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JUSTIÇA

Morador de Americana tenta limpar nome usado pelo irmão para cometer crimes

Enquanto Alyson estava no exterior, seu irmão Nielson estava preso com o nome dele em Minas Gerais; agora, busca por reparação de equívoco judicial

Por George Aravanis

29 de março de 2020, às 07h39

Alyson, de 38 anos, começou seu isolamento em 16 de fevereiro, assim que voltou a Americana, onde vive sua mãe, após duas décadas no exterior.

Seu confinamento antecipado não aconteceu por causa do novo coronavírus (Covid-19), que ainda engatinhava no País, mas por medo de ir para a cadeia por crimes que não cometeu.

É que Alyson Barros de Araújo foi condenado por dois crimes de tráfico de drogas pela Justiça de Minas Gerais. Cumpre pena até 2022 na unidade prisional de São Joaquim de Bicas, a 560 quilômetros de Americana. Só que quem está na prisão, na verdade, é Nielson Barros de Araújo, de 33 anos, irmão dele.

Em audiência no último dia 9 de março na Vara de Execuções Penais de Igarapé (MG), Nielson confessou que usou documentos falsos em nome do irmão. Um dia depois, a Justiça mandou apurar a identidade real do preso.

A Polícia Civil já fez coleta das digitais do detento e aguarda o resultado do laudo técnico, sem previsão de quando ficará pronto.

Agora, Alyson tenta provar que não é um criminoso para recomeçar sua trajetória no Brasil depois de voltar da Europa, por motivos financeiros.

“Minha vida está parada”, conta Alyson, que deixou o Brasil em 1999, passou dois anos em Londres e o restante em Portugal, países nos quais trabalhou em empregos como ajudante de cozinha.

Por enquanto, ele não pode nem sequer procurar um trabalho, já que qualquer empresa exige o atestado de antecedentes criminais, que o apontaria como condenado pela Justiça.

Foto: João Carlos Nascimento/O Liberal
Alyson tenta juntar documentos para provar que não cometeu crimes em seu nome

Ele descobriu a situação há cerca de um ano. A filha do irmão contou para sua mãe, Maria Aparecida de Barros. Em dezembro, ela procurou o Ministério Público de Americana, que relatou o caso à Promotoria de Justiça de Igarapé.

Além das condenações, que se referem a crimes praticados em 2014 e 2015, Alyson “responde” a dois processos por causa de crimes que diz que o irmão cometeu – um de furto e outro de tráfico.

“Não sei porque ele fez isso. Quer dizer, fez isso porque já estava cheio de processo”, contou Alyson ao LIBERAL.
O medo dele ao chegar ao Brasil era que houvesse algum mandado de prisão em aberto em seu nome.

Quando sua mãe foi buscá-lo no aeroporto, disse ter passado mal de tanto estresse. “Só tive paz quando vi que ele passou”. Desde então, ela tem apelado para que o filho fique em casa.

Foto: João Carlos Nascimento/O Liberal
Documento que mostra informações do prontuário do irmão de Alyson, Nielson, preso em Minas

Nielson cumpria pena inicialmente em regime semiaberto e passou ao fechado justamente por que cometeu faltas consideradas graves.

Nascido em Teófilo Otoni (MG), Alyson está atualmente na casa de parentes em Minas. Há cerca de duas semanas, foi parado na rua pela polícia.

“Eles abordaram, tive que mostrar documentos, explicar tudo. Graças a Deus não aconteceu nada”.

Não houve problemas porque, apesar do nome “sujo”, não há mandados de prisão em nome de Alyson, já que ele, ao menos no papel, está preso.

O advogado de Alyson, Dinael de Souza Machado Junior, informou que vai fazer petições para apresentar a situação nos processos em que Nielson é réu com o nome de Alyson.

De acordo com o advogado, “a farta documentação”, aliada ao laudo de identificação que a Justiça mandou fazer, serão suficientes para reparar a situação.

Entre os documentos, estão registros de trabalho de Alyson no exterior. Ele diz acreditar que o irmão começou a usar o nome dele em 2012.

Nos dois processos em que Nielson foi condenado com o nome de Alyson, não há mais possibilidade de recursos judiciais. Além dos processos, o irmão ainda é alvo de inquéritos policiais.

Ao LIBERAL, a Defensoria Pública de Minas Gerais, que representa Nielson, informou que aguarda o resultado da diligência solicitada para exames de confrontamento de impressões digitais.

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