Cadeia Alimentar II
PF apura se Juninho negociava propina em outros municípios
Segundo delegado, secretário de Governo de Americana seria lobista; Justiça manda soltar 3 servidores presos na terça, na Operação Cadeia Alimentar II
Por George Aravanis
30 de novembro de 2019, às 07h00 • Última atualização em 30 de novembro de 2019, às 10h25
Link da matéria: https://liberal.com.br/cidades/americana/pf-apura-se-juninho-negociava-propina-em-outros-municipios-1113840/
A PF (Polícia Federal) investiga se o secretário de Governo de Americana, Dirineu Soares de Barros Junior, o Juninho Barros, atuava como lobista de José Geraldo Zana para negociar fraudes em contratos e pagamento de propinas em outras cidades.
A informação é do delegado Bruno Rigotti, coordenador da operação Cadeia Alimentar II, que apura desvio de verbas da merenda escolar em cerca de 50 cidades.
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Juninho, o secretário de Negócios Jurídicos, Alex Niuri, e Luciane Carloni Gomes de Assis, funcionária do setor de Suprimentos da prefeitura, foram presos temporariamente na última terça. Eles são suspeitos de receberem propina de Zana – e negam.
A 4ª Vara da Justiça Federal de Ribeirão Preto mandou soltar os três ontem, de acordo com os advogados deles.
O delegado disse nesta sexta ao LIBERAL que há suspeita de que, além da negociação em Americana (leia ao lado), Juninho fosse o contato de Zana em mais quatro ou cinco municípios no esquema de desvio de verbas e corrupção chefiado pelo empresário, dono do frigorífico Mult Beef, em Brodowski.
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A investigação da operação Cadeia Alimentar II, baseada em uma delação premiada de Zana, aponta que o empresário pagava propina a agentes públicos para direcionar licitações em várias cidades. Em troca, pagava de 10% a 14% de propina e, em alguns casos, usava lobistas na situação.
O que a polícia apura era se Juninho seria um desses lobistas. O secretário é um dos homens fortes do governo Omar Najar (MDB). Está na administração desde o primeiro dia de governo.
Rigotti não quis adiantar quais são os indícios de que Juninho fosse o intermediário de Zana porque o assunto ainda está em apuração.
Segundo a polícia, Zana depositou, entre o final de 2016 e o começo de 2017, entre R$ 130 mil e R$ 150 mil em várias contas indicadas pelo secretário de Governo. Niuri teria participado das reuniões para fechar o acordo, diz o delegado.
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Em seu depoimento à PF, o secretário de Governo de Americana afirmou que os depósitos eram referentes a um serviço de consultoria que ele prestava ao empresário no contato com outras prefeituras, de acordo com o delegado.
Porém, o empresário disse à polícia, em delação premiada, que esses depósitos eram para tentar receber valores que a Prefeitura de Americana devia para sua empresa desde a administração anterior.
O delegado afirma que antes do depoimento de Juninho, já havia suspeita de que ele fosse um emissário de Zana na negociação com outras cidades.
Anteontem, o prefeito disse que a revelação é uma “facada nas costas”, mas informou que vai esperar a confirmação da PF de que os depósitos são autênticos para decidir se vai demiti-lo. Omar, porém, já tem conversado sobre substitutos para os cargos.
O advogado de Juninho, Willey Sucasas, disse que vai provar no processo em questão que a suposta atuação de Juninho como lobista não passa de uma “elucubração da polícia”.
Segundo Willley, a Justiça Federal mandou soltar ontem Juninho e Alex Niuri após ele pedir a revogação da prisão temporária, que vencia hoje. O advogado de Luciane Carloni, Luiz Felipe Magani, disse que, no caso de sua cliente, o juiz antecipou o fim do prazo da prisão temporária.
Suborno teria sido para liberar valores
De acordo com o delegado Bruno Rigotti, o empresário José Geraldo Zana pagou propina em contas bancárias supostamente indicadas por Juninho Barros para receber valores de contratos fechados na gestão anterior da Prefeitura de Americana e não pagos.
A JG Zana, uma das empresas ligadas a Geraldo Zana, entrou na Justiça em 2016 cobrando R$ 3,2 milhões da prefeitura. A Mult Beef cobra R$ 4,5 milhões em outro processo. “Mas a gente não sabe ainda se ele [Zana] recebeu esse dinheiro, não está muito claro isso”, afirmou o delegado.
Segundo a prefeitura, nada referente a contratos anteriores foi pago a Geraldo Zana desde 2015, quando o prefeito Omar Najar (MDB) assumiu o governo. Na Justiça, o governo afirma que houve superfaturamento nos contratos.
Segundo a PF, Juninho indicou várias contas para o recebimento da propina, entre elas a de sua mulher (que recebeu R$ 10 mil) e de um de seus filhos (R$ 15 mil), segundo o delegado. Luciane Carloni, funcionária do Suprimentos, recebeu R$ 5 mil, diz a PF. Ela afirmou, em depoimento, segundo o delegado, que era um presente de fim de ano de Zana. Seu advogado disse que não iria se manifestar sobre a informação.