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Notícias que inspiram

Uma ‘Princesa de Luz’ muito especial

Livro escrito pela mãe narra trajetória da vida de adolescente que nasceu com Síndrome de Down

Por Jucimara Lima

26 de junho de 2022, às 10h30 • Última atualização em 26 de junho de 2022, às 10h35

A próxima quarta-feira, 29 de junho, será um dia muito especial para a dona de casa americanense Vania Miano Zanaga, de 46 anos. Apesar de ser a data escolhida para lançar o seu livro “As Flores de Bia – Um amor Transcedental”, o dia também marca o que seria o aniversário de 18 anos de sua “Princesa de Luz”.

A história de amor, fé, luta e muita conexão entre mãe e filha começou no dia 29 de junho de 2004, quando Beatriz Miano Zanaga veio ao mundo em uma noite de inverno. Apesar de ter tido uma gravidez tranquila e um parto relativamente bom, o primeiro susto da nova mamãe aconteceu ainda na sala de cirurgia.

“Quando ela nasceu deu um ‘corre corre’ e eu não ouvi ela chorar, então, em um primeiro momento, cheguei a pensar que ela tinha morrido. Depois dessa pequena confusão, trouxeram ela para perto de mim. Dei um beijo nela e pensei: ‘Graças a Deus ela é perfeita’”.

Apesar da partida precoce, Bia continua presente na vida de Vania – Foto: Marcelo Rocha / Liberal

No dia seguinte, o pediatra de plantão deu a informação que nenhuma mãe gostaria de ouvir, mas que Vania encarou com serenidade e força.

“Ele disse, ‘olha mãe, sua filha nasceu com Síndrome de Down e um problema cardíaco grave, então, ela não vai andar, não vai falar, não vai fazer nada que uma criança normal faz, portanto, não tenha expectativas’. Depois disso, a única coisa que perguntei era se eu ou meu marido tínhamos causado aquilo, por algo que poderíamos ter feito. Ele disse que não, que era um acidente genético. Aí eu falei, ‘então tá bom. Se nós não temos culpa, ela vai fazer tudo isso. Porque acima de Deus não tem ninguém e ele há de permitir’”. Começava ali uma dura batalha pela vida e pelo desenvolvimento de Bia.

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Andando com fé
Após o início conturbado, tudo caminhava bem e, apesar de um problema grave no coração, o funcionamento do organismo de Bia era normal, contudo, com um ano e 10 meses ela foi diagnosticada com leucemia. Mais uma vez demonstrando sua força, após seis meses de quimioterapia oral, ela melhorou.

“Os médicos diziam que nunca tinham tido um paciente que respondesse tão rápido ao tratamento”. Apesar do acompanhamento até os últimos dias de sua vida, aos 4 anos Bia se curou da doença.

Já aos 11 anos, mais um susto: em um exame de rotina apareceu um nódulo no pescoço dela, contudo, apesar do tamanho, era benigno e foi retirado em uma rápida cirurgia, que a princípio duraria horas e seria complicada, mas que em poucas horas se resolveu. “Eu falo que a Bia era um mistério”.

Alegria da casa
Alegre, sorridente e sempre disposta, aos poucos, do seu jeitinho especial, Bia foi conquistando seu espaço e encarando as dificuldades e os preconceitos com coragem, fé e muita curiosidade.

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“Ela entendia tudo e questionava. Tinha muita consciência e mesmo sabendo o que acontecia, nada afetava sua vida. Nenhuma tristeza tirou a vontade dela de fazer as coisas e foi isso que me motivou a escrever o livro. As pessoas rotulam a Síndrome de Down. Pensam que eles não pensam e por isso fazem as coisas no ‘estilo tanto faz’. Acham que eles não sabem diferenciar, mas eles sabem sim”, argumenta.

Um exemplo disso é que a própria Bia escolheu estudar no Dom Bosco. “ Um dia estávamos passando em frente à escola, ela quis entrar. Disse, ‘mamãe, é aqui que vou estudar’. Me lembro que quando a levei no primeiro dia de aula, a professora disse que Nossa Senhora tinha encaminhando a Bia para lá”.

Curiosamente, Vania afirma que desde o nascimento da filha todos os dias pedia para a santa cuidar da menina. Por outro lado, vira e mexe encontrava Bia conversando e ao perguntar com quem ela falava, a menina sempre dizia que era com Nossa Senhora e o menino Jesus.

Partida
Beatriz faleceu no dia 17 de janeiro de 2019, após passar 60 dias internada. A menina contraiu uma pneumonia assintomática, precisou de UTI e após muito sofrimento acabou tendo uma infecção generalizada.

Alguns dias antes dela falecer, Vania acredita ter tido uma experiência sobrenatural com a filha.

“A Bia estava muito judiada, roxa, deformada no hospital. Eu estava em casa, no meu quarto, ela apareceu para mim, no dia seguinte da pior noite de nossa vida. O quarto se iluminou, ela estava com um vestido que eu fiz. Foi algo tão mágico, ela estava linda, plena e me disse para não ficar triste, que ela já não era mais aquela menina que estava no hospital”.

Dois dias depois, a última despedida entre mãe e filha aconteceu à distância. “Eu pedi para o meu marido parar na rua de trás do hospital que eu queria falar com ela. Eu falei assim: ‘Bia pode ir embora, amor, não fica mais aí. Eu sei que você está bem, papai e mamãe não veio mais te ver porque não pudemos mais entrar, mas nós amamos muito você e estaremos sempre juntos’. Quando eu cheguei em casa, o telefone tocou, era a assistente social avisando que era para irmos ao hospital”.

No velório de Bia, um verdadeiro jardim de flores para homenagear a garota. Diversas pessoas vindas de todos os lugares vieram se despedir da menina.

“Não sabia que ela era tão amada. Uma coisa que me marcou foi um casal que me pediu para colocar rosas brancas nas mãos dela. Foi assim que começou a história das flores de Bia”.

Vania conta que quando começou a escrever o livro narrando a experiência, era como se a garota estivesse do seu lado. Assim, ela começou a pedir respostas para a filha, que lhe aparecia em sonhos, orientava e lhe esclarecia as dúvidas. Ela relata que muitas vezes quando estava escrevendo, sentia como se estivesse em outro plano.

“No livro tem duas psicografias que eu só descobri depois na última revisão. As cartas são destinadas para mim e para meu marido, que ainda sofre muito a perda. Vania conta que chegou a pedir uma prova para a filha de que todas essas experiências não eram coisa da cabeça dela.

“Pedi pra ela que me enviasse um buquê de flores. Dois dias depois recebi o convite de formatura de sua turma do nono ano. No dia, fizeram uma linda homenagem para ela e o melhor amigo veio me entregar um buquê de rosas. Quando vi aquilo parecia que meu coração iria explodir. Eu sentia minha filha dizendo ‘mãe, estou aqui, essa é a minha energia’. Por isso eu falo, se alguém não acredita que existe outro lado, é louco. O amor faz o impossível. Deus permite, quando você ama, quando você tem fé, que o impossível aconteça porque isso aconteceu comigo.”

Toda a venda do livro será revertida para alguma instituição ou projeto de caridade. “Só tenho a agradecer a confiança que Deus e a Bia depositaram e mim. Sei que ela trabalha muito onde está, que intercede por outras pessoas e por essa razão hoje eu entendo que ele precisava dela em outro plano. Eu precisei abrir mão dela para ela poder ajudar outras pessoas, assim como me ajudou. Ela era realmente muito especial, e bem além do que as pessoas podiam enxergar”, finaliza.

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