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COVID-19

Sem orientação, isolamento social não funciona no Zincão

Aglomerações continuam acontecendo nas ruas próximas a comunidade; já o acampamento Roseli Nunes lida com a falta de materiais básicos de higiene

Por André Rossi

27 de março de 2020, às 09h02 • Última atualização em 27 de março de 2020, às 16h52

Apontado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como uma das medidas mais efetivas para combater a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o isolamento social está longe de ser uma realidade para os moradores do Zincão, comunidade localizada na região do Parque da Liberdade, em Americana.

Foto: João Carlos Nascimento / O Liberal
Aglomerações continuam acontecendo nas ruas próximas a comunidade

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Na tarde desta quinta-feira (26), dezenas de pessoas se aglomeravam na rua que dá acesso aos barracões da favela. Crianças brincavam e corriam pela via. Em rodas de conversa, moradores comentavam assuntos do dia a dia. A Covid-19 estava na pauta, mas a potencialidade da doença ainda divide opiniões na região.

“Pra quê fechar loja? Se fosse tão forte mesmo, já tinha gente daqui com ela [doença]”, disse uma mulher enquanto comia um bolo de pote cercada de amigas da comunidade, entre elas uma adolescente grávida de cinco meses.

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O doce foi vendido pela autônoma Camila Gonçalves de Oliveira, 31, que já sente a queda nas vendas por conta da pandemia.

Moradora do Parque da Liberdade, a vendedora acredita que “muita gente não está sabendo” da gravidade da pandemia. As condições das construções em que a comunidade vive também potencializa o problema.

“Não veio ninguém do postinho instruir o pessoal que não pode ficar assim na rua, aglomerado. Pessoal aqui de baixo [barracões] não tem como ficar com os filhos trancados dentro de casa. É muito quente. Eles [crianças] vão bastante nos projetos [sociais], mas não está tendo”, comentou Camila.

Foto: João Carlos Nascimento / O Liberal
Rosemary Camargo: limitação financeira é problema na prevenção ao coronavírus

Aos 59 anos, Rosemary Camargo mora sozinha no Zincão e tenta redobrar os cuidados com a higiene. Entretanto, a limitação financeira dificulta o processo.

“Eles falam para lavar a mão com sabão. Tem gente aqui que não tem nem condição de comprar um litro de leite, quem dirá sabão. Se você vai no mercado para comprar álcool em gel, não tem mais nada. A gente precisa de ajuda porque aqui tem muita criança, muita gente grávida, idosos”, lamentou Rosemary.

O vereador Thiago Martins (PV) protocolou nesta quinta-feira um requerimento no qual questiona a prefeitura sobre ações para atender a região. A situação dos moradores de rua também foi mencionada.

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“O Zincão abriga milhares de famílias de baixa renda em construções, geralmente de madeira com telhas de alumínio, que facilmente acumulam o calor do sol e tornam o cômodo extremamente quente durante o dia. As crianças e os próprios pais acabam permanecendo em toda a área compartilhada do local. Esses dois pontos abordados geram aglomeração de pessoas que muitas vezes não têm acesso à álcool em gel e nem mesmo água e sabão em abundância para se prevenirem corretamente contra a doença”, argumentou Thiago.

Foto: Arquivo / LIBERAL
No Roseli Nunes, moradores reclamam da falta de higiene

Outro grupo que tem enfrentado dificuldades são os moradores do Acampamento Roseli Nunes. Segundo a representante da comunidade, a lavradora Wilza Carla Mendes Leme da Silva, 44, o distanciamento social não é um problema. Entretanto, a preocupação com a higiene e a alimentação das crianças é crescente, já que com as aulas suspensas, os pequenos perdem refeições que eram garantidas.

“Higienização é com água. Sabão só quando tem. Procuramos estar cada um dentro do seu barraco, e nisso as crianças sentem fome, ficam famintas. Única escapatória é a cana [de açúcar]. Às vezes, quando tem sombra [na plantação] as crianças passam a tarde inteira chupando cana”, relatou Wilza.

Kits

O secretário de Ação Social e Desenvolvimento Humano de Americana, Ailton Gonçalves Dias Filhos, disse ao LIBERAL que terá início na semana que vem a distribuição de kits de alimentos, produtos de higiene e de limpeza para moradores de regiões carentes, o que inclui o Zincão e o Acampamento Roseli Nunes. A ação será coordenada com a Secretaria de Educação.

“Nós estamos cruzando dados da Educação e Ação Social para evitar duplicidade de atendimento. As cestas básicas, álcool em gel, nós vamos entregar nas casas, no local onde eles estão. Estamos pensando nas famílias que nós temos referenciadas hoje nos Cras (Centro de Referência de Assistência Social). Nós sabemos onde estão as famílias de pobreza extrema”, disse Ailton.

Já sobre os moradores de rua, a ideia da pasta é expandir o abrigo já existente. “Estamos tentando porque agora, com o comércio fechado, as pessoas pararam de fazer doações. Estamos encontrando vários moradores de rua que agora aceitam o abrigamento. Tenho um abrigo para 10 vagas, vamos tentar a chegar a 40, 50 vagas”, apontou o secretário.

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