15 de abril de 2024 Atualizado 23:49

8 de Agosto de 2019 Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

NOTÍCIAS QUE INSPIRAM

Nunca é tarde para ser feliz a dois

Mais de 50 anos depois, casal de Americana que se conheceu na adolescência se reencontrou e sonha em se casar

Por Jucimara Lima

20 de junho de 2022, às 08h06

Quem chega perto do casal Sinézia Paparotti, de 74 anos, e Odair Cardoso, de 75, sente que o amor está no ar. Sabe aquelas características comuns do início de um relacionamento amoroso, simples de serem notadas em todos os apaixonados, como estar sempre de mãos dadas, rasgar elogios um para outro, afagos no braço, carinho no rosto e declarações de amor públicas? Assim os dois se comportam, mesmo tendo iniciado a história deles há mais de 50 anos.

Sinézia, professora aposentada, é uma típica americanense que, como acusa o sobrenome, tem descendência italiana. Nascida na Princesa Tecelã, ela é de família grande, sempre viveu na cidade e se considera até bairrista, por gostar tanto daqui. Assim como boa parte das pessoas de sua geração, vivenciou a pujança da indústria têxtil e chegou a trabalhar como torcetriz. Dessa época, guarda boas recordações.

“Eu emendava um rolo no outro, fio por fiozinho. É um trabalho bonito. Me lembro que tinha muitas fábricas no Centro. Era um tempo bom, que não faltava serviço, a gente saía da escola e já tinha onde trabalhar”.

Primeiro encontro e o desencontro. Frequentadora da Igreja Presbiteriana da Rua Sete de Setembro, foi nesse período que ela conheceu Odair, ambos no início da adolescência. “As classes eram divididas por idade e eu fazia parte da mocidade. Odair começou a frequentar, aí a gente foi se conhecendo, mas não podíamos namorar. Nós ainda estudávamos e também havia preconceito racial por parte da minha família”, recorda ela. “A gente não podia nem se olhar”, acrescenta.

Odair Cardoso e Sinézia Paparotti: reencontro depois de décadas – Foto: Marcelo Rocha / LIBERAL

Nascido em Americana, Odair era morador da “Colônia dos Duarte”, que ficava na Rua Trinta de Julho, e passou a frequentar a igreja acompanhado da mãe e dos irmãos. “O grupo de mocidade era bem agitado, tinha uma série de atividades, então, era bem gostoso”.

Para ele, que é delegado aposentado, de fato a cor de sua pele interferiu no possível relacionamento. “Apesar da pretensão ser de namorar, a família dela não era nada a favor. Eu também ainda fazia o ginásio, precisava terminar os estudos, então, conversamos e fomos cada um viver nossas vidas”, contou.

Assim, mesmo admirando-se, eles nunca chegaram a namorar e, depois de um certo tempo, Sinézia acabou se transferindo para a Igreja Presbiteriana do São Domingos. “Não nos vimos mais. Fiquei sabendo que ele estava namorando, me deu um aperto no peito. Depois soube que ele casou, só quando ele já estava se separando, mas a vida seguiu. Eu trabalhava, estudava, cheguei a ter uns namoricos, mas nunca me casei. No fundo, eu sabia que não iria dar certo com outros”, confessa.

Vidas Cruzadas. Curiosamente, durante toda vida os caminhos deles se cruzaram. Eles frequentaram a mesma escola (o Instituto Kennedy), porém, em épocas diferentes. Depois, moraram na mesma rua, mesmo assim, nunca se viram.

Enquanto ela buscava saber dele por uma amiga em comum, ele chegou a buscar por notícias dela no Diário Oficial, considerando que ela era professora. “Eu vi o nome dela uma vez, e soube que estava de licença. Quis ligar para saber se estava tudo bem, mas fiquei com medo, não sabia se ela estava casada”.

📲 Receba as notícias do LIBERAL no WhatsApp

No início da década de 80, Odair, que chegou a ser vereador em Americana, se mudou para São Paulo para trabalhar, época em que conheceu sua segunda esposa. Em 2015, ela faleceu e ele se viu entrando em depressão. “Estava flertando com a tristeza e em uma das crises, me lembrei da Sinézia”, explica.

O Reencontro. Em 2017, em busca do antigo amor, Odair achou um telefone no nome dela e ligou. Era a casa de um irmão de Sinézia. “Liguei, ela estava viajando, falei com a cunhada dela, menti, disse que queria saber de um cunhado. Aí que fiquei sabendo que ela era solteira. Poucos dias depois, seria o aniversário dela, no dia 25 de fevereiro. Mandei flor, depois uma cesta de café da manhã e à noite liguei para saber se ela tinha recebido. Depois acabamos nos reencontrando na igreja.”

Bem humorada, Sinézia lembra que alertou o agora namorado que não era mais como ele possivelmente se recordava. “Eu falei no telefone para ele: ‘olha eu estou bem diferente, hein’. Não sou mais aquela jovenzinha. Ele me respondeu: ‘ah, não diga?’”, divertem-se ao lembrar.

Dias depois, combinaram de jantar e desde então nunca mais se largaram. “O que está traçado, está. Nada é por acaso ou por simples coincidência. Ele é o amor da minha vida”, declara ela. Já ele está feliz com a oportunidade de recomeçar. “Nunca é tarde demais, estamos aí.”

Atualmente, o casal faz planos para o futuro. “A família tradicional de italianos pede a oficialização”, alerta Odair. Em tempo, vale dizer que um dos familiares que era contra a história de amor iniciada na década de 70, que só pode ser vivenciada hoje, mais de 50 anos depois, afirma que “Odair é uma benção na vida de Sinézia”. Agora, o “felizes para sempre” vem.

Publicidade