostos químicos presentes nas drogas sintéticas, enquanto a espectrometria de massa identifica e quantifica estes componentes.

“K4 é um termo geral para os canabinoides sintéticos, os quais existem diversos compostos diferentes, sendo que o que o equipamento faz é justamente identificar que tipo específico de canabinoide sintético está sendo apreendido. Dos sintéticos, a K4 tem sido a droga mais apreendida aqui”, afirmou Ingrid.

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Riscos
Renato Filev, neurocientista e pesquisador, formado em ciências biomédicas pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), desenvolveu seu doutorado no programa de pós-graduação em neurociência estudando os mecanismos terapêuticos dos canabinoides e outras substâncias psicoativas.

Ele explicou que drogas sintéticas podem ser mais potentes por terem substâncias que ativam de maneira parcial ou total os receptores celulares.

No caso do THC, o receptor é ativado parcialmente. Já os sintéticos o ativam plenamente, o que faz com que o efeito permaneça por mais tempo, sejam mais intensos e até mais arriscados do que o consumo dos canabinoides naturais da planta.

“Até porque a gente não sabe quais princípios ativos estão presentes nessas substâncias visto que não existe uma regulação e também porque a interação entre elas também pode potencializar os efeitos”, afirmou.

Inicialmente, segundo o neurocientista, os canabinoides foram sintetizados para estudar o sistema de receptores nos quais se ligam. No entanto, ao longo do tempo, essas substâncias passaram a ser utilizadas para burlar a proibição da cannabis.

De acordo com Renato, o aumento de sua popularidade desse tipo de droga nos últimos anos está correlacionado com o fato de a maconha ainda ser considerada uma droga ilegal na maioria dos países do mundo. “Acho que, em um cenário onde existe uma regulação de um acesso a canabinoides naturais, o uso de sintéticos tende a diminuir”, concluiu.

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