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Salto Grande

Um ano após incêndio, só resta tristeza em área destruída

Cicatrizes do incêndio que em 2018 destruiu 45 mil árvores ainda revoltam ambientalista; plano para recuperação não existe

Por Leonardo Oliveira

28 de julho de 2019, às 08h08

As cicatrizes deixadas pela destruição de cerca de 45 mil árvores por uma queimada ocorrida há um ano em uma região de mata da Represa de Salto Grande, em Americana, ainda revoltam o presidente da Associação Barco Escola, João Carlos Pinto.

Além do apreço ao meio ambiente, o sentimento também se explica pela ligação do ambientalista com a revitalização da área, ocorrida em 2006. Depois de 12 anos lutando contra o cultivo de cana-de-açúcar às margens do reservatório da represa e os prejuízos causados por essa prática, ele conseguiu o apoio da CPFL.

Foto: João Carlos Nascimento / O Liberal
Foto do local no dia seguinte ao incêndio, em 2018

Um plano foi colocado em ação pela empresa, que culminou no plantio de 120 mil árvores nativas no espaço que antes era ocupado pela cana. Foram outros quatro anos de cuidado diário para acelerar o crescimento da mata e deixá-la no patamar que alcançou no ano passado.

Até que na tarde do dia 22 de julho de 2018 uma queimada deu origem ao fogo que dizimou pouco mais de um terço das árvores e alterou a paisagem das margens da represa, criando um rastro de destruição. Um ano depois, nada foi feito para que a área começasse a ser recuperada.

“Infelizmente ainda não foi feito nada. Creio que se o poder público, em parceria com a CPFL, resolvesse reflorestar e atacar mais na educação ambiental e na repressão às pessoas que põem fogo, acredito que no mais tardar em dois ou três anos a gente via a mata bonita novamente”, afirmou João Carlos ao LIBERAL.

Foto: Leonardo Oliveira / O Liberal
João Carlos com a área destruída pelo fogo ao fundo

Além das 45 mil árvores nativas, o fogo também afetou a fauna da região, já que onças, porcos e pássaros perderam suas vidas, de acordo com o presidente. “A tristeza bate, não tem jeito. Por umas três ou quatro vezes eu fui no meio das cinzas, olhando aquele monte de bicho morto. Aí não tem jeito, a lágrima vem”, disse.

Ao LIBERAL, a Prefeitura de Americana informou que somente após a aprovação na Câmara do projeto de regularização da Apama (Área de Proteção Ambiental Municipal de Americana) é que a recomposição ambiental poderá ser feita.

O projeto, de autoria do Executivo, foi recebido pela assessoria jurídica da Câmara em 1° de julho, com prazo de tramitação de 45 dias para serem realizados dois turnos de discussão e, posteriormente, a votação da matéria.

Foto: Leonardo Oliveira / O Liberal
Cerca de 45 mil árvores foram queimadas no incidente

“A proposta é de criação de um grande corredor de conectividade, visando o desenvolvimento de nichos ecológicos, propiciando fluxo gênico de flora e fauna, atendendo ao Plano Municipal de Conservação dos Biomas Mata Atlântica e Cerrado”, diz a nota enviada ao LIBERAL.

A CPFL diz que, no momento, o mais adequado é não realizar intervenção na área, permitindo a recuperação por meio da regeneração natural. A companhia justifica a decisão por ter “constatado melhoria na vegetação do local na comparação entre 2018 e 2019”. “A CPFL Renováveis seguirá monitorando a área”, diz a nota enviada ao LIBERAL.

Pescadores colocam fogo para que local fique limpo

A queimada causadora do estrago foi mais uma de uma série de crimes praticados pelos frequentadores da represa no decorrer dos anos. João Carlos diz que, normalmente, os responsáveis são pescadores que, ao saírem da área, colocam fogo para “limpar” o solo para a próxima vez em que eles forem pescar o local estar limpo.

Em um caso como este, as consequências para a natureza são incalculáveis. Hoje ainda existe uma área da represa na qual a cana-de-açúcar é plantada, e a mata ciliar servia como barreira para que os agrotóxicos usados no estímulo ao crescimento da cana não chegassem ao reservatório, contaminando a água.

Foto: Leonardo Oliveira / Divulgação
Não existe um plano de recuperação da área

“E agora o que acontece? A água fica envenenada, e nós vamos perder quantidade de água, porque estamos sofrendo um grande problema com o reservatório em relação a assoreamento. Vai chegar uma hora que Americana vai entrar em colapso por falta da água”, afirmou o presidente da Associação Barco Escola.

As queimadas representam um dos grandes desafios ambientais dos municípios, de acordo com João Carlos. Em Americana, foram 31 autuações por queimadas entre janeiro e junho de 2019. O número já é maior do que o registrado durante os últimos dois anos inteiros – foram 11 autuações em 2017 e outras 11 no ano seguinte.

Em Hortolândia, o número informado pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável é maior, com 235 multas por queimadas nos seis primeiros meses deste ano. A Prefeitura de Nova Odessa disse não ter a contabilização destes dados, enquanto as administrações de Santa Bárbara d’Oeste e Sumaré não responderam aos questionamentos da reportagem sobre queimadas.

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