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Escândalo na Igreja

Padre Leandro disse para vítima que abuso era ‘forma de Deus demonstrar amor’

Discurso usado pelo ex-reitor da Basílica de Americana foi descrito na denúncia apresentada pelo Ministério Público à Justiça

Por George Aravanis

19 de dezembro de 2019, às 08h23 • Última atualização em 08 de junho de 2021, às 10h19

Após abusar de uma de suas vítimas, o padre Pedro Leandro Ricardo, de Americana, disse a ela que aquela era uma das formas de Deus demonstrar o amor, de acordo com a denúncia apresentada pelo Ministério Público à Justiça na última sexta-feira.

Na peça de acusação, o promotor Luiz Alberto Segalla Bevilacqua pede a condenação de Leandro por quatro casos de atentado violento ao pudor.

Os crimes aconteceram entre 2002 e 2006, de acordo com o Ministério Público. As vítimas eram coroinhas e ajudantes do religioso na paróquia São Francisco de Assis, em Araras, onde Leandro atuou antes de ser transferido para Americana.

Três eram adolescentes (dois meninos e uma menina) e um era uma criança de 11 anos. Leandro está afastado do cargo de reitor da Basílica local desde janeiro, quando a investigação teve início. O advogado do sacerdote católico nega tudo.

Uma das vítimas era uma garota que estava então com 14 anos e atuava como coroinha. O abuso, segundo o relato do MP, ocorreu dentro de um carro. Leandro tinha convidado a menina para ir a uma casa de retiro e, no caminho, desviou o rumo para a zona rural de Araras.

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No trajeto, sempre de acordo com o relato do promotor, Leandro passou a mão nas coxas da garota e tocou no órgão genital dela. “Aterrorizada com a insistência do denunciado, a vítima tentou pular do veículo em movimento”, descreve Bevilacqua na denúncia apresentada.

O padre então passou a falar sobre ensinamentos religiosos, segundo o promotor, e disse que “ Deus possui várias formas de demonstrar o amor, e que aquela seria uma delas”.

Na visão do MP, Leandro usava a influência que tinha sobre as vítimas para praticar os crimes. A autoridade sobre os ajudantes é um dos agravantes que o MP cita ao pedir a condenação de Leandro.
Depois do abuso, ainda de acordo com o MP, o padre tentou comprar o silêncio da vítima com perfumes.

“Posteriormente, expulsa da igreja pelo denunciado, a adolescente passou a sofrer de depressão”, afirma o promotor. Leandro também tentou comprar o silêncio de outra vítima, um rapaz, com R$ 500, segundo o promotor.

Defesa

O advogado Paulo Sarmento, que defende o padre Pedro Leandro Ricardo, criticou a denúncia apresentada pelo Ministério Público de Araras contra o reitor afastado da Basílica de Americana, acusado de crimes sexuais.

“A denúncia é absurda, não encontra respaldo no fatos e viola o princípio da legalidade”, disse ao LIBERAL Sarmento. No entendimento do advogado, os depoimentos que embasam a acusação da Promotoria contra Leandro “não subsistem ao contraditório e às provas que serão produzidas pela defesa no decorrer do processo”.

“Confiamos que o Poder Judiciário não se deixará levar por comoção pública produzida artificiosamente por mídias sociais, e fará Justica absolvendo nosso cliente de tais acusações falaciosas”, afirmou o defensor.

Histórico

O padre Leandro Ricardo está fora do comando da Basílica de Americana desde janeiro, quando a investigação teve início. Inicialmente, ele pediu afastamento. Depois, foi suspenso após as denúncias contra ele virem a público.

Leandro atuou em Araras antes de ser transferido para Americana. O inquérito contra ele teve origem em um dossiê anônimo montado por um produtor audiovisual e por uma advogada enviado à deputada federal Lecy Brandão (PCdoB), que encaminhou o material ao Ministério Público.

Foto: Marcelo Rocha - O Liberal.JPG
Suspeitas de abuso e acobertamento recaem sobre o bispo Dom Vilson e o padre Leandro Ricardo; eles negam

Além de casos de abuso sexual supostamente cometidos pelo padre, inclusive em sua passagem por Americana, a denúncia também relatava acobertamentos por parte do bispo da Diocese de Limeira, dom Vilson Dias de Oliveira, além de extorsão a outros padres e acúmulo de patrimônio incompatíveis com o cargo que ocupa na igreja.

O escândalo, que chegou a repercutir em um encontro mundial da igreja, com o Papa Francisco, culminou com a queda de Dom Vilson do posto, em maio. No lugar de Vilson, assumiu o bispo dom José Roberto Fortes Palau, de 54 anos.

Comissão

Após os escândalos de abuso sexual que atingiram líderes católicos locais, a Diocese de Limeira criou uma Comissão de Denúncias para receber queixas de abusos sexuais cometidos por clérigos e religiosos.

O órgão, que começou a operar no primeiro semestre, já analisa casos, que correm sob sigilo. Para entrar em contato com a comissão, é preciso ligar na Cúria Diocesana, no telefone (19) 3441-5329.

A criação da comissão seguiu decreto do papa Francisco, que determinou que até junho de 2020 todas as dioceses do mundo tenham sistemas acessíveis para receber as queixas.

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