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Através do tempo

Usina Hidrelétrica de Americana chega aos seus 70 anos

História da cidade caminha junto com a geração de eletricidade, ampliada em 12 vezes com a inauguração na represa em 1949

Por Marina Zanaki

17 de novembro de 2019, às 08h23

A Usina Hidrelétrica de Americana, que possibilitou à cidade entrar na era das primeiras tecnologias elétricas, completa 70 anos na próxima terça-feira. Uma obra construída “através do tempo”, define Douglas Guzzo, atual diretor do Hospital São Francisco e que trabalhou por 35 anos na CPFL.

Passando por diversos cargos na empresa, ele acumula um conhecimento sobre a história da usina que se entrelaça à trajetória do desenvolvimento da própria cidade. Guzzo chegou a ser presidente da Fundação Companhia Energética de São Paulo (Cesp) e encerrou a carreira na empresa como assessor da presidência da CPFL.

Foto: Arquivo / CPFL
Projeto da usina é de 1940 e a construção aconteceu ao longo dos anos

“O projeto foi de 1940, e construção em 1941, 42, 43, 44, demandou anos (foi finalizada em 1949). Não tinha nada, é só você fazer retrospectiva e ver o que tinha naquela época. Nem máquina de somar, usinagem de concreto, era tudo manual – carrinho de mão, concreto transportado, andaimes”, conta Guzzo.

Ele chegou a conhecer um dos engenheiros da obra, que já faleceu, e conta que seu pai trabalhou na usina. Guzzo nasceu em uma das vilas de usinas – nessa época, seu pai atuava na Usina Hidrelétrica de Gavião Peixoto, localizada na cidade paulista de mesmo nome.

Guzzo recorda que acompanhou a construção de outras usinas durante o período em que trabalhou na CPFL e que testemunhou um verdadeiro “formigueiro” em épocas com muito mais recursos do que a década de 1940.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Capacidade da Usina de Americana é de
30 megawatts

“Imagino que algumas milhares de pessoas trabalharam direta ou indiretamente em Americana, fazendo terraplanagem, concretagem, fazer desvio do rio. Quando você fala em barragem, é como se fosse uma saia. Você tem a crista da barragem, tem a barra e a cintura, e a altura”, explica.

A inauguração da usina contou com a presença do então governador do Estado de São Paulo, Ademar de Barros. Na época, a usina construída em Americana era uma das maiores do país, com capacidade de 30 megawatts, que permanece até hoje. A maior usina do Brasil atualmente é a de Itaipu, com 14 mil megawatts.

Guzzo acredita que a construção de uma usina com esse porte, que ampliou em 12 vezes a capacidade de geração de energia em Americana, ocorreu por uma visão “futurista” da CPFL.

“A expansão de energia elétrica deu justamente a oportunidade de crescer em tecnologia, com o surgimento de grandes empresas. Também surgiu o mercado consumidor junto com essa usina. Antes era só lâmpada dentro de casa. Hoje tem lavadeira, fogão elétrico, aquecedor, ferro, televisão, ar-condicionado, todos equipamentos eletrônicos”, exemplifica Guzzo.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Douglas Guzzo: visão “futurista” da CPFL para construir a usina

HISTÓRIA

A identidade histórica da cidade de Americana como Princesa Tecelã está intimamente ligada à capacidade de geração de energia elétrica. A primeira tecelagem de Carioba em 1875 veio acompanhada da primeira roda d’água, que tinha capacidade de apenas 250 quilowatts.

Vendida ao alemão Franz Müller em 1907, a empresa viu sua capacidade de produção ampliada quando o novo proprietário construiu uma usina hidrelétrica na queda d’água de Salto Grande.

Inaugurada em 1911, ela possibilitou uma potência inicial de 2.500 quilowatts e que passou a fornecer energia para Americana, Cosmópolis, Santa Bárbara d’Oeste e Sumaré (na época, Rebouças). Ela foi vendida à CPFL em 1930 e a obra da atual usina teve início em 1940.

‘Meu sangue não é sangue, é elétrica’

Michel Semensato Simões cresceu em meio às usinas hidrelétricas, nas vilas que eram destinadas a famílias de funcionários. Hoje, aos 40 anos, é supervisor de sete usinas – duas das quais ele morou. Ele também é o responsável pela Usina Hidrelétrica de Americana.

As lembranças de Michel das vilas de funcionários mostram que a experiência foi decisiva em sua trajetória de vida.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Michel Simões: lembranças das vilas de funcionários

“Como é uma área rural onde eu estava, aprendi muito com animais da roça. Não podia ter contato com a usina, era proibido. Mas ia mesmo assim e fui expulso várias vezes”, recorda.

Por conta desse contato com a vida rural, estudou para atuar na área agrícola. Contudo, a paixão por eletricidade falou mais alto e aos 19 anos ele começou um curso de elétrica. Michel começou a prestar serviços para a CPFL em 2001 e foi contratado em 2010.

No ano seguinte, passou para a supervisão das unidades de Americana, Jaguari, Socorro, Três Saltos, Solar Tanquinho, Salto Grande e Lençóis Paulista – nessas duas últimas, ele morou durante a infância e adolescência.

“Meu sangue não é sangue, é elétrica. Sou nascido aqui dentro. A paixão por água, hidrelétrica, turbina, geradores, depois conhecendo automação, isso foi abrindo a minha mente”, declarou.

A vila da Usina de Americana chegou a abrigar 27 funcionários com suas famílias. Essas comunidades tiveram, no início, até mesmo escolas para as crianças. Na época em que Michel morou nas vilas, os colégios haviam sido desativados e a CPFL enviava uma perua para fazer o transporte dos estudantes às escolas.

Apesar de nunca ter morado na Usina de Americana, Michel se lembra de confraternizações de final de ano. Ele recorda que diversas vilas ficavam longe da cidade, e que o acesso a alguns serviços era complicado, como por exemplo hospitais. Comer um pão fresco era raro, já que as padarias ficavam longe da vila. “Por isso muitos cozinhavam, faziam pão caseiro, era a festa”, lembra.

Com a automatização dos processos a partir de 2001 e a aposentadoria de diversos funcionários, as casas das vilas deixaram de ser ocupadas por famílias. Hoje, são usadas como prédios administrativos, centros de controle e até para treinamentos de novos profissionais.

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