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Dia da Mulher

Mulher com deficiência representa 0,5% da mão de obra de Americana

No Dia da Mulher, LIBERAL traz relatos de desafios, tanto na área profissional quanto pessoal, de mulheres com deficiência

Por Marina Zanaki

08 de março de 2020, às 08h15 • Última atualização em 08 de março de 2020, às 12h06

A discriminação de gênero afeta todas as mulheres, mas não da mesma maneira. Pessoas com deficiência e que são do sexo feminino enfrentam uma carga dupla de discriminação, situações apontadas por mulheres ouvidas pelo LIBERAL.

Essa percepção é confirmada pela ONU (Organização das Nações Unidas). A entidade apontou que meninas com deficiência têm menor taxa de escolaridade em relação aos meninos com deficiência em países em desenvolvimento (32% e 45%, respectivamente).

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Assistente administrativa na FAM, Rafaela destaca aprendizagem no ambiente de trabalho

A adaptação dos ambientes ainda é um dos desafios para inserção desse público nas escolas e também no mercado de trabalho. A avaliação é da assistente administrativa na FAM (Faculdade de Americana), Rafaela Aparecida Porto, de 32 anos, que tem a coordenação motora comprometida por falta de oxigênio no cérebro em seu nascimento.

Há quatro anos na faculdade, ela destaca a aprendizagem constante como um dos melhores aspectos de seu trabalho. “Eu acho que a primeira coisa que uma pessoa deve ter quando têm uma limitação é acreditar nela mesma. Vai lá e tenta, nem tudo a gente vai conseguir, mas tentar fazer faz toda a diferença”, destacou Rafaela.

Em Americana, 398 mulheres com deficiência estão no mercado de trabalho formal. Esse número representa 1,22% do total de mulheres empregadas e 0,55% da mão-de-obra com carteira assinada na cidade. O levantamento foi feito pelo Ministério do Trabalho a pedido do LIBERAL.

Foto: Raquel Lisboa / Divulgação
“As mulheres têm que ir à luta, serem independentes”, diz Tatiane, assistente na Suzano

A vida profissional pode ser um fator decisivo no empoderamento das mulheres com deficiência. Assistente administrativa na área da logística da empresa Suzano Papel e Celulose, Tatiane Modesto, de 34 anos, tem baixa visão.

Ela atua hoje recebendo madeira e produtos químicos, uma área considerada masculina, e troca turnos como todos os outros funcionários do setor.

“Meu gestor é muito humano, não me vê como uma mulher frágil. Sou uma profissional que está ali para trabalhar. As mulheres têm que ir à luta, trabalhar, estudar, serem independentes, ter seu dinheiro. Estamos aqui para ser de igual para igual”, declarou Tatiane.

Em material da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, a organização aponta que mulheres e meninas com deficiência são mais vulneráveis a abusos, têm menos probabilidade de obter ajuda da polícia e de ter acesso a cuidados preventivos.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal_5.01.2016
Fernanda Martins de Castro tem apenas 20% da visão

Se uma mulher é considerada frágil em uma sociedade patriarcal, aquelas que têm alguma deficiência sofrem ainda mais. A percepção é da professora Fernanda Martins de Castro, de 30 anos, tem apenas 20% da visão. Ela lembra que durante a gravidez de seu filho, hoje com quatro anos, ouvia comentários inconvenientes.

“As pessoas já pensam que o corpo da grávida é um patrimônio público, podem se intrometer. Quando você tem uma deficiência, essa coisa é pior. Já perguntaram pra mim: nossa quem fez isso com você? Quem vai cuidar dessa criança?”, recorda a professora.

Se por um lado o trabalho resgata a autoestima e possibilita independência financeira às mulheres com deficiência, ele também pode mostrar um lado discriminatório.

A professora Fernanda Martins de Castro, de 30 anos, passou em dois concursos públicos do Estado de São Paulo, em 2010 e 2013. Ela possui apenas 20% da visão.

Em ambos os concursos foi barrada na perícia médica sob a justificativa de não “gozar de boa saúde”. Para Fernanda, trata-se de discriminação. Ela argumenta que já dava aulas como contratada na escola estadual em que estava pleiteando a primeira vaga concursada. Ela entrou na Justiça e conseguiu assumir o cargo.

Em 2013, passou em novo concurso e, mesmo já lecionando na rede pública, também foi barrada. Fernanda entrou com ação judicial para o segundo cargo, mas ainda não conseguiu assumi-lo. A professora mudou-se de Americana para São Paulo e espera conseguir a vaga em alguma escola da capital paulista.

“No Departamento de Perícias do Estado eu percebo uma política discriminatória, já vi pessoas obesas sendo barradas. Nas escolas nunca tive nenhum problema com os alunos, explico logo no começo, consigo ter diálogos e conscientizar. Acho que é até bom em certa medida, ensino outras coisas para os alunos além da disciplina”, destacou a professora.

O Departamento de Perícias Médicas do Estado informou que Fernanda não foi considerada apta por apresentar doença considerada “grave, com comorbidades associadas”. “A candidata não se inscreveu no concurso como pessoa que se declara com deficiência. Dessa forma, não foi avaliada para que fosse constatada possível compatibilidade da deficiência com as atribuições do cargo pretendido”, informou.

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