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Acolhimento

Um ouvido amigo para escutar quando você precisa conversar

Centro de Valorização da Vida de Americana, o CVV, recebe cerca de 500 ligações por mês e sonha em voltar a atender 24 horas por dia

Por Valéria Barreira

15 de setembro de 2019, às 08h40

Entre 14h e 22h o telefone não para de tocar numa casa antiga da Rua Carioba, na Vila Cordenonsi, em Americana. Ao primeiro toque, um voluntário atende de coração aberto e pronto para ouvir. Do outro, alguém muitas vezes desencantado, querendo desabafar ou apenas ser ouvido. Sem julgamentos. Nesse encontro de desconhecidos, quem sai ganhando é a vida.

“Acolhemos com carinho, ouvimos com respeito e aceitação”, diz a voluntária Silvana, há 25 anos atuando no CVV (Centro de Valorização da Vida) de Americana. A franquia social se instalou no município há mais de três décadas. Atualmente, são cerca de 500 ligações por mês recebidas no município. O voluntário não sabe quem está ligando e muito menos a motivação que levou a pessoa a discar 188.

Foto: João Carlos Nascimento / O Liberal
Sede fica em uma casa antiga na Rua Carioba

São várias as situações. Depressão, angústia, tristeza decorrente de perdas pessoais ou simplesmente solidão e o desejo de ter com quem conversar. Mas isso não importa. O voluntário é treinado para acolher todos igualmente e acima de tudo respeitar aquela dor. Sem se envolver. “Aqui fora, a gente se envolve com a dor do outro. Lá dentro, a gente aprende que cada um tem a sua dor”.

E são muitas as pessoas precisando do alívio decorrente do acolhimento. Desde quando a ligação para o CVV se tornou gratuita, a partir de 2015, através de um convênio entre a Secretaria de Saúde e a Embratel, o número de atendimentos triplicou. Até então, a média nacional era de um milhão de ligações por mês. Em 2018 foram três milhões de pessoas atendidas. E não é raro quem está ligando entrar numa fila de espera com 20 ou até 30 pessoas na sua frente.

A central direciona a ligação para onde houver uma linha disponível. Na prática, isso significa que o voluntário de Americana pode receber uma ligação de qualquer parte do país e um americanense ligar e ser atendido por alguém de sotaque que não seja o paulista. “Quanto mais voluntários atendendo, menor será o tempo à espera do atendimento. E isso pode fazer a diferença para quem não consegue esperar”, diz a voluntária de Americana.

Por isso, a franquia local quer voltar a atender no sistema de 24 horas. Há oito anos, era assim. Mas a entidade foi perdendo voluntários ao longo do caminho e hoje são penas 11 pessoas atuando na cidade. O número é insuficiente para garantir o atendimento ininterrupto. E nas madrugadas, quando a solidão aperta e procura pelo atendimento é maior, o telefone na casa fica mudo. “As estatísticas mostram que que a demanda é bem maior à noite. É muita gente ligando, mas infelizmente não temos gente suficiente para atender quando as pessoas mais precisam”.

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