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VCA 141, DEZ ANOS

‘Jesus, salva meu filho’, pediu vítima de acidente

Mãe e filho estavam juntos no ônibus VCA 141 na noite que entraria para a história da cidade; na hora do acidente, ela fez um último apelo e foi atendida

Por Rodrigo Alonso

08 de setembro de 2020, às 08h01 • Última atualização em 09 de dezembro de 2020, às 16h59

“Jesus, salva meu filho”. Essas foram as últimas palavras da costureira Solange Lindaura Moreira e Silva, de 37 anos, uma das dez vítimas fatais da tragédia do ônibus VCA 141, há 10 anos, em Americana.

Manifestado no momento da batida, o desejo de Solange foi atendido. O filho Matheus Henrique Ribeiro, à época com 15 anos e um dos passageiros da linha, sobreviveu ao acidente.

Dez anos depois, agora com 25 anos, ele atendeu a reportagem do LIBERAL e relatou os últimos momentos com a mãe.

Matheus estava com a mãe no ônibus – Foto: Marcelo Rocha – O Liberal

Naquele dia, os dois tinham ido juntos para um culto em Piracicaba e voltavam de ônibus para casa, localizada no Zanaga. Matheus estava sentado junto de um amigo, em frente ao banco ocupado por Solange. O veículo, no entanto, nunca chegou ao destino.

“Se eu soubesse que aquele dia seria o último dia da vida dela, acho que eu poderia ter feito algo diferente. Eu podia ter inventado outra coisa para a gente não poder ir à igreja”, lamenta.

Até hoje, Matheus, que trabalha como pintor, sente todos os dias a falta da mãe. “Todo dia, eu lembro dela. Todo dia, eu sempre vejo foto dela, eu choro”.

Depois da batida, sua mão direita e um dos pés ficaram presos entre as ferragens. Matheus se lembra de ter sido socorrido por quatro populares e dois guardas municipais.

Em seguida, ele procurou por Solange, mas não a encontrou e, sem notícias dela, acabou levado para o Hospital Municipal Dr. Waldemar Tebaldi. Na ambulância, havia mais um homem, que morreu no caminho, segundo o pintor.

Matheus teve alta, mas não conseguiu nenhuma informação sobre a mãe. Soube do falecimento somente quando ele, dois irmãos e o padrasto foram para o Corpo de Bombeiros, que entrou em contato com o necrotério e confirmou a morte de Solange.

Ônibus da VCA foi destruído por trem – Foto: Marcelo Rocha – O Liberal

“Naquele momento, não acreditei que ela tinha morrido, porque a minha mãe, na verdade, era como se fosse um porto seguro para mim. Todo momento que eu precisava, ela estava ali do meu lado”, diz.

O pintor e a mãe costumavam frequentar igrejas juntos. Naquele dia, mais cedo, Solange havia comprado um par de sapatos e uma blusa para Matheus, usados por ele para ir ao culto em Piracicaba. No acidente, porém, a blusa rasgou, e o sapato ficou no ônibus.

MUDANÇA
A tragédia mudou a vida de Matheus, que perdeu motivação e começou a questionar as vontades de Deus. Para distrai-lo, um vizinho ofereceu a ele uma oportunidade como pintor. Matheus aceitou a oferta e segue na mesma profissão até hoje.

“Vendo a minha dor, porque eu não comia, não fazia nada, ficava dentro de casa 24 horas trancado, não queria sair para lugar nenhum, ele me chamou”, conta.

Leia outras reportagens da série VCA 141, dez anos

Hoje, o jovem sobrevivente mora em Nova Odessa, é casado e tem um filho de 1 ano. Além das lembranças, ficaram também as sequelas do acidente de 2010.

Dependendo do esforço que ele faz, seus dedos travam. Isso, às vezes, afeta seu trabalho. “Tem hora que a gente precisa acelerar e eu não consigo, por causa do movimento dos dedos”, explica.

“Não fiquei em depressão, mas, hoje, não está sendo a mesma vida que a gente vivia antes, porque ela que era a coluna da nossa casa. A coluna foi embora. Então, a casa desabou”.

As vítimas da tragédia

  • Domingos Lustre, 53
  • Juvercino Avanzi, 59
  • Solange Lindaura Moreira e Silva, 37
  • Luzia Pereira da Silva dos Santos, 42
  • Neusa Tavares da Silva, 51
  • Ailena Wolff, 76
  • Benedito Golim, 74
  • Pureza de Jesus Pagani, 72
  • Osvaldo Wolff, 75
  • Maria Rosa da Silva, 76

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