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LIBERAL ENTREVISTA

‘Quem cobra autocrítica do PT devia olhar para o próprio rabo’, diz Haddad

Para ex-ministro e ex-candidato à Presidência, partido se auto-avaliou o suficiente para convencer eleitor em 2022; leia a entrevista ao LIBERAL

Por João Colosalle

25 de abril de 2021, às 09h17

O ex-ministro e ex-candidato à Presidência, Fernando Haddad, em foto de 2018 - Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo

Ex-ministro da Educação entre 2005 e 2012 e candidato à Presidência em 2018 pelo PT, Fernando Haddad diz que o partido tem pensado em 2021 mais em estratégia do que nomes para 2022.

Em entrevista ao LIBERAL na última quinta-feira, por videochamada, o também ex-prefeito de São Paulo falou sobre os movimentos eleitorais, operação Lava Jato e a condução da pandemia pelo governo paulista. Veja os principais trechos.

No mês passado, um manifesto assinado por pré-candidatos à Presidência em 2022 – como Ciro Gomes (PDT), Eduardo Leite (PSDB), João Amoêdo (Novo), João Doria (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Luciano Huck (sem partido) – foi visto como o início de uma união pela disputa eleitoral. Como o senhor avalia este movimento?
Eu acho que é uma tentativa de posicionamento ideológico, porque na verdade, não foi o PT que foi excluído. Todos os partidos progressistas mais afinados com a pauta dos trabalhadores, nenhum deles foi considerado.

Ali só estava realmente o pessoal da centro-direita, que está querendo criar um espaço que eu acho legítimo para disputa eleitoral do ano que vem, oferecendo ao País uma possibilidade de, além do Bolsonaro e do Lula, ter um candidato que represente estes setores mais conservadores, mas que não são extremistas, como é o caso do Bolsonaro.

Eu penso que é um movimento legítimo. Tenho uma certa dúvida se ele vai ser bem-sucedido em torno de um candidato único. Para pegar dois exemplos: o Ciro e o Doria pensam muito diferentes, pelo menos até outro dia pensavam. Não sei se haverá tempo de afinar um discurso comum.

O PT já trabalha pela candidatura de Lula?
O Lula não está querendo conversar sobre 2022 porque ele pensa que 2021 o drama é muito grande. Ele tem medo que o partido perca o foco no que tem que ser feito agora, que é garantir auxílio de R$ 600 e vacina universal. Ele acha que o PT não deveria tratar de nomes agora, deveria cuidar da agenda de 2021 até para chegar forte em 2022.

Há algum cenário que o senhor ou o partido vejam as urnas, em 2022, sem o nome de Lula?
Até em 2018 eu disse que só haveria paz no Brasil quando o Lula pudesse concorrer às eleições. Eu achava que era um golpe que estava acontecendo contra a candidatura dele, que o [Sérgio] Moro tinha armado para o Lula e agora isso está absolutamente claro. O Moro tinha todas as grandes condições de fazer um grande trabalho pelo Brasil e resolveu abdicar disso para pensar em si mesmo. Isso representou um atraso enorme para o Brasil.

Qual seria o principal objetivo do PT em 2022: tirar Bolsonaro do poder ou eleger um candidato próprio?
O PT tem muita tranquilidade em relação a isso. Nós nunca vamos nos omitir. Nós lamentamos muito que esse pessoal da direita todo votou no Bolsonaro. Doria, Huck, Mandetta, todos eleitores do Bolsonaro, sabiam o que estavam fazendo, porque conheciam o Bolsonaro. Lamento que ainda não se arrependeram publicamente, deveriam assumir que foi um erro levar uma pessoa à Presidência da República tão despreparada quanto o Bolsonaro.

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No primeiro turno, o PT tem que se coligar com os partidos do campo progressista. O primeiro turno é feito para isso, para você apresentar uma proposta que seja mais condizente com a sua história. No segundo turno, evidentemente que você vai evitar o mal maior, se você não estiver colocado.

E há possibilidade de o PT abrir mão de uma candidatura própria em 2022?
Nós não estamos conversando sobre 2022, mas é um pouco estranho a pessoa que lidera todas as pesquisa de opinião deixar… em nome de quem? Seria até esquisito, porque o Lula tem 35% de intenções de voto. É uma pergunta pertinente, mas dado o quadro, ela faz pouco sentido do ponto de vista estratégico se o objetivo é derrotar Bolsonaro. Se é reeleger, talvez faça sentido.

Na impossibilidade de Lula concorrer, o senhor se colocaria à disposição novamente?
Isso o próprio Lula me pediu em fevereiro, para me reapresentar, e o PT fez muito gesto para que isso acontecesse. Eu me coloquei à disposição. Mas ao contrário do Lula, eu estava confiante no Supremo. O Lula não estava tanto quanto eu.

Eu acho que hoje, se Deus quiser, essa trama contra o Lula termina. Aí, o povo escolhe. Quem gosta vota, quem não gosta não vota. Democracia é assim que funciona.

Qual era o sentimento do ex-presidente na discussão com o STF?
Ele era muito pessimista. Achava que iam repetir a dose de 2018. E eu entendia que não, que muita coisa tinha acontecido de 2018 pra cá e a verdade apareceu. Todos aqueles diálogos indecentes de Moro e [Deltan] Dallagnol, ficou muito difícil sustentar a farsa. Isso não tem nada a ver com combate à corrupção. Todo mundo é a favor de combate à corrupção.

O senhor vê méritos da operação Lava Jato?
Primeira coisa é que a gente põe tudo no saco da Lava Jato. E aí a gente não consegue discernir uma coisa da outra. Se você pensar que algumas quadrilhas foram desbaratadas, ninguém pode ser contra prender empresário corrupto.

Agora, eu dizia já em 2018, que eu tinha duas grandes objeções à Lava Jato. A primeira era a destruição das empresas. Você pune o empresário. Você não destrói as empresas e os empregos. E o Moro destruiu 4 milhões de empregos, segundo o Dieese.

A segunda ponderação que eu fazia era a de que ele não podia perseguir o Lula porque ele queria ser presidente ou ministro do Supremo. Ele tinha que separar uma coisa da outra. Teve juiz no Brasil que fez a coisa certa. Que o Moro errou, errou feio, lamentavelmente.

O PT é cobrado de uma autocrítica que, inclusive, o senhor não esconde em fazê-la, especialmente quanto ao modo do partido de se fazer política e de se viabilizar nas urnas. O senhor vê esta autocrítica como ainda necessária ao partido?
Sabe qual é o problema disso? É que nossos críticos foram todos desmascarados. Quem nos pede autocrítica foi desmascarado pela história e não fizeram autocrítica. Eu não vi o Moro fazer autocrítica, não vi nenhum jornalista da Globo fazer autocrítica, a Folha de S.Paulo, os bancos.

É engraçado que quem cobra autocrítica do PT devia olhar para o próprio rabo. E não estão. Estão fingindo que nada aconteceu.

Só que tem 400 mil cadáveres empilhados na conta desse pessoal todo que botou o Bolsonaro no poder mentindo sobre o que estava acontecendo, fazendo pressão sobre o Judiciário para instrumentalizar politicamente o Judiciário.

Acho que nós cansamos de fazer autocrítica. Está na hora agora de todo o resto fazer, como tem gente começando a fazer, que assume que errou contra o PT.

E o senhor acha que essa autocrítica que o PT diz ter feito é suficiente para convencer o eleitor?
É suficiente sim. O Lula já lidera todas as pesquisas de opinião. É suficiente também porque tem que fazer autocrítica do que é real. Você não pode fazer autocrítica de uma coisa que estão te acusando e que é mentira. Você tem que se defender da mentira. Você vai fazer autocrítica de pedalada fiscal? A Dilma acabou de ser absolvida pelo TCU, que era mentira o negócio de Pasadena. Cobraram muito autocrítica de mentira.

O senhor é bastante crítico à maneira como o governo federal e o presidente Bolsonaro lidam com a pandemia. Mas, como uma liderança historicamente de São Paulo, como avalia a condução do governador João Doria nesta crise?
Ao contrário do governo federal, que só tem pontos negativos, aqui tem muitos pontos negativos, mas tem um positivo, que ele [Doria] não atrapalhou o Butantan. Agora, ele se atrapalhou demais no resto, tanto é que o número de mortes por mil habitantes é maior do que no Brasil.

Tem algo que deveria ter sido feito diferente?
Os protocolos não foram observados. Para eleger o Bruno Covas [a prefeito de São Paulo], ele largou mão. Disse que a pandemia estava resolvida. Todo mundo sabia que era mentira aquilo, que estava começando uma segunda onda forte. E este mal se corta pela raiz. Depois da eleição, sai correndo atrás do prejuízo. Fora que aumentou imposto em uma hora que não tinha nada a ver. Você vai aumentar imposto do empresário que está quebrado?

Como o partido pretende se posicionar na disputa pelo governo estadual?
Nós achamos que temos que fazer um arco de alianças para tirar os tucanos. Faz 40 anos que Serra, Aloysio Nunes, Alckmin e Doria mandam no Estado. O Estado precisa acordar. Então, nós queremos uma aliança que supere essa situação.

Há algum nome para o Estado?
Estamos discutindo estratégia para 2022. Do meu ponto de vista, se tiver uma frente progressista em São Paulo, ganha eleição.

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