16 de abril de 2024 Atualizado 08:04

8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
MENU

Publicidade

Compartilhe

NOTÍCIAS QUE INSPIRAM

Nascido para colorir

Artista usa talento para transformar resquícios de um pé de jequitibá em belas obras de arte e assim garantir que ele viva mesmo após a sua morte

Por Jucimara Lima

22 de maio de 2022, às 09h10 • Última atualização em 22 de maio de 2022, às 09h19

Eder acabou inspirando alunos a fazerem trabalhos que agora serão parte de exposição itinerante - Foto: Claudeci Junior / O Liberal

O professor de artes e filosofia Eder Donizeti Oliveira Nunes, de 54 anos, é a própria representação do que as pessoas costumam chamar de “alma de artista”. Versátil, atualmente ele dedica seu tempo livre, entre uma aula e outra, para transformar os troncos de um jequitibá que caiu na praça do Jardim Brasília em peças de arte, uma bela maneira de manter viva uma árvore que já garantiu sombra e histórias para muita gente.

O Despertar
Eder conta que na década de 80, ainda durante a infância, viu o interesse pela arte despertar quando se deparou com uma pintura impressa em uma revista. “Era uma árvore com troncos e galhos brancos e ela ficava no meio de um trigal amarelo, o que contrastava com o céu azul. Achei lindo e assim surgiu a ideia de reproduzir. Eu não consegui, mas tentei”, diverte-se.

Passado aquele primeiro contato, já na adolescência, começou a ler livros sobre o impressionismo, época que se identificou com artistas como Vincent Van Gogh e Claud Monet. Ainda assim, sua maior referência até hoje é Paul Cézanne, considerado pelo próprio Pablo Picasso como “o pai de todos os modernos”.

“Quando comecei a reproduzir Cézanne, me identifiquei de imediato. Ele rompeu com o figurativo e a maneira com que ele trabalhava as cores e suas composições mexeu muito comigo”, relembra ele que tem nas cores sua maior identidade artística.

Curiosamente, assim como Van Gogh e outros artistas, apesar de ter despertado cedo para arte, apenas um pouco mais velho Eder decidiu “viver de sua própria arte”. Tanto é que a faculdade de artes e posteriormente de filosofia ele só concluiu depois dos 40 anos. Antes, chegou a fazer curso técnico de contabilidade e atuar como instrutor de autoescola. “A pessoa que é picada pelo bichinho, não tem como. É como querer separar a umidade da água, ou seja, impossível”, pontua.

📲 Receba as notícias do LIBERAL no WhatsApp

Ciente do poder transformador da arte, foi através da educação que ele então decidiu impactar vidas. “Sempre gostei do processo de ensinar, porque de uma certa forma você fica na vida da pessoa, será sempre lembrado. Além disso, gosto de ver a evolução do ser humano. Sempre aconselho meus alunos a colocarem um pouco de arte na vida”.

Pintando a vida
Um hábito adotado pelo artista, especializado em pintura acrílica desde os anos 90, é pintar a vida cotidiana, em especial prédios históricos e a natureza. “Pego minha tela e meu cavalete e vou para os lugares que me tocam”.

Entre suas obras estão a reprodução da Capelinha de Aparecidinha, Carioba. Durante a pandemia, ele escolheu pintar justamente a Praça Manoel Françoso, do Jardim Brasília, local onde conheceu Edna Nardi Mendes Camilo, idealizadora do projeto Ações Sementinhas, cuja história já foi contada no NQI.

Na ocasião, Edna pediu para ele fazer um trabalho nos postes que beiravam a avenida. Eder começou as pinturas em alguns espaços. Pouco tempo depois, um vendaval derrubou um pé de jequitibá de mais de 30 anos.

Assim, mesmo sem nunca ter trabalhado com madeira, ele aceitou o desafio de transformar aqueles pedaços de árvore, resultado que já pode ser visto. De frases inspiradoras à reprodução do pintor Joan Miró, cada pedacinho de tronco virou uma obra de arte única e exclusiva.

Além disso, segundo Edna, as crianças da Emei Ceci, inspiradas pelo trabalho de Eder, também estão produzindo peças. “É um trabalho maravilhoso que dá um diferencial enorme, valorizando ainda mais nossa ideia da necessidade de se preservar e valorizar o que temos. Nesse trabalho, por exemplo, a arte vai dar continuidade na vida da árvore criando uma memória afetiva e principalmente conscientização”, pontua Edna.

Segundo ela, as peças poderão ser vistas tanto no Dia da Educação, em 3 de junho, em evento que será realizado na própria praça, como em uma exposição itinerante que farão no CCL (Centro de Cultura e Lazer), no dia 5. Além disso, na Semana do Meio Ambiente as obras ficarão na Emei.

“Aos poucos o Memorial Jequitibá vai ficando pronto e ainda vai render muitas outras peças, lembrando que a parte frontal da árvore ficará na praça para eternizá-lo. Esse é o poder da arte”, finaliza Eder.

Publicidade