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Escândalo na Igreja

Padre Leandro fazia as coisas parecerem normais, diz vítima de abuso

Mulher de 31 anos, que é citada em denúncia do MP, contou ao LIBERAL sobre relação com pároco

Por George Aravanis

22 de dezembro de 2019, às 14h50 • Última atualização em 08 de junho de 2021, às 10h18

Listada como uma das quatro vítimas na denúncia do Ministério Público de Araras contra o padre Pedro Leandro Ricardo por atentado violento ao pudor, Camila Juliana Jacinto, de 31 anos, classifica o reitor afastado da Basílica de Americana como “psicopata e manipulador”. Para ela, apesar dos crimes, que ele nega, Leandro fazia “as coisas parecerem normais.”

“Ele entra na mente das pessoas e sabe suprir exatamente o que a pessoa precisa para se auto satisfazer”, afirma a estudante de nutrição e digital influencer, que aceitou conversar com o LIBERAL entre quinta e sexta-feira, mas apenas por meio de um aplicativo de mensagens.

Foto: Arquivo / O Liberal
Vítima classifica o reitor afastado da Basílica de Americana como “psicopata e manipulador”

Ela é a única mulher que se apresentou como vítima do padre até agora. Uma das pessoas listadas na denúncia é uma transexual que na época do suposto abuso ainda tinha identidade masculina.

Camila disse ter conhecido Leandro em novembro de 2002, aos 14 anos, na igreja da Paróquia São Francisco de Assis, em Araras. O religioso, hoje com 50 anos, trabalhou na cidade antes de ser transferido para Americana.

Os pais de Camila tinham acabado de se separar. Carente, a menina encontrou no sacerdote “um pai zeloso e amoroso” que levava a então coroinha a todo lugar e lhe dava presentes, como perfumes.

Em um domingo de 2003, o sacerdote a convidou para um churrasco após um batizado. Dentro do carro, Leandro pegou em sua coxa e subiu a mão até a virilha dela, conta. Assustada, a adolescente tentou saltar do veículo em movimento, enquanto Leandro dizia que Deus tinha várias formas de demonstrar seu amor, que essa era uma delas e que aquilo era natural.

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Antes e depois desse episódio, o clérigo também a abraçou de forma estranha, segundo a menina, que chegou a sentir sua ereção, mas não sabia ainda o que era aquilo. Camila, na época, atuava como coroinha e “beijava o chão que o padre passava”. O religioso também a chamava para dormir na sua casa, o que a estudante não aceitava.

A relação dos dois continuou próxima. Segundo Camila, Leandro a levava para barzinhos, festas, oferecia bebida alcoólica e exerceu tanta influência sobre ela que, às vezes, nem a deixava pedir permissão à mãe para viajar com ele.

“Para você ver o quanto ele mexeu na minha cabeça, em meu psicológico, eu ainda possuo carinho por ele. Eu só quero justiça por tudo que eu passei”, afirmou ao LIBERAL.

Camila conta que o padre começou a implicar com ela por causa de fotos em redes sociais e das investidas sem sucesso. Depois que a viu dançando com um rapaz, também frequentador da igreja, Leandro teria impedido a coroinha de participar das celebrações. Ela já tinha 19 anos. “Minha vida virou só choro, não saía mais de casa. Ele destruiu minha vida na época.”

Depois de denunciar o caso, Camila começou a sofrer ataques em redes sociais. Uma página na internet começou a classificá-la, entre outras coisas, de “maria batina”.

O advogado do padre Leandro, Paulo Sarmento, diz que o clérigo é inocente. “Com relação a tal alegação nova, é sabido que tal pessoa foi ouvida perante uma autoridade policial, sem qualquer interferência ou pressão, e não relatou nenhum desses fatos. Causa espécie a esta defesa o acréscimo de informações para o jornalista e a ausência delas para o delegado de polícia responsável pela investigação, demonstrando apenas a sanha acusatória e midiática criada para turvar a realidade e dar supedâneo a uma denúncia absurda”, criticou o advogado.

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