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Cadeia Alimentar II

Negociada na prefeitura, PF diz que propina da merenda foi de R$ 150 mil

Em entrevista exclusiva ao LIBERAL, delegado diz que Juninho Barros apontou contas para receber depósitos, entre elas da mulher e filho

Por George Aravanis

28 de novembro de 2019, às 08h04 • Última atualização em 28 de novembro de 2019, às 10h28

O delegado da Polícia Federal, Bruno Rigotti, coordenador da operação Cadeia Alimentar II, disse com exclusividade nesta quarta ao LIBERAL que um empresário que mantinha contrato com a Prefeitura de Americana pagou entre R$ 130 mil e R$ 150 mil de propina em várias contas bancárias indicadas pelo secretário de Governo, Juninho Barros.

Segundo a PF, o desvio de dinheiro da merenda escolar foi negociado dentro da prefeitura em reuniões entre Juninho Barros, o secretário de Negócios Jurídicos, Alex Niuri, e José Geraldo Zana, dono de um frigorífico que capitaneou o esquema estadual de corrupção e fechou delação premiada ano passado. Ele entregou à polícia os comprovantes dos depósitos.

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A PF afirma que Juninho e Niuri foram beneficiados pela propina. Eles estão presos temporariamente desde terça-feira e negam os crimes.

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A maioria dos depósitos nas contas de laranjas aconteceu entre o final de 2016 e o início de 2017, diz Rigotti. Dois dos pagamentos foram feitos à esposa e a um filho de Juninho, afirma o delegado. A esposa teria recebido R$ 10 mil, e o filho, R$ 15 mil.

Luciane Carloni Gomes de Assis, funcionária do Setor de Suprimentos da prefeitura, recebeu R$ 5 mil, segundo o delegado. Ela também está presa em São Paulo.

Foto: João Carlos Nascimento / O Liberal_24.06.2016
Juninho alegou que fazia uma consultoria

José Geraldo Zana é dono do Mult Beef, frigorífico de Brodowski, na região de Ribeirão Preto. A prefeitura fechou o último contrato com a empresa, para comprar carne para a merenda escolar, em abril de 2017 – pouco depois do período dos depósitos. Naquele ano, foram empenhados pelo governo R$ 1 milhão. Em 2018, R$ 1,7 milhão.

“Segundo o Geraldo Zana, eles passavam os valores para o Dirineu [Soares de Barros Junior, nome de Juninho] e o Dirineu fazia divisão como ele queria”, afirmou o delegado. Os depósitos eram realizados pela empresa de Zana.

Preso ano passado, na primeira fase da operação, o empresário fechou uma delação premiada e detalhou o esquema de corrupção existente em várias prefeituras, entre elas a que supostamente acontecia em Americana.

A polícia ainda não sabe qual é exatamente a relação de Juninho Barros com as outras pessoas que receberam os depósitos. Todos serão ouvidos, afirma Rigotti.

A PF também vai apurar se o prefeito Omar Najar (MDB) sabia de algo. Pelas evidências levantadas até agora, o delegado acredita que não, pois em nenhum momento o nome do chefe do Executivo foi citado pelo delator nem nos depoimentos. “Mas é lógico que ele vai ser ouvido para falar se sabia, se não sabia, como era, como que não era.”

Foto: Arquivo / O Liberal
PF afirmou que Niuri participava das reuniões

Ouvido nesta terça, Juninho Barros negou que o dinheiro fosse de propina. Segundo o delegado, o secretário alegou que os depósitos eram referentes a um serviço de consultoria que ele teria prestado para a Mult Beef, para ajudar em contratos com outras prefeituras. “Mas não tem nenhum contrato de prestação de serviço de consultoria, não apresentou nenhuma prova”, afirmou Rigotti.

A delação do empresário, dono do frigorífico Mult Beef, em Brodowski, foi a base da segunda fase da operação, desencadeada anteontem, que resultou no cumprimento de 27 mandados de prisão e 55 de busca e apreensão em 27 cidades. A suspeita é que o esquema, que envolvia outras empresas, acontecia em 50 municípios.

Em geral, agentes públicos recebiam propinas para direcionar uma licitação a determinada empresa e, em troca, recebiam propina, que girava em torno de 10% do valor do contrato negociado.

Defesa

O advogado Willey Sucasas, que representa Juninho Barros e Alex Niuri, diz que, sobre os depósitos citados pelo delegado da PF (Polícia Federal), vai se manifestar “no momento oportuno”, após ter acesso a todas as provas contidas no inquérito.

“Eu não vou debater na imprensa a defesa do meu cliente. O que eu posso dizer é que palavras de delator confessadamente réu em vários processos não são prova de absolutamente nada, segundo a jurisprudência do STF [Supremo Tribunal Federal]”. O advogado vai pedir a suspensão da prisão temporária dos secretários.

Esposa de Juninho, Vandete Barros não quis falar sobre o assunto e pediu que a reportagem procurasse a prefeitura. Questionada se de fato recebeu um depósito, disse: “Não vou te dar informação, não sei nem do que você está falando.”

Juninho tem dois filhos. O delegado da PF não quis informar no nome de qual dos dois foi feito o depósito de R$ 15 mil, e o LIBERAL não conseguiu contato com eles.

A reportagem não conseguiu falar com Luiz Felipe Maganin, advogado de Luciane Carloni.

A prefeitura disse, via assessoria, que a informação da suposta propina negociada no Paço não chegou por nenhuma fonte oficial, e, se chegar, será respondida.

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