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Sem estrutura

Nardini está sob precariedade e incerteza

Falta material, proteção e, principalmente, salário, relatam funcionários e ex-colaboradores da empresa, que é alvo do Ministério Público do Trabalho

Por George Aravanis

14 de março de 2020, às 08h27 • Última atualização em 06 de julho de 2021, às 08h48

Falta de energia, de matéria-prima, de equipamento de proteção para trabalhar e pagamentos “picados” e semanais que, às vezes, nem acontecem.

É assim, segundo funcionários e ex-funcionários, a rotina na Nardini, tradicional indústria metalúrgica de Americana cuja única salvação, na visão do MPT (Ministério Público do Trabalho), é uma intervenção judicial.

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Como revelou ontem o LIBERAL, quatro procuradoras do Trabalho de Campinas pediram que a Justiça nomeie um interventor para administrar a Nardini e pagar os direitos trabalhistas e salários de pessoas que já deixaram a empresa.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Empresa não tem cumprido com os direitos dos trabalhadores

O órgão entende, com base em várias decisões judiciais, que a Nardini montou um grupo econômico com empresas parceiras para esconder seu patrimônio e sonegar impostos. Quatro membros da diretoria da empresa chegaram a ser condenados à prisão por crime contra a ordem tributária em 2016.

Há 35 anos na empresa, um funcionário relatou ao LIBERAL, sob a condição de anonimato, que o clima lá dentro é “o pior possível”. “Todos têm conhecimento da situação da Nardini. Infelizmente, para a grande maioria das pessoas, é a única oportunidade de trabalhar – e talvez a última. É um crime o que estão fazendo com a gente”, descreve o trabalhador.

Ele diz que os salários começaram a atrasar em 2015. Desde então, a empresa vem pagando um percentual da remuneração a cada semana, mas nunca atinge o valor cheio do mês. Assim, boa parte dos pagamentos vai ficando para trás, numa bola de neve que aumenta à mesma medida que a angústia de quem não tem certeza de quanto, e se, vai receber.

Uma ex-funcionária, que deixou a empresa no mês passado, disse que a Nardini depositava uma parte do salário toda sexta-feira. Às vezes 10%, às vezes 15%, outras vezes nada. “Quando saí [em fevereiro], estavam pagando salário de novembro.”

Ela entrou na Justiça, mas não tem expectativa de quando conseguirá receber os cerca de R$ 50 mil que calcula que a empresa lhe deve. A profissional conhece pessoas que deixaram a Nardini há dois ou três anos e ainda não receberam um centavo. As demandas judiciais vão entrando no processo piloto por meio do qual a Justiça vasculha bens da empresa para pagar aos trabalhadores.

“O aluguel, água, força não espera, não”, conta a funcionária, que, após dez anos de empresa, tinha R$ 1 mil de FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).

Um trabalhador que está na firma há 35 anos tem menos ainda no fundo de garantia. “A empresa nunca depositou meu FGTS.” Recentemente, ele diz que ficou sem trabalhar porque faltava equipamento de proteção individual.

A reportagem tentou contato com a advogada da empresa, Rose Bastos, ontem à tarde. A informação era de que ela não estava mais na empresa e que seria a única que poderia comentar a situação. Não houve retorno.

Funcionário apela para não perder casa

Em um calhamaço virtual de 2.272 páginas, a Justiça do Trabalho de Americana vai empilhando as demandas de pessoas que dedicaram parte da vida à Nardini e agora tentam recuperar o que a empresa deve a eles. As execuções dos processos entram em um processo piloto por meio do qual a Justiça procura bens da empresa para pagar os trabalhadores.

Em meio ao linguajar jurídico, o drama de um apelo urgente emerge das páginas. No último dia 4 de março, um ex-funcionário protocolou uma petição para “o levantamento imediato” de seu crédito de R$ 108 mil para “não perder seu único teto”.

Ele vinha pagando o financiamento do imóvel com as parcelas de um acordo que tinha com a empresa. Com a falta de pagamento, o imóvel foi a leilão – mas ainda não tinha sido arrematado. Uma das advogadas que representam os ex-funcionários cita, no processo, que a dívida trabalhista já passa de R$ 30 milhões.

Só os 17 clientes do advogado Raphael Pires cobram R$ 2,5 milhões da empresa. “Existem penhoras já formalizadas. Inclusive um imóvel no valor de R$ 8 milhões. O grupo econômico vem indicando bens à penhora também. Em passos lentos, as obrigações vêm sendo cumpridas”, disse.

No processo, os juízes têm um cabeçalho pronto para habilitar cada crédito, que começa assim: “Diante da existência de grande número de reclamatórias contra a empresa executada e considerada a notória dificuldade que este juízo e os autores têm encontrado na busca de patrimônio suficiente à quitação dos créditos trabalhistas (…)”.

Além da Capa, o podcast do LIBERAL

A edição desta semana do podcast “Além da Capa” aborda a substituição da mão de obra de pessoas mais velhas por outras mais novas na RPT (Região do Polo Têxtil), em 2019. Ouça:

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