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Covid-19

Insultos viram rotina de fiscal da prefeitura em Hortolândia

Relato sobre situação foi feito por um dos responsáveis por fiscalizar comércios e dispersar aglomerações durante a quarentena

Por George Aravanis

30 de maio de 2020, às 07h44

“Fiscal de merda”, “puxa saco”, “vou mandar minhas contas pra você”. Nos últimos dois meses, as palavras se tornaram parte da rotina de Carlos (nome fictício), um dos profissionais responsáveis por fiscalizar os comércios e dispersar aglomerações em Hortolândia durante a quarentena decretada por causa do novo coronavírus (Covid-19). “É daí para pior”, resume Carlos, que tem 16 anos na função e viveu, no último dia 18, seu pior momento profissional.

Guarda foi chamada por fiscais durante autuação contra gráfica em Hortolândia – Foto: Reprodução

Ele autuava uma gráfica que atendia presencialmente um cliente sem máscara, mas os donos se negaram a fechar e começaram a insultá-lo, segundo o fiscal.

A Guarda Municipal teve de agir, houve confusão e todo mundo foi parar na delegacia. A gravação do episódio, feita pelos infratores, acabou nas redes sociais.

Começaram os ataques virtuais. “[Colocaram] A minha foto escrito safado, sem vergonha, tem que matar, tem que passar com o carro em cima”, contou o fiscal.

Ele disse à esposa e ao filho que era coisa de “molecada”, mas admite que ficou apreensivo. O nome dele não é revelado neste texto a pedido do fiscal, para evitar represálias.

As ofensas e a hostilidade não são raridade. Carlos estima que cerca de 40% dos comerciantes que estão funcionando irregularmente o recebem mal.
Em suas duas rondas diárias – das 9 às 13h e das 19 às 22h – , um dos argumentos que o fiscal leva no bolso para os debates inevitáveis com os comerciantes é que a pandemia não é um problema exclusivo de ninguém. Serve para rebater uma das coisas que mais ouve: “vou mandar minhas contas para você”. Carlos lembra ao infrator que o coronavírus afeta o mundo todo.

Porém, o servidor público reconhece que a maioria dos comércios tenta trabalhar direito. Os estabelecimentos classificados como essenciais, por exemplo, organizam filas e buscam manter o distanciamento. Quem não ajuda, afirma, são os próprios consumidores.

Carlos exemplifica com o caso de um supermercado que só pode atender 100 pessoas ao mesmo tempo. O comércio respeita a regra. “Só que você chega no lugar, dessas 100, 60 estão lá aglomeradas na rotisserie.”

A situação se repete nas ruas. Até cerca de um mês atrás, quando o clima estava mais ameno, conta o fiscal, as praças tinham cara de véspera de feriado toda noite. “O pessoal colocava mesa na calçada, dez, 12 pessoas tomando cerveja, jogando baralho.”

CALMA
Ao se deparar com situações do tipo, ele pede para o locutor do carro de som mandar uma mensagem pelo alto-falante para dispersar. Mas tem sempre um ou outro que não respeita.

Apesar de ser hostilizado muitas vezes, o profissional diz que entende e que sempre prega calma aos colegas de fiscalização.

Podcast Além da Capa
Solidariedade e apoio aos necessitados marcam a luta contra o novo coronavírus (Covid-19) nas periferias da RPT (Região do Polo Têxtil). O LIBERAL visitou moradores do acampamento Roseli Nunes e da favela Zincão, em Americana, e da ocupação Vila Soma, em Sumaré, e observou como eles se unem para enfrentar as dificuldades provocadas pela pandemia. Nesse episódio, o editor Bruno Moreira recebe o repórter André Rossi, que esteve nas comunidades, para repercutir essa apuração.

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