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VCA 141, DEZ ANOS

Número de acidentes cai, mas segurança ainda preocupa nos trilhos da região

Em Sumaré, dois trechos de passagem de nível têm imprudência de motoristas e receio de moradores e pedestres; especialista defende cancelas

Por André Rossi

10 de setembro de 2020, às 08h08 • Última atualização em 09 de dezembro de 2020, às 16h59

Mesmo com o número de acidentes em queda ao longo da última década, a segurança na linha férrea operada pela Rumo preocupa moradores de Sumaré.

Das 16 passagens de nível existentes na RPT (Região do Polo Têxtil), seis estão na cidade. Duas delas são alvo de queixas: no Jardim Primavera, em plena região central, e na ocupação Chácara Três Pontes.

Moradores de ambas as regiões relatam uma série de abusos por parte dos motoristas e pedestres por conta da ausência de cancelas.

A reivindicação pela instalação dos equipamentos é apontada como uma medida que poderia minimizar o risco de colisões.

De acordo com dados da Rumo, foram registrados 84 acidentes entre 2010 e 2020 nos quatro municípios da RPT que integram o percurso: Americana, Nova Odessa, Hortolândia e Sumaré.

Há quatro anos a frequência de acidentes apresenta redução nos trilhos da região:

  • 2016 – 10 acidentes
  • 2017 – 4 acidentes
  • 2018 – 8 acidentes
  • 2019 – 6 acidentes
  • 2020 – 4 acidentes

A sensação de insegurança, no entanto, é uma constante entre os moradores do Jardim Primavera.

Passagem de nível no Jardim Primavera, em Sumaré, tem até faixa para evitar acidentes – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

É o que relata a dona de casa Cleide França, de 52 anos, que está acostumada a ver motoristas se arriscando ao passar pela linha férrea mesmo com o trem já alertando
sua aproximação.

“É carro, moto, bicicleta. Os motoristas não respeitam. O trem já está vindo e eles seguem passando. Não param. Dá até aflição quando o trem chega porque dá medo [que haja uma batida]”, contou Cleide.

A passagem é sinalizada com placas de alerta e o trem buzina quando está há 200 metros do cruzamento. O ponto de acesso serve tanto para quem vem do Centro, pela Avenida Júlia Vasconcelos Bufarah, quanto para quem deixa o bairro para a região central.

“Vejo muita coisa errada. Uma cancela melhoraria demais. A pessoa não vai descer do carro para levantar a cancela, ela vai parar. Hoje a turma atravessa muito na frente do trem. Já cansei de ver”, contou a moradora Maria Helena Frizera, de 68 anos.

Já na Chácara Três Pontes, localizada há três quilômetros do Centro, a passagem serve para ligar os dois lados da ocupação.

Segundo um dos membros da associação de moradores, Creverson Matos Santana, de 41 anos, o principal problema é a falta de manutenção, inclusive no nivelamento dos trilhos.

“Os carros não passam, ficam travando escapamento e quebram na linha. O que a gente queria é que eles [Rumo] viessem aqui e fizessem uma limpeza geral”, reclamou Creverson.

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Uma cancela automatizada também é citada por moradores como algo que poderia trazer mais segurança até mesmo para os pedestres.

No bairro Três Pontes, cruzar trilho a pé é caminho para moradores de ocupação – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

“Seria bom uma cancela para o morador passar. Esses dias um senhor caiu, quebrou a perna. Puxamos rápido ele porque o trem já estava vindo e não buzinou”, disse o membro da comunidade.

Outro lado

A Prefeitura de Sumaré ignorou os questionamentos do LIBERAL sobre a situação da Chácara Três Pontes.

Já sobre a região do Jardim Primavera, a administração disse que solicitou da Rumo e teve o pedido atendido para uma série de “melhorias e manutenção” na malha ferroviária da região, como troca de trilhos e dormentes, roçagem, capinagem e limpeza na passagem de nível.

A Rumo, por sua vez, diz que as duas passagens seguem padrões estabelecidos em normas técnicas para garantir a segurança dos cruzamentos.

A empresa informou que realiza uma série de campanhas educativas para alertar sobre os cuidados com a ferrovia.

“Uma peça fundamental na prevenção de acidentes é a conscientização da população. Conforme disposição do CTB (Código de Trânsito Brasileiro), a linha férrea é sempre preferencial. É obrigatório que os veículos parem em uma distância segura e se certifiquem de que não há trens se aproximando antes de efetuar o cruzamento”, afirmou a Rumo.

Ausência de cancelas no perímetro urbano é um ‘absurdo’, diz especialista

Para o engenheiro especialista em ferrovias e presidente da FerroFrente (Frente Nacional pela Volta das Ferrovias), José Manoel Ferreira Gonçalves, a ausência de cancelas no perímetro urbano é um “absurdo”.

O equipamento de segurança é classificado como fundamental para lidar com uma situação que, na opinião do especialista, não deveria acontecer, que é a presença dos trilhos nos centros das cidades. A solução seria criar contornos ferroviários.

Trem passa pelo cruzamento da linha férrea com a Rua Carioba, em Americana – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

“Colocar cancela é uma alternativa precária, mas é uma solução emergencial porque ela é necessária. O que não pode é colocar cancela e esquecer de fazer os contornos ferroviários”, opinou José Manoel.

“Nós temos que tirar as linhas férreas
dos centros da cidade, desses pontos
de conflito”

O engenheiro é crítico à renovação do contrato de concessão da Rumo para administrar a malha ferroviária por mais 30 anos.

Ele diz que a empresa abandonou trechos e pouco fez para tentar retirar as linhas dos perímetros urbanos.

O contrato em vigência vai até 2028. A empresa já divulgou que seu plano de investimentos é de R$ 4,7 bilhões e vai ampliar de 35 milhões de toneladas transportadas para cerca de 75 milhões ao ano.

Também está prevista a aquisição de 196 locomotivas e 2.575 vagões.

“Não ter cancela é um absurdo. Isso é inadmissível. Qual o problema da cancela? ‘É difícil administrar cancela, porque pode ser uma roleta russa’. Para tudo, você tem argumentos. Tem um argumento que não tem como você substituir, que é de defender a vida. Não foi só aí [Americana] que morreu gente”, afirmou José Manoel.

Transporte ferroviário na RPT

As principais características da malha férrea que passa pelas cidades da Região do Polo Têxtil

Extensão
Por Americana, Hortolândia, Nova Odessa, Santa Bárbara e Sumaré passam 20 quilômetros de trilhos.

Cruzamentos
Em 16 pontos, há passagens de nível: duas em Americana e Hortolândia, três em Nova Odessa e nos limites entre Hortolândia e Sumaré e outras seis na área de Sumaré.

No Estado
No total, são cerca de dois mil quilômetros de trilhos na chamada malha ferroviária paulista.

Trem cruza a região central de Americana – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Frequência
A frequência de passagem de composições nas cinco cidades da região é de uma a cada hora, totalizando 24 trens por dia.

Rota
Os trens que passam pela região transportam grãos no sentido do Porto de Santos, vindos de Rondonópolis (MT).

Na volta, os vagões são carregados com fertilizantes e seguem para o terminal da Rumo no Mato Grosso.

Há ainda alguns trens que carregam combustíveis em Paulínia e os movimentam para São José do Rio Preto e também para o Centro-Oeste.

Fonte: Rumo

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