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Clandestinos

Após prisão de policiais, PM muda estratégia contra bingos na região

Corporação passou a controlar informação dentro do batalhão e fechou três locais clandestinos em Americana nos últimos 20 dias

Por Leonardo Oliveira

26 de novembro de 2019, às 10h30 • Última atualização em 26 de novembro de 2019, às 10h31

A prisão de cinco policias envolvidos em jogos de azar na RPT (Região do Polo Têxtil), no início do mês, fez com que o 19º BPM/I (Batalhão de Polícia Militar do Interior) mudasse sua metodologia de atuação nos casos que envolvem esse tipo de crime, resultando no fechamento de três bingos em menos de 20 dias – ao todo, foram seis apreensões de caça-níqueis em novembro.

Ao LIBERAL, o tenente-coronel Luiz Horácio Raposo Borges de Moraes, que comanda o batalhão responsável pelo policiamento de Americana e Santa Bárbara d’Oeste, entre outras cidades, afirma que os resultados das operações recentes são fruto justamente de mudança interna na fiscalização dessas ocorrências.

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“Nós mudamos internamente a metodologia de atuação com relação ao combate ao caça-níqueis até por conta da recente descoberta de policiais militares nesse tipo de contravenção. Agora as informações são destinadas diretamente aos oficiais,que estão atuando no patrulhamento, de forma que tenham a menor circulação desse tipo de informação e isso tem trazido resultados”, ressalta Horácio.

Foto: Polícia Militar / Divulgação
No último domingo, bingo foi fechado na Rua Jorge Jones, no Centro de Americana

Além disso, neste período do ano, por conta do 13° salário, os próprios donos de bingos clandestinos denunciam os estabelecimentos concorrentes na tentativa de angariar frequentadores, de acordo com Horácio. A Polícia Militar suspeita que isso tenha acontecido na noite deste domingo, quando um bingo da Rua Jorge Jones, no Centro, foi fechado.

Chegou via Copom (Centro de Operações da Polícia Militar) a informação de um roubo com refém em andamento no local, mas, quando se dirigiram ao imóvel, policiais verificaram que lá funcionava um bingo com 72 máquinas caça-níqueis e não havia sinais do assalto. As máquinas foram apreendidas e as partes liberadas pela Polícia Civil.

Antes, as ocorrências eram descobertas por meio de denúncias, passadas para a área de operações da corporação, que realizava ações esporadicamente nos locais relatados. Desta forma, a informação chegava a um grande número de policiais, sendo mais fácil de ser corrompida.

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No último dia 4, a Operação Bellagio, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime) de Piracicaba, apontou que três policiais militares lucravam de R$ 50 a R$ 100 por dia para fazer a segurança de um bingo clandestino da Vila Dainese, em Santa Bárbara.

Outros dois policiais civis recebiam até R$ 2 mil de propina para não investigar denúncias sobre o local, de acordo com o Ministério Público – os cinco foram presos, junto com outras cinco pessoas. Depois deste episódio, o tenente-coronel decidiu filtrar o caminho que a informação percorre.

Em casos de suspeita da prática de jogos de azar, a ocorrência é passada somente para um oficial, que é o responsável por averiguar a situação. Esse policial é de uma patente mais elevada dentro da corporação (de segundo tenente até tenente-coronel). Somente no dia da abordagem é que uma equipe é avisada da ação.

Além disso, os oficiais acionados são aqueles que cumprem DEJEM (Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho Policial Militar), uma espécie de “hora extra” da PM. Com isso, não é utilizado o efetivo de procedimento ordinário da corporação, evitando a sobrecarga em um tipo de ocorrência que costuma demorar mais para ser concluída.

Clandestinos

Os bingos clandestinos da região são estruturas cada vez mais equipadas na tentativa de fugir do radar de fiscalização da PM (Polícia Militar). Essa é a avaliação do capitão Antonio Carlos Rugero, que comandou algumas das apreensões de caça-níqueis realizadas em Americana neste mês.

Na tentativa de evitar o flagrante, as máquinas são controladas remotamente. Em caso de aproximação de fiscais, basta um botão ser acionado para que as máquinas se tornem jukebox (aparelho eletrônico que toca músicas escolhidas pelo cliente) ou videogames, segundo o tenente-coronel Horácio.

“É aquela coisa totalmente desprovida de senso comum você ter uma pessoa a quilômetros de sua residência, durante a madrugada, jogando uma máquina de videogame. Mas, para quem quer acreditar nesse tipo de coisa, é muito comum”, disse ao LIBERAL.

De acordo com Rugero, o sistema de segurança dos estabelecimentos, são similares. Câmeras são espalhadas em todo o quarteirão que cerca o imóvel para que os proprietários saibam da presença de policiais. O dinheiro arrecadado é retirado constantemente para não manter uma quantia alta em caixa em casos de apreensão.

As máquinas oferecem prêmios de até R$ 20 mil e dão a possibilidade de o cliente pagar tanto em dinheiro quanto em cartão. Na apreensão da semana passada, em um bingo da Avenida Paschoal Ardito, policiais militares descobriram que os pagamentos realizados no cartão iam para a conta de uma mecânica, afirmou o capitão.

“A pessoa tem que entender que não tem nada a ganhar lá. Ele está contribuindo para uma atividade criminosa, uma lavagem de dinheiro de associação criminosa, que isso vai se reverter para o mal da própria sociedade”, disse Rugero.

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