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AMERICANA, 145 ANOS

Negros e mulheres ocupam lacuna na história do município

Historiadoras relatam dificuldade em encontrar registros; conheça cinco personagens que fizeram diferença em Americana

Por Natália Velosa*

27 de agosto de 2020, às 08h30 • Última atualização em 09 de dezembro de 2020, às 16h55

A participação dos negros e das mulheres na história de Americana ficou dispersa. São poucos os registros de época citando esses personagens, embora eles também tenham contribuído de alguma forma com o município.

“Há muito tempo tínhamos consciência da lacuna do negro na história de Americana. É como se não existissem negros na cidade ou que os mesmos não tivessem passado por aqui”, relata Cláudia Monteiro, historiadora e pesquisadora da história do negro em Americana.

Segundo ela, os negros exerceram, por exemplo, papel fundamental na economia cafeeira e da cana de açúcar do município, na área onde hoje está situado o Museu Histórico Pedagógico Municipal Dr. João da Silva Carrão.

Membro do grupo Historiadores Independentes de Carioba, Gabriela Trevisan também relatou o mesmo problema com as mulheres.

“Há poucas notas em jornais da época. Sabemos muito pouco, além das informações principais”, citou.

Com a ajuda das duas historiadoras, o LIBERAL destacou cinco personagens que tiveram relevância na história da cidade e contribuíram com o seu crescimento.

*Estagiária sob supervisão de Valéria Barreira

Lúcio Gabriel
Nascido na cidade de Cordeirópolis, veio para Americana em 1957. Foi durante muito tempo lavador de carros, mas ficou conhecido como carnavalesco por ter fundado a Escola de Samba “A voz do Morro”, em Americana. Na época, os negros eram proibidos de frequentar os clubes de Americana e região. Lúcio Gabriel morreu num acidente de carro em Santa Bárbara d’Oeste, em 1965. Em 1969, foi fundada uma entidade em sua homenagem, que foi registrada como Associação Beneficente “Lúcio Gabriel”.

Odair Cardoso
Nasceu em Americana, em 1947. Foi o primeiro vereador negro da cidade. Participou da eleição em 1972 e teve seu mandato entre o período de 1973 e 1976. Foi o único negro a ocupar uma vaga de vereador na época. Quando vereador, foi o autor do projeto Bolsa de Estudo Reembolsável, semelhante ao que hoje é o FIES (Financimento Estudantil). Atualmente, Odair mora em São Paulo, é delegado de polícia, pai de três filhos e sempre visita Americana.

João Solidário Pedroso
Foi o primeiro professor negro da cidade. Dedicou-se principalmente à formação primária no grupo escolar da então Villa Americana. Nasceu em Campinas, em 29 de abril de 1887. Sabe-se que chegou na Villa Americana em meados de 1911 e lecionou na cidade por 19 anos. Teve seu nome no hall do primeiro corpo docente que se formou na então vila. Pedroso foi casado com Benedicta de Andrade Solidário e com ela teve cinco filhos. Morreu em 1937, aos 50 anos, vítima de pneumonia. Hoje é patrono da escola que leva seu nome.

Silvia Regina Barros
Nasceu em Americana, no dia 30 de julho de 1958. Foi militante do Movimento Negro, trabalhava como merendeira escolar e era presidente da Escola de Samba Unidos do Salto Grande. Foi idealizadora e criadora da ONG “Arte de Vencer”, que originou projetos como “Tambor Menino”, em que resgatava a dança e a literatura negra na Vila Mathiensen, Jardim dos Lírios e outros bairros ao redor. Além de música e dança, também oferecia aulas de costura, informática e culinária. Foi também presidente do bloco carnavalesco “Receita do Samba”, da região do bairro Cidade Jardim. Sua mãe, Maria Therezinha Barros, foi a primeira passista de escola de samba de Americana, no início da década de 1950. Silvia atuou na ajuda a mulheres que viviam na prostituição, distribuindo camisinhas, trabalhando na conscientização e alertando para o risco da gravidez indesejada. Carnavalesca, antes de falecer, em 2009, Silvia concedeu entrevista ao LIBERAL e falou sobre o trabalho que desenvolvia junto aos negros e ao carnaval da cidade: “Os negros não entravam nos clubes daqui e foi preciso eles se organizarem para poderem brincar a festa que eles haviam ajudado a inventar. Minha luta é para que esses fatos sejam contados e não ignorados como a elite branca fez por todo esse tempo”. Silvia faleceu no dia 26 de agosto de 2009.

Delmira Marta de Oliveira
Nasceu em 29 de julho de 1884, em Itapetininga, mas ficou conhecida como uma importante professora na história de Americana. Delmira casou-se em 1906 com Cândido Cruz, importante médico da Villa Americana. Moravam em uma casa chamada de “Villa Delmira”, localizada onde hoje está o Colégio D. Pedro II, no centro da cidade. Delmira é citada em 1921 como responsável pelos primeiros grupos escolares de Villa Americana. Há registros que deu aula na Escola Heitor Penteado, em 1921, e ocupou a direção da Escolinha Santa Maria, em 1949. Publicou 14 crônicas no LIBERAL, em 1959, com o tema “Americana de Outrora”, onde contava suas lembranças da Villa Americana. Faleceu em 14 de agosto de 1960, com 76 anos. Hoje, é nome de uma escola estadual na Vila Mathiensen.

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