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LIBERAL Entrevista

‘Vivemos uma aparente tranquilidade’, diz superintendente da Unimed

Superintendente de provimento da saúde da Unimed fala da preparação do hospital em Americana e Santa Bárbara

Por João Colosalle

26 de abril de 2020, às 09h10 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 11h52

Um dos principais planos de saúde da região, a Unimed Santa Bárbara d’Oeste e Americana tem sentido os reflexos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

Na unidade americanense, foram feitas alterações no fluxo de atendimentos e na segurança dos profissionais de saúde.

Até a manhã deste sábado, eram seis funcionários em isolamento domiciliar, entre eles, dois com diagnóstico positivo, e nenhum paciente internado com a doença.

Assim como infectologistas do município preveem, há expectativa de aumento da demanda nos atendimentos nas próximas semanas na unidade.

Foto:
O médico e superintendente da Unimed Santa Bárbara e Americana, Gustavo Quinteiro

Para o superintendente de provimento da saúde do hospital, Gustavo Quinteiro, a região vive uma “aparente tranquilidade” em relação à doença, que pode mudar até o final de maio.

Ele falou sobre o assunto ao LIBERAL neste sábado, por e-mail. Leia os principais trechos.

Quais foram as principais mudanças no hospital da Unimed em Americana por conta da pandemia?
Desde o surgimento dos primeiros casos na China, no final de 2019, e principalmente em janeiro, passamos a sentir mudanças significativas no mercado da saúde. Um dos primeiros setores sensíveis foi o de compras. Com isso demos início a um novo planejamento da gestão de insumos.

Diante dos primeiros casos no Brasil, a Unimed Santa Bárbara d’Oeste e Americana criou um comitê de crise e o desenvolvimento de um plano de contingência, baseado em recomendações das autoridades sanitárias local e do Ministério da Saúde.

A principal mudança passa pela criação de um fluxo diferenciado para pacientes com queixas respiratórias com o intuito de centralizar esforços humanos e materiais. O atendimento de queixas respiratórias e gripais passou a ser centralizado no anexo hospitalar.

Além disso, houve a destinação de três salas de isolamento no pronto atendimento para suporte a pacientes na emergência e, no regime de internação hospitalar, duas enfermarias foram destinadas e preparadas para isolamento e suporte aos pacientes com quadros suspeitos da Covid-19.

Foram implementadas também medidas de distanciamento social nas visitas e para os acompanhantes dos pacientes, além do cancelamento de cirurgias eletivas.

Houve aumento no atendimento de pessoas com problemas respiratórios no hospital, como registrado em capitais do País?
Sem dúvida, a maior parte dos pacientes atendidos hoje procura o serviço devido aos sintomas e medos secundários ao Covid-19. Porém, essas estatísticas não refletem que as demais queixas deixaram de existir.

Isso também nos preocupa muito e é um dos motivos pelos quais estamos trabalhando para promover acesso ao corpo clínico da Unimed por outras ferramentas e mantendo o atendimento ambulatorial de forma segura para não gerar desassistência.

No domingo, o LIBERAL publicou entrevista com dois infectologistas da cidade que disseram esperar que as próximas semanas sejam de uma alta de infecções e na demanda hospitalar. Vocês também esperam que essa demanda local aumente?
Sim, acreditamos que de fato hoje ainda vivemos uma “aparente tranquilidade” por conta do bloqueio realizado na capital e nas demais cidades da Região Metropolitana de Campinas. Porém, à medida que o trânsito de pessoas volte a se normalizar, teremos incremento do número de casos e a perspectiva é que isso ocorra no final de maio.

Mas talvez a realidade para a qual a sociedade vai precisar se preparar é que, enquanto a comunidade local não apresentar imunidade e não for disponibilizada uma vacina para a Covid-19, teremos sempre a possibilidade de estar diante de um caso suspeito da doença e isso significa mudanças importantes dos aspectos culturais e técnicos do nosso dia a dia.

O pico de atendimento poderá trazer impactos significativos nos serviços de saúde da nossa região e essas mudanças persistirão no nosso dia a dia ainda por muito tempo.

Qual é a estrutura da Unimed para atender uma alta na demanda?
O hospital preparou duas novas enfermarias para possibilitar a internação em isolamento de pacientes com quadros suspeitos, uma destinada a crianças e adultos com quadros leves e moderados que necessitem de medidas de observação e tratamento sem suporte ventilatório e outra unidade de cuidados críticos, que conta com isolamentos e suporte ventilatório para os pacientes graves e severos. O dimensionamento da estrutura de atendimento foi preparado conforme os dados dos piores cenários já vividos em outras localidades.

Hoje, qual é o percentual de leitos do hospital em Americana ocupados no setor que pode receber pacientes da Covid-19?
Hoje, o Hospital Unimed Americana apresenta uma taxa de ocupação de 25% dos leitos destinados aos pacientes em isolamento respiratório, sendo que todos aguardam exames. Atualmente, não temos pacientes confirmados internados em nosso hospital.

O hospital de Americana tem funcionários afastados com diagnóstico de coronavírus ou suspeita de infecção?
A partir do início da transmissão comunitária do Covid-19, a organização adotou medidas para vigilância e monitoramento de beneficiários e de colaboradores e cooperados com casos suspeitos e confirmados. Atualmente, a organização tem seis colaboradores em isolamento domiciliar, sendo dois casos confirmados e quatro suspeitos.

Como a Unimed tem lidado com a segurança dos profissionais que atuam no hospital?
Dentro do plano de contingência da organização um dos cinco pilares é o de gestão de pessoas. Os recursos humanos sem dúvida são o de maior dificuldade para serem “repostos” em qualquer cenário, ainda mais em momentos de crise como o que estamos enfrentando.

Com isso, estamos trabalhando muito próximos de nossos colaboradores e cooperados para a disponibilização de equipamentos de proteção individual e, junto do Núcleo da Qualidade, com treinamentos e orientações constantes sobre sua correta utilização.

Nesta semana, o Conselho Federal de Medicina deu um parecer favorável ao uso da hidroxicloroquina em pacientes com sintomas leves. O hospital fará o uso do medicamento nessas condições, caso entenda necessário?
O hospital se baseia em evidências científicas sólidas para criação de seus protocolos assistenciais e até o momento tal medicação não oferece evidência para seu uso em todos os pacientes.

De fato, o CFM possibilitou, a critério do médico, a prescrição dessa medicação e seu uso deve ser analisado caso a caso. É muito importante ressaltar que, não só nos casos de Covid-19, o hospital possibilita e promove a discussão clínica para o melhor resultado assistencial aos beneficiários.

A Unimed tem promovido alguns serviços para ajudar o paciente, por exemplo, a identificar se tem sintomas de Covid-19 por meio de um aplicativo ou por telefone. Qual a relevância dessas medidas para o momento?
Certamente o pós-pandemia trará mudanças importantes em toda a sociedade, inclusive na forma de oferecer cuidados em saúde.

A intenção com essas medidas é, além de manter-se na vanguarda da assistência à saúde, possibilitar a diminuição dos riscos aos beneficiários que, muitas vezes, acabam expostos com o deslocamento até o serviço de saúde, e permitir também que otimizem seu tempo.

Como tem sido para o senhor, como médico, lidar com uma situação tão atípica como a pandemia do novo coronavírus?
Diante da crise proporcionada pela pandemia da Covid-19 com características sem precedentes, previsibilidade, fronteiras e os reflexos humanitários, sociais, econômicos e culturais, o momento gera grandes desafios para todas as esferas pessoais, profissionais e de gestão.

Acredito que todo esse momento servirá para reafirmar aquele sonho de infância de poder ajudar e atender ao próximo, e de fato teremos que reaprender a fazer muitas coisas que fazemos hoje e manter o foco nas possibilidades de mudanças no atendimento em consultório e na operação de saúde.

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