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Projeto Ester: filho gerado no coração

“Mãezona” da ação que já atendeu mais de 300 crianças é exemplo de que nos lugares aonde chega o amor, ele transforma

Por Jucimara Lima

23 de janeiro de 2022, às 08h23 • Última atualização em 23 de janeiro de 2022, às 08h24

A história toda do projeto Ester, uma iniciativa particular, sem vínculos com o poder público ou instituições religiosas, é muito simbólica e encarada pela própria idealizadora como um chamado.

Criado em 2011, o projeto já atendeu mais de 300 crianças, todas moradoras dos bairros Jardim dos Lírios, Jardim das Flores e Vila Mathiesen. Tudo começou quando Sueli Gianezzi, de 52 anos, ouviu uma voz interior dizendo que ela seria mãe e que esse filho se chamaria Ester.

Casada há anos, por opção, ela e o marido decidiram que não teriam filhos. Contudo, aquela voz ficou “martelando” em sua cabeça durante três anos, quando uma ação social transformou sua vida.

Sueli vibra ao contar a história dessas mãos que formam sua árvore de acolhimento – Foto: Claudeci Junior / O Liberal

Na época, ela encabeçou uma arrecadação na igreja que frequentava. Como a sogra morava na Praia Azul, a ideia inicial era levar os donativos para aquela região. No dia da entrega, alguns empecilhos impediram outras pessoas de ajudarem e ela acabou ficando sozinha no que chamou de “meio do caminho”, com o carro repleto de roupas, alimentos e outros artigos.

Curiosamente, Sueli, que é administradora de empresas por formação, mas já trabalhou como gerente de recursos humanos e hoje faz trabalhos como manicure e depiladora a domicílio para suprir algumas demandas, tinha receio daqueles bairros. “Tinha medo de entrar nessa região, mas como o plano inicial não deu certo, pensei ‘vou entrar e seja o que Deus quiser’”, relata.

E ao que tudo indica, Deus de fato queria muita coisa. Na primeira casa que entrou, um pequeno barraco, era a moradia de duas crianças que algum tempo depois se tornariam legalmente seus filhos, hoje com 9 e 15 anos. Porém, isso já é uma outra história.

Além desse marco, Sueli recorda do direcionamento que teve para uma outra casa, a última que ela ajudou naquele dia. “Quando cheguei, a necessidade momentânea dessa última família era justamente o que eu ainda tinha no carro, contudo, como eles precisavam de outras coisas, acabei iniciando um outro movimento de arrecadação. No dia que fomos levar essas outras doações, vi três crianças brincando no chão, e quando perguntei o nome delas, uma se chamava Ester”, emociona-se.

Naquele momento, Sueli não teve dúvida: precisava colocar o projeto em prática. Para isso, em oração, ela clamou: “Deus, se me der uma árvore eu junto os meninos embaixo e começo. Quando olho para trás, dou de cara com uma enorme. Ali começamos o Projeto Ester”.

Fruto de um sonho. Antes da criação do projeto, Sueli tinha um sonho recorrente. “Sonhava estar colhendo crianças em uma árvore. Elas não falavam, mas eu olhava para elas e entendia que me pediam ajuda para sair de lá, então, não tem como não dizer que o Projeto Ester é um chamado. Não existe minha vida, sem ele”, conclui.

Primeiros passos

Como um bebê, os primeiros passos do projeto foram difíceis, contudo, o suporte foi dado pela própria família da garotinha Ester, que além de apontar quais eram as necessidades daquela comunidade, cinco semanas depois cedeu a garagem da própria casa para abrigar o projeto.

“Devemos uma gratidão eterna a essa família, pessoas muito simples e humildes que ajudaram muito. Confesso que o primeiro ano foi muito impactante para mim. Me desmontou inteira. Eu precisava disso para dar continuidade, até porque minha visão de vida era muito diferente. Aqui, eu vi milagres acontecendo. Financeiramente, eu não tinha condições, entretanto, eu apenas me posicionei. Aí, o resto veio”.

Após oito anos no quintal daquela família, mesmo tendo uma estrutura montada, surgiu a oportunidade de conquistar um outro lar para o projeto e ampliar o atendimento, quando uma pessoa se prontificou a pagar o aluguel de uma casa. Assim sendo, desde 2019, o Projeto Ester atende em
novo endereço.

O trabalho

O Projeto Ester desenvolve atividades com as crianças, como se todos fizessem parte de uma grande família. De acordo com Sueli, a ideia é ajudá-las a desenvolver atividades básicas, que por conta da falta de estrutura, não aprendem em suas próprias casas.

“Eu sou a mãezona e, junto com os voluntários, a gente ensina como se eles fossem nossos próprios filhos. Tratamos com carinho, afeto, ensinamos coisas básicas como ir ao banheiro e escovar os dentes, e por aí vai”, explica.

Atualmente, o projeto está de férias e deve retornar na primeira semana de fevereiro, com atendimento duas vezes na semana para 55 crianças, divididas por idades e turnos.

Antes da pandemia, além desse acolhimento, as crianças também tinham aulas de informática, inglês, reforço escolar, artes, culinária, entre outros suportes, como atendimentos médicos, odontológicos e psicológicos.

“Hoje faltam voluntários, mas se Deus quiser, aos poucos, outras pessoas vão se prontificando. Eu não faço isso tudo sozinha, eu consigo, graças a uma rede de pessoas que se conectam. Brinco que tenho anjos em vários pontos da cidade, e alguns nem conheço, eles apenas ajudam sem se identificarem”, comenta Sueli, que aproveita para ressaltar.

“Quem vem trabalhar com a gente, passou do portão para dentro, já sabe que todos somos iguais e estamos aqui para ensinar e aprender, porque a gente também aprende muito com eles”.

Sonho futuro

Falando em aprender, o sonho para o futuro é transformar o projeto em uma escola. “Imagina uma criança ficar o dia inteiro em um ambiente limpo, saudável, sendo ensinada e projetada para o futuro? Essa criança terá um futuro. A verdade é que uma criança com oportunidade saberá fazer escolhas, agora sem a chance de conhecer outras realidades, como escolherá?”, finaliza.

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